quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Sesquicentenário de Camilo Pessanha.








Dos  amores de um aristocrata por sua empregada, nascia há 150 anos o poeta Camilo de Almeida Pessanha, recebendo os apelidos do pai que não o renegou, ilegítimo que era, essa figura absurda para designar os filhos não advindos de um casamento formal, no entanto sabemos que todos os filhos são legítimos, e legitimamente nascem de uma união carnal, os múltiplos fatos que levaram a esta união, nada importam, e a criança nada tem a ver com eles para nascer, e não deve ficar estigmatizada.

No tempo de Pessanha, a segunda metade do XIX, esse entendimento era muito mais precário que é hoje, a estupidez humana demora em se aclarar, mas o fato não impediu que se graduasse em Direito por Coimbra, mas talvez tenha sido o moto de sua partida para o ponto mais afastado do Império português então, Macau, onde irá viver a maior parte de sua vida, e onde irá morrer.

Sem maiores pretensões literárias, posto que nunca editou livro, e teria sido esquecido, mesmo tendo sido o representante  maior do simbolismo português, tendo sua obra dispersa por jornais e revista onde contribui publicando seus poemas, até que em 1920 a  feminista republicana Ana de Castro Osório, a criadora da literatura infantil portuguesa, e co-autora da lei do divórcio, reune os poemas dispersos de Camilo Pessanha, e os publica no famoso livro Clepsidra, dando como título o nome desse relógio d'água que por vasos comunicante registrava o tempo, salvando do anonimato o poeta, e preservando sua memória, obra que seu filho João de Castro Osório continuaria.

Lembrança de dois mundos, Camilo Pessanha será recordado tanto na China como em Portugal neste 7 de Setembro; como em seu 'imagismo' terá o poeta como símbolo de uma construção antiga, penetrando as enormes muralhas da China, entre as quais a  mais poderosa é o idioma, mas que edulcorado com o sentimento e a forma de estar chinesas, conformam barreiras quase que intransponíveis, mas que o poeta soube romper, tendo em seu estilo de vida oriental em Macau, atingido um alto grau, morre inclusive do consumo de ópio, seu vício. Camilo Pessanha é uma sensibilidade rara, diferente, especial, que será ainda pouco compreendida, para terminar escolho esse poema seu, um dos muitos do espectro de suas constantes preocupações:

Floriram por Engano as Rosas Bravas

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra' 



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