sexta-feira, 24 de junho de 2016









E a Inglaterra segue sozinha. Orgulhosamente sozinha sob os ecos de seu passado glorioso de Senhora do mundo pós napoleônico que cavalgara a revolução que se disse naturalmente gaulesa, a Inglaterra cavalgara a sua, a sem sangue, a dos lucros, a da indústria, sua indústria, sua revolução.

Hoje faz uma revolução política, que, exatamente, contra todas as expectativas dos que foram acreditando na permanência, falou a Inglaterra profunda, zelosa de seu passado e de suas conveniências, e a Europa não lhe convinha. Apesar de ter sido uma experiência parcial, nunca abdicou da moeda, já durava há mais de quatro décadas, tendo-lhe aberto as portas do mercado comum e dos financiamentos estruturais.

Se a Europa não convém a Inglaterra, não há Europa sem Inglaterra, porque a Inglaterra é o coração de um poder indispensável à Europa, poder a que eu chamo de 'British overseas' que foi historicamente sua força, a grande armada que sempre se impôs com sua presença em todos os mares, isto junto com sua pujante economia, e o jeito britânico de estar no mundo, eram peças indispensáveis da construção europeia. Acabou, e isto é o princípio do fim do sonho europeu. Infelizmente o tinha previsto no artigo http://hdocoutto.blogspot.pt/2016/06/um-sonho-de-uma-noite-de-verao.html que aqui fica o link (uma palavra inglesa) para quem quiser conferir, no artigo explico que esse divórcio acaba com a família europeia, que se desintegrará, pondo fim ao sonho.

Fizeram os ingleses o que os gregos não tiveram a coragem de fazer por mais que desejassem! A família não lhes serve de nada, não que não ajude materialmente, sim, ajuda, mas exatamente como numa família isto não é o bastante. Numa família impera o espírito de pertença, e essa fumaça, esse perfume, imaterial que é, é mais importante que todo o dinheiro do mundo, para que haja uma família o membro dela tem que sentir que pertence à família, não porque está na família, ou porque é de sua vontade fazer parte dela, não, não. . . É necessário sentir-se acarinhado, são necessárias aquelas palavras que se diz a meio tom que dão toda a certeza da pertença, da integração, da união do grupo, a  Europa em seus sessenta anos que completa ano que vem, não aprendeu que o interesse do todo é sempre superior ao individual, essa coisa simples e banal que toda a família pelos mais recônditos recantos do planeta sabe, e que a Europa não aprendeu a praticar, e nunca fez seus membros se sentirem como parte da família, compaixão que negou cruelmente a uma Grécia destroçada por uma crise mundial, e que fez  muitos de seus membros serem cães sem dono, num mundo inóspito e em crise, até que o italiano Dragui usou seu poder, mas era tarde, bem tarde no emocional e no conjuntural, para recolher os cacos de uma Europa partida, de uma Europa individual e individualista. Nunca houve Europa com a Alemanha, essa criação napoleônica contra o sacro-império, quem sabe de história entende a que me refiro, e penso que as provas históricas que deu esse país ao longo de sua curta história como estado-nação são bem mais que eloquentes para demonstrar seu pendor individualista, por isso creio que nunca haverá Europa com a Alemanha, mas a Alemanha é o gigante europeu, seu coração pulsante, sua maior identidade econômica e industrial, um coração de ferro e de aço, onde arde o carvão do Ruhr, onde vibra o gênio germânico de bem fazer, de bem regular as coisas, maravilhosas habilidades imprescindíveis a uma Europa que se queira Europa, e, como sabemos, razão maior de sua construção, chamar o inimigo para com ele pôr fim a todas as guerras. Mas o alemão-germânico sente-se primeiro, sente-se superior, e o é mesmo em larga medida, porém não há família com gente de primeira e gente de segunda, há família, e família é um sonho bom, um sonho de renúncia e resignação, duas palavras confusas em alemão, porque resignação lhes soa como retirada, abandono, derrota, e renúncia que é para os alemães uma perda de direitos e nunca abnegação, pois crêem a abnegação um sacrifício, e o é também, mais se não o entendemos útil, ou de maior monta, para que sacrifício? O admirável espírito alemão tem essa vertente de liderar, 'lead the way' como querem nosso irmão ingleses que agora nos abandonam, e a Europa se esfacela porque a Alemanha, com o peso de seu passado, nunca assumiu o lugar que lhe cabe de cabeça da Europa, para que haja Europa, e que explico as razões porque não o faz no artigo que levou ao Google a bloquear esse blog por uma semana devido a denúncias, mas que pode ainda ser lido nesse blog ou na net, aqui o link para quem quiser lê-lo: http://hdocoutto.blogspot.pt/2013/09/alemanha-infeccao-perdura.html.

Por outro lado o contraponto econômico que a Inglaterra representa dentro da UE termina, permitindo desequilíbrio mais acentuado no projeto chamado Europa dos 28-1=27, porque na Europa ficou evidente a importância do dinheiro, como analisei em (link) http://hdocoutto.blogspot.pt/2014/03/ue-so-o-dinheiro-impoe-se.html, que estabelece a terrível contradita da importância relativa das nações  
(http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/12/a-importancia-relativa-das-nacoes.html) que destrói a convivência e transforma a Europa numa não solução como já dizia em outro artigo (link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/07/europa-uma-nao-solucao.html) que pela culpa de suas atitudes se irá destruir, e não é só culpa da Alemanha, como alertava dizendo que ultrapassaram, no caso da Grécia, todos os limites (link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2015/06/ultrapassaram-todo-e-qualquer-limite-do.html) acresce a isso o interesse americano e chinês da não existência de uma moeda forte que façam concorrência às suas, em breve guardaremos iens, e não dólares ou euros, leiam um artigo do princípio de 2014, onde já alertava para isso, link: http://hdocoutto.blogspot.pt/2014/02/que-se-lixe-ue.html. Agora inicia-se o fim dessa noite de verão.

Quem se der ao trabalho de ler esses meus artigos dos últimos três anos verá que tudo se encaminhava para isto, isso que o BREXIT determina, o fim da Europa, era tão claro como é hoje, e eu não sou nenhum profeta ou iluminado, só sei um pouco de história e não sou estúpido, é de lamentar que estes senhores e senhoras que nos governam tenham uma visão mais limitada que a minha, mas relembrando Churchill, esse farol que iluminou a vitória aliada, que no momento certo soube se colocar contra os que deixavam que Hitler fosse fazendo o que pretendia, e se opôs, e lutou e afirmou posição ("We will never surrender! They will never put their feet in our island.") é os ingleses são decisivos, e agora perdemos os ingleses.





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