terça-feira, 19 de setembro de 2017

A bolha da embaixada do Ecuador. "PRIVAÇÃO É MORTE!"




As embaixadas, como sabemos, são solo estrangeiro nos países onde se encontram, o que equivale a dizer que sendo território do país dono da embaixada, é este país que ali manda, e não o país onde se encontra, são ilhas de excessão pelo mundo fora, que têm dado  muito jeito na defesa da vida de gente que perseguida localmente, tem apoio e respaldo internacional, muitas vezes contra as ditaduras desses países onde se encontravam, por terem se asilado numa embaixada, os permitiu se protegerem e manterem-se vivos mor das vezes.

Sendo o mais comum prestarem proteção a gente de um determinado país perseguida por um regime truculento deste, que conseguindo se abrigar numa embaixada que os acolha, conseguem negociar sua saída para uma nova vida longe do país que os persegue, fora do jugo que os limita, aqui temos uma contradição, uma bolha de excessão na embaixada do Ecuador em Londres, algo tão surrealista que requer uma análise detalhada, e exige que ponhamos os olhos nesse evento desprovidos de qualquer preconceito, imbuídos apenas da vontade de analisar uma situação inaudita.

Há mais de cinco anos Julien Assange, um cidadão australiano, que teve a cidadania sueca, da Suécia onde vivia, encontrando-se em Inglaterra, foi acusado pelo governo dos EEUU, foi preso, perdeu a cidadania sueca para onde tinha sua vida, e se retornasse de sua estada em Inglaterra, corria o risco de ser extraditado para os EEUU, que mantêm com a Suécia amplos acordos de extradição, vendo-se encurralado, consegue, fugindo à polícia metropolitana londrina, esgueirar-se para a sede da embaixada do Ecuador, que lhe dá asilo, e onde se encontra numa 'prisão' posto que a Inglaterra recusa o passo para que ele vá para o Ecuador, tomando um avião em Londres,  criando-se uma bolha muito conveniente às autoridades que o querem ver preso. Vamos á história.

Considerado um alvo a abater nos EEUU, exilado numa embaixada situada em território que lhe é  hostil, o inglês, com o fraco país que lhe dá asilo, o Ecuador, pressionado de todas as maneiras para entrega-lo às autoridades britânicas, que inclusive ameaçaram invadir a embaixada, e que, por decisão já tomada da corte suprema inglesa, prontamente o entregariam à Suécia, que o extraditaria para os EEUU, que o prenderiam e condenariam por espionagem, e onde seria morto, segundo uma crença generalizada, numa prisão americana, esta é, de forma resumida a situação em que se encontra o Sr. Julien Assange, um dos nove membros do conselho executivo de uma associação que fundou, chamada Wikileaks, que com suas habilidades de 'hacker' conseguiu obter milhares de informações secretas que comprometem a ação de vários países dito democráticos, revelando-lhes uma face obscura e comprometedora, que pretendem manter oculta.

Penso que pretendem matá-lo lentamente com o confinamento, o Sr. Assange, pela pouca mobilidade, não pode caminhar, vê pouco o Sol, já vem demonstrando uma serie de doenças neurológicas que se vão agravando sem tratamento adequado, posto que o governo inglês sistematicamente recusa a sua ida a qualquer hospital seja para o que for, não atendendo a nenhuma das solicitações médicas, sendo mantido ilegalmente detido pelas ação combinada das autoridades britânicas e suecas, e o ilegalmente está a negrito porque a afirmação não é minha, é da ONU, que, analisando o caso, assim o declarou, nesta absurda condição o vão mantendo dia após dia, sabe-se lá até quando, ou, como podemos imaginar pelas decisões prolatadas ao mais alto nível pela 'justiça' dos países mais civilizados deste mundo, indeterminadamente.

O curioso nesta bolha que se criou para o Sr. Assange, esse mundo a parte onde o colocaram, na impossibilidade de o prenderem e condenarem, e mesmo o matarem, é que estamos a falar de países com uma tradição de liberdade, de justiça, e de liberalidade democráticas preponderáveis, de povos com altíssimo estado de avanço civilizacional: Suécia, Inglaterra, etc.. os EEUU com uma democracia sólida, dos quais não esperávamos de forma nenhuma que tratassem um ser humano como vem sendo tratado o Sr. Assange, pelo crime de divulgar segredos que assim, como segredo, queriam ser mantidos. Para contrariar este deplorável entendimento cito aqui as palavras de Thomas Jefferson, um dos 'founding fathers' americanos, mentor dos valores essenciais do país que se criava, e dos quais parecem se terem tanto afastado: "É mais seguro manter toda gente respeitavelmente esclarecida que uns quantos em alto estado de consciência e os muitos na ignorância."

Retornei a este assunto que já havia tratado no texto intitulado 54 meses de estupidez, Wikileaks... lembrado pelo The New Yorker no excelente artigo "Privacy and surveillance", de que a situação do Sr. Assange vem se deteriorando, e o faço pelas mesmas razões que denunciei um vizinho que mantinha seu cão confinado a uma varanda, onde o pobre dispunha de poucos metros para se movimentar, e estava se atrofiando vivendo ali naquelas condições. São desumanas as condições em que se mantém o Sr. Assange, e em suas próprias palavras que serviram de subtítulo a este artigo do The New Yorker, quando diz que devemos entender a realidade de que privação é morte, e que, pela ação cominada das nações mais evoluídas do planeta, vai sendo mantido na miserável bolha da embaixada do Ecuador.














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