quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Perdidos sem rumo n'As rotas da escravatura- RTP1.






A RTP produziu conjuntamente com uma produtora francesa, constituindo portanto uma co-produção franco-portuguesa uma série, que, conforme o jornal Público, se constitui de quatro episódios, com muito boa apresentação, intitulada As Rotas da Escravatura (Les Routes d'Esclavage) cujo segundo episódio foi ao ar nessa meia-noite de 21 próximo passado,  e que mete medo acreditar nas informações que presta, nas notícias que dá, na tese que defende. Visto este segundo episódio eivado de erros diz enormidades.

Pela notícia do Público ficamos a saber que a série levou cinco anos a fazer, com a colaboração de 40 especialistas, tendo na produção Daniel Cattier, Juan Gélas e Fanny Glissant,  com a consultoria da Dra. Catherine Coquay-Vidrovitch, professora emérita da Sorbonne, tendo neste episódio a colaboração da Dra. Isabel Castro Henriques da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
do Dr. Izequiel  Batista de Sousa da Universidade de Reunião, da Dra. Filipa Ribeiro da Silva do Instituto Internacional da História Social, tendo já a série DVDs lançados em França, plataforma na internet, e pavor a quem entender um pouquinho de História, porque certamente ficará com medo das enormidades (repito) lá patentes.

O Sr. Prof. Dr. António de Almeida Mendes, professor e pesquisador na Universidade de Nantes, cidade que é capital de departamento em França, nos quer convencer que os portugueses "de arma em punho"foram capturar escravos na costa do Senegal, e que assim começou o tráfico negreiro, o início da escravatura não se passou desta maneira. Porém aqui teríamos uma discussão académica passível de controvérsia, apesar de estar errado o que afirma o Prof. Mendes, menosprezando assim a verdade histórica de que haviam muitos escravos em África, e que os portugueses os compraram, e que irão também, e aí exatamente onde se refere o professor António Mendes, os apanhar nas populações pesqueiras junta a costa. Entretanto esse senhor já havia afirmado que D. Henriques o Navegador, era o príncipe herdeiro de Portugal. Quem afirma tamanha sandice não tem condições para dizer mais nada. Eu poderia continuar dissecando o documentário, mas não é o intuito dessa crônica, que visa tão somente alertar para os perigos da informação. A cultura é para quem a tem, e só deve abrir a boca quem sabe o que vai dizer. Porém esses senhores professores-doutores não estão sozinhos, ao contrário, estão muito bem acompanhados. Minha frequência às Academias tem me obrigado a ouvir cada coisa, que, para não me inimizar com tudo e com todos, aguardo terminar a prelecção, e envolvido numa pergunta polida e educada corrijo o erro do palestrante. Porém sempre toda a tese estará comprometida por iniciar em erros primários. Quem não sabe o básico, que autoridade terá para propor uma tese? Entretanto uma série que vai para o ar com tanta gente responsável, com quarenta consultores, dói.

Vou vos contar só mais uma do mesmo episódio para mostrar que a série não teve revisão digna desse nome. Para não parecer que sou um implicante, não sou. O documentário apresenta mesmo ideias tortas, vamos então ao primeiro comentário da Dra. Isabel Castro Henriques que nos informa que em Lisboa havia uma Mouraria para os mouros, uma Judiaria para os judeus (extraordinário) e "faltava" uma Pretaria par os negros. Devo informar que não faltava coisa alguma! Está registado em muitos documentos a existência de uma pretaria em Lisboa, que é exatamente o bairro do Mocambo a que se refere a ilustre Dra. Isabel Castro Henriques, que esqueceu-se de recorrer a um dicionário para ficar a saber que a palavra mocambo quer exatamente significar local dos escravos negros, portanto, apesar de ter trocado o designativo original, existia uma pretaria, que assim se chamou por bom tempo, e que depois se chamava Mocambo, nome que perdura, e, mais importante, deveria ter referenciado que  este bairro, diferentemente da mouraria e da judiaria, tinha uma população flutuante e muito inconstante, pelo fato de grande parte dos negros estarem afetos ao serviço doméstico, como não  eram livres, passando grande parte, ou a totalidade de suas vidas nas casas de seus senhores. E por aí vai! É assim que se destrói uma série que, a ser credível, discutiria assunto de especial relevância, sobre o qual falta muita luz. 


** No episódio de 29/1 a tradução (?) confunde engenho com refinaria. Ao que se referem são engenhos, que fabricam o açúcar, a refinaria só vem muito depois, quando o açúcar vai tornar-se branco.



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