quinta-feira, 28 de abril de 2016

A um passo do inferno.






Eu há mais de um ano e um trimestre previa que a OPEP iria pôr o mundo em deflação e logo à seguir em recessão, quando ninguém fazia ou faz previsões para mais de duas semanas em qualquer área da economia após as duas crises, a de 2002 e a de 2008, muito menos no respeitante a macroeconomia. Porém eu deveria estar meio doido para pôr meu pescoço à prêmio e lá fiz a previsão, e como infelizmente se verifica hoje, eu tinha absoluta razão, e o mundo já está há vários meses agudizando seu processo deflacionário, com taxas de juros negativas sendo operadas pelo mundo fora, apesar da dinheirama que foi injetada nos mercados pelos bancos centrais de quase todo o mundo, não surtindo o efeito desejado.

Toda a vez que eu via que punham a maquineta a rodar, inventando bilhões e bilhões a troco de nada, eu falava de mim para comigo, estão fazendo de tudo para ver se me estragam a previsão... E me consolava a pensar que uma previsão daquela demoraria anos a se concretizar, e que a OPEP, pobre coitada, nada mais fazia que uma reação a uma realidade que a ultrapassa, dando a cara por uma realidade esmagadora, como um reflexo apenas, e que todos, quase em união, iriam lutar contra isso, com os bancos a marcharem à frente, porque eles sabem, melhor do que ninguém, que o contexto de deflação é a destruição de seus lucros, e sua manutenção o horizonte de sua falência.

O que é ainda mais grave nisso tudo é que toda a economia está fragilidade, e a banca especialmente pelo mundo fora, esforçando-se para manter os seus rácios e paridades que da noite para o dia se alteraram de tal modo, que tudo se tornou um castelo de cartas, onde se tem medo de mexer, porque tudo pode ruir inesperadamente. O mundo todo não entrou já em deflação, ainda que várias economias já a tenham experimentado e algumas estejam experimentando, o fato é que as injeções massivas de dinheiro têm segurado o processo. Pergunta-se até quando?

No entanto eu continuo a achar que ainda vai haver extremadas situações de descontrole (como em 1929) por uma combinada manifestação de duas realidades conflituosas:

 1ª - O dinheiro, apesar de tudo que tem sido feito, teima em manter-se como uma commodity, e teima em ser endeusado, e isso é compreensível que aconteça em virtude dos grandes bolsões de miséria ainda existentes, de onde o dinheiro teima em se afastar, garantindo seu endeusamento, esta distorção num mundo globalizado repercute de imediato, gerando essa comoditização (quase inversa) do dinheiro.

2ª - Porque apesar dessa ação de preeminência que atingiu o dinheiro, ele necessita de cumprir uma função econômica para que sua multiplicação absolutamente vital para sua componente financeira, faça sentido. A multiplicação exclusivamente financeira (pode-se portanto dizer artificial e falsa) a que se submeteu o dinheiro, gerou uma desproporção de valores tão aguda, que só grandes economias podem fazer alguma frente, mas ainda está por comprovar se esse processo irá resultar. E é aqui que entra a OPEP, porque a OPEP, assim como o estômago das pessoas não pode esperar muito tempo por alimento. A OPEP em grande parte financia economias que são movidas a investimentos dos resultados do petróleo (suas próprias economias)  por outro lado como expliquei no artigo de um ano e um trimestre atrás,  segue-se o seu link : http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/01/a-opep-vai-por-o-mundo-em-deflacao-e.html,  essa fonte energética fóssil vem sendo substituída progressivamente, e os seus produtores não querendo perder tempo, querem aproveitar para continuar a malhar o ferro, porque sabem que este vai esfriar.

Da ação combinada de interesses tão díspares com o acréscimo da emergência de outros mercados, avassaladores esses, que manterão sua supremacia por séculos (BRIC, a Asia menor e seu entorno, hoje em guerra, mas que passada essa quererá competir por uma fatia preponderante do mercado mundial, e os antigos tigres que pretendem manter os restos de seu império ainda poderoso.) ninguém se engane que a China seja um fenômeno passageiro, por exemplo, a realidade mundial é tão diferente do que sempre foi, e tão pouco ainda compreensível como ela reage e reagirá a essa nova correlação de forças que se criou, que a única brincadeira que não poderia ter sido feita, foi a que os americanos fizeram com o sub-prime saqueando grande parte da banca mundial, que, afetada, não reage adequadamente na defesa dos interesses locais que também representa, e que são e serão os seus clientes de longo prazo. Na situação destorcida que se criou que foi propícia a ação anormal de procurarem alterar as anomalias manifestas, para tanto fazendo as mais incorretas ações, sobretudo a austeridade que re-alimenta estas próprias distorções, agravando-as, e promovendo ainda mais outras distorções, e que vão levar muito tempo para serem superadas, estabelecendo um ciclo vicioso e viciante sem remédio aparente.

Tudo junto temos o caldo de cultura do caos, a sopa dos infernos, que só ainda não baixaram a
à Terra, porque tem havido muita unificação nas ações empreendidas, os adversários de antes têm se revelado os associados de hoje, e tem havido muita prudência porque sabem todos que qualquer imprudência pode se revelar fatal.

Até quando?







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