sexta-feira, 21 de abril de 2017

Pós-capitalismo. . .




O The Guardian, essa instituição, muito para além de um jornal, traz-me a crônica intitulada: O fim do capitalismo já começou. Eu gostaria de desdobrar as considerações feitas pelo Sr. Paul Mason, o autor da crônica nas páginas do The Guardian, para que nós possamos discutir não só o tema, mas a indefectível realidade envolvente, que, em sua marcha, lentamente nos encaminha para o futuro, empurrando-nos para a sua nova realidade, estejamos preparados, ou não.

Eu devo de antemão confessar que não estou preparado, e que só estarei preparado se esse Pós-capitalismo quiser referenciar o Bem. Pois que o Capitalismo, que entendo como um mal que nos aprisionou a todos com a Revolução Industrial e seus desdobramentos, prisão absoluta porque abrangendo tudo e todos, apesar de clamorosas resistências, tendo sido a derradeira a albanesa, talvez, fato é que englobou todo o planeta e não há forma de viver que não seja em capitalismo.

Diz o jornal em seu preâmbulo de apresentação, verdade que por insuspeita que seja, está em processo, e nos convida à utopia. Vamos por partes, primeiro dou-lhes a apresentação do The Guardian em seu texto original: "Without us noticing, we are entering the postcapitalist era. At the heart of further change to come is information technology, new ways of working and the sharing economy. The old ways will take a long while to disappear, but it’s time to be utopian "


O qual para falarmos a mesma língua faço a tradução: "Sem que percebamos, estamos entrando na era pós-capitalista. No cerne da mudança futura está a tecnologia da informação, novas formas de trabalhar e partilhar a economia. Os velhos caminhos levam muito tempo para desaparecer, mas é hora de sermos utópicos."

Eu cá por mim sempre fui utópico, um utópico rematado, por exemplo sempre fui contra o capitalismo (Pode-se ser mais utópico nesses tempos que vivemos?). No que poderei ser contra o Pós-Capitalismo, enquanto sempre acreditei ser aquele, o Capitalismo, a quinta essência do mal, e seu reino ditatorial, os mercados, sua mão armada? Que poderei pensar da fase que o ultrapassa, e o faz segundo Mason na intenção de "reformatar o Capitalismo com novos valores e crenças" e "criar algo mais dinâmico do que o que existe"? Ou seja com as novas tecnologias teremos um capitalismo instantâneo, tão instantâneo que deixará de ser Capitalismo pela nova dinâmica alcançada, e assim seria mais justo porque atenderia aos anseios e propostas dos participantes. Eu desconfio!

O Homem sempre quis atender tão somente a interesses egoístas, logo imaginar que um equilíbrio pela manifestação instantânea desses interesses no âmbito do mercado irá criar uma justiça inusitada, pode parecer utópico demais para um seguidor de todas as utopias. Não que me sinta agrilhoado pelas forças da restrição às manifestações do egoísmo que foi o que sempre vimos, e essas forças reguladoras, coactoras, normatizadoras ou policiais, sempre falharam, nunca conseguiram regular ou restringir os mercados, que corroeram e destruíram toda ordem desejada. Talvez esse Pós-Capitalismo de que nos fala Mason seja algo bom, não que se desregule o pouco que tem ordem, não; mas que com a ação imediata do agente no mercado, esse se constitua em algo (um monstro como sempre) contido por suas próprias forças criadoras. É uma utopia, como é óbvio, mas ele nos convida a ela.

"Similia similibus curantur", assim como é do próprio veneno que se faz o antídoto, talvez isso possa resultar, quem sabe? Não que eu fique de coração leve, não fico, mas é fato que o que temos há dois séculos é, por si, a maior desgraça que a humanidade criou, e que sempre se foi agravando com as sucessivas revoluções industriais, e, agora com a quarta, é mesmo a desumanização, e, portanto. permanecer nela não é solução, portanto talvez já seja tempo da redenção.



NB: Seis dias depois o The Guardian repete a publicação da crônica do Sr. Masom. (27/4/2017)

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