segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

PERFUME FASCISTA.





Sentimos um cheiro diferente no ar. Na repetição dos ciclos das tendências que ocorrem alternadamente, percebemos que chegou a má hora da orientação se extremar à direita por toda parte, mostrando com maior ou menor clareza a que vem. Várias são as orientações de plantão, travestidas de partidos.  Revelando logo suas intenções, assumindo pronto suas posições, ou só as insinuando, na maioria das vezes com os inocentes úteis a lhes servirem de vanguarda, de força expedicionária para abrir caminhos a instalação dessas situações que a pouco e pouco se vão revelando. Percebe-se um odor nazi a levantar-se, porque essas ideias que existem sempre por aí guardadas, escusaram de se manifestar por bom tempo, intimidadas pelo horror em que redundaram quando tiveram o poder de serem postas em prática.

Como sempre vicejaram ocultas, nas sombras, esperando um momento de insatisfação mais forte para se proporem como solução, levando suas maldosas propostas a estimular o lado negro do ser humano com um manifesto astucioso, e uma falsa imagem de solução abrangente, trazendo essa propensão humana transposta em força política, convocando os sentimentos mais egoístas, mais discriminatórios e mais tendenciosos que existem em todos nós, que só a filosofia, a fé, a solidariedade fraterna, e a manifestação do divino podem coibir, e que agora se levantam porque a política deu espaço as agruras provocadas pela incoercibilidade da voracidade econômica, que nesse princípio de milênio se manifestou em duas crises sucessivas (sub-prime e dívidas soberanas) ferindo milhares de milhões pelo mundo fora, e oprimindo muitos milhões excluídos ou excluindo-os, roubando-lhes a moradia, o emprego, a saúde e o direito a ela, a educação, ao descanso ou férias, empurrando outros tantos milhões para  a miséria, ou para uma franja miserável muito próxima dela, os deslocalizando, os fazendo emigrar, revelando, mostrando, trazendo para o dia-a-dia a instabilidade a que estamos sujeitos, evidenciando o que a ganância de alguns pode ocasionar, sem que haja nenhuma defesa, nenhuma ordem, nenhuma política, nenhuma justiça digna desse nome que nos proteja, portanto tendo a política falhado em toda a sua extensão e razão de existência, fragilizando a democracia, e nem depois de verem os resultados catastróficos, tiveram a coragem de impor as leis que pudessem defender o cidadão comum da  sanha voraz, devoradora e sem rosto a que chamamos mercado, NÃO HAVENDO UM POLÍTICO QUE TENHA TIDO O BOM SENSO DE REGULAR OS MERCADOS EM SEU PAÍS, ainda que muitos prometessem o fazer.

Nessa situação abriu-se espaço para que as falsas soluções políticas se extremassem, que mentiras passassem a ser tidas como verdades, que diversos elementos fossem apontados como alvos a abater >> os imigrantes e refugiados, como sendo os responsáveis pelo desemprego e pela corrupção social  >> os empresários como fonte dos baixos salários, da má distribuição da riqueza e perversão social  >> até os próprios políticos moderados, fossem culpados pela ineficiência do Estado e miséria social que se manifestou depois da crise por seus efeitos de escassez de recursos que pudesse atender a demanda crescente. Com isso as ditas ideologias extremas voltaram a se apresentar como solução. Mas não são ideologias, pois não têm cabeça, tronco e membros, são ideias avulsas, que juntas colam bem, e dão o falso aspecto de um corpo ordenado, ideológico, de soluções para os problemas das sociedades modernas.  pois com a evolução social em todos os tempos surgem problemas novos que devem ser combatidos e solucionados prontamente, exigindo políticas e políticos eficientes. Políticos que imponham lei e normas regulatórias, que não deixem os mercados à solta. Quando estes falham (na crise e no pós crise de 2008 falharam fragorosamente) abrem espaço a todo tipo de populismos. É o que se passa hoje, por isso esse forte odor  autoritário por toda parte, onde soluções de força são propostas como o bom caminho, onde a exclusão é feita como algo positivo, onde as armas e o uso indiscriminado delas volta a ser proposto, onde a homossexualidade volta a ser encarada como doença, onde ações culturais são proibidas por serem incômodas ao denunciarem ações do regime, onde uns quantos são apontados no corpo da sociedade, com a conivência ou o silêncio da maioria que acabará também por ser apontada, numa sucessão de culpas que nada resolvem, mas criam bodes, vítimas, para expiar os problemas que nos afetam a todos.

A culpa é toda da má prática da política democrática pró-cidadã, que deveria visar proteger aos mais fracos, não conseguindo realizar seus objetivos abre espaços a propostas pseudo-políticas, ou antidemocráticas, que trazem o autoritarismo, a voga da ditadura, a ousadia de incriminar inocentes para dar azo às mais odiosas sensibilidades, aos mais execráveis sentimentos, trazendo tudo isso de novo ao cenário da prática política, e exalando esse forte odor nazista, esse perfume fascista que inebria os mau formados, envolve os menos avisados, concita multidões, vale-se de inumeráveis inocentes úteis, fascinados com a expectativa de uma solução aos problemas emergentes, aos quais a política como se conseguiu estabelecer democraticamente não atende prontamente, ou com a presteza desejada, convocando soluções de outras pseudo-políticas autoritárias, que vêm oferecer outros caminhos tortuosos como solução, caminhos que já foram ilusoriamente trilhados no passado, mas que são e serão sempre contraponto ao longo e lento caminho da democracia.

E felizmente há reação.

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