terça-feira, 18 de abril de 2017

Com uma cegonha na turbina.









A Companhia das Lezírias que desde que foi privatizada perdeu sua maior parte, área que era destinada ao plantio, e cumpria paralelamente suas funções ecológicas, pois a região é desde tempos imemoriais local de invernação e nidificação de muitas aves, tanto do norte da Europa como africanas, que, na sua maioria, dirigem-se à região para procriar, multiplicando-se ali o número de aves, pois se chegam duas, partirão quatro ou seis, ou mais, sendo portanto naquele ambiente muito particular, beira rio, no estuário do Tejo, estabelecido como zona de proteção especial (ZPE), que transforma-se num grande parque zoológico todas as primaveras com a arribação de inúmeras espécies que ali se congregam em grande número para cumprirem seu ciclo anual, sua proteção estando sujeita a acordos internacionais. Com a diminuição da área das lezírias devida à venda de grande parte destas áreas para finalidades de construção, um grande e antigo crime, os locais de procria e nidificação restringiram-se, havendo grande concentração de animais em área menor.


Montijo na zona de ingerência da ZPE, onde a  avifauna, que não lê mapas, penetra , e vê-se a todo instante grande número de animais por lá a sobrevoarem o aeroporto militar ora existente, que devido aos tipos de aviões que utiliza, não são aviões a jato, e à prudência estabelecida pelos militares em longo convívio com as muitas espécies migratórias e locais que ali vivem em diferentes épocas do ano, não ocorreu um acidente terrível envolvendo aviões e aves. São milhafres, perdizes-do-mar, milharangos e maçaricos, patos de várias espécies, marrecos e marrequinhas, narcejas, muitos tipos de corujas, enormes colhereiros, ibis de diversos tipos, corvos marinhos, gaivotas, gansos bravos, muitas pernas-vermelhas, gigantes flamingos e cegonhas; abibes, alfaiates, tartaranhões de muitos tipos, os passarinhos lá são muitos e de muitas espécies diferentes, pilritos de todos os tipos, as lindas alvéolas-brancas- enlutadas, ou não enlutadas, são tantos pássaros que seria fastidioso enumera-los. E é no meio disso tudo que o governo pretende fazer o novo aeroporto internacional de Lisboa, com imenso tráfico aéreo. Com a instalação ali de um aeroporto comercial, sua utilização irá jogar dezenas,  talvez centenas, de rotas para dentro da ZPE. Isso é insano, é de loucos!

O Estudo de impacto ambiental estimará o constante confronto que se vai estabelecer entre as aeronaves e as aves? Terá em conta o longo voo incerto das cegonhas? As revoadas dos flamingos?  Os bandos de patos rumando sul nas rotas dos aviões? E à noite o voo picado das corujas por toda parte onde houver caça, e nós sabemos que os aeroportos ficam infestados de ratos, quem deterá as corujas de lá irem caça-los? Ou preverá o impacto ambiental de imprevistos que surgirão aos milhares quando se põe um aeroporto dentro de um parque zoológico?

Um aeroporto e suas terras devem estar o mais distante possível de tudo que seja vivo, que se mexa com autonomia, que possa tomar um destino inesperado, criando o perigo imprevisto que gera o acidente fatal. Um aeroporto é uma mini-cidade com características muito especiais, sobretudo agora com o terrorismo, exige medidas de segurança muito rígidas, um aeroporto é uma pequena cidade com suas regras bem definidas, e com perigos múltiplos, uma iluminação diferente, um enorme movimento de gente e cargas, com acessos múltiplos e diversificados, atendendo às exigências aeroportuárias, seus terminais, suas populações especializadas, e com picos imprevistos de ocupação e acessos. Isso tudo junto de uma zona de proteção especial, que como o próprio nome indica, existe para ser protegida, especialmente protegida, não para ser perturbada e conturbada com a imensa pressão ambiental que representa um aeroporto. Só de pensar é de loucos, mas o governo não pensa, parece não ter entendimento. Se tivermos aeroporto no Montijo, verão que os aviões ainda acabam com uma cegonha na turbina.


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