quinta-feira, 7 de março de 2019

1.698.488,2%





Esse número de um milhão, seiscentos e noventa e oito mil etcetera por cento, significa que cada milhão e setecentos mil bolívares em janeiro do ano passado passou a valer um, um único bolívar, em dezembro, no final do ano passado, 2018, e hoje ainda vale menos, ou seja, não vale nada.

A inflação desmesurada da Venezuela, este número absurdo, que é o título dessa crônica,  que é quase inacreditável, se não tivesse sido experimentado e medido em país tão rico, é o desequilíbrio em si, por um lado, e a loucura do Sr. Maduro por outro. E ele dança. Será porque? Uma inflação dessa é uma perversão, faz nada valer nada, faz tudo perder significado, tudo virá fumaça. Faz com que as pessoas não acreditem em nada, nada de nada, os valores estão todos subvertidos. Os alimentos, a água do banho, as roupas, os calçados, os corpos das pessoas, são símbolos de um vazio imensurável, uma subversão que não pode haver maior. Tudo se esfumando, porque nada mantêm-se com tal desvalorização em movimento. Perderam-se as referências, a ideia das coisas e dos valores perdeu-se. Estar vivo ainda um outro dia é já um milagre.

NÃO PODE HAVER GOVERNO DIGNO DESSE NOME, OU DESSE ENTENDIMENTO.
                                               NESSAS CONDIÇÕES TUDO É NADA! 

E as condições econômicas desvirtuaram tudo o que se possa entender como administração ou governação na Venezuela, onde tudo o mais se tornou fantasia. É tanto fantasia toda e qualquer coisa que evoque o Sr. Maduro, que dance, que esbraveje, que prometa, que agrida, ou que vocifere, por um lado, como toda e qualquer oposição que se lhe façam não é em si mesma uma oposição, porque está tudo infectado, só a profunda estupidez e presunção do grupo do Sr. Maduro não lhes permite que vejam que não há mais nada a fazer, que não é Guaidó, não são os EUA, ou a pressão internacional que são seus inimigos, ou que todo o apoio militar de Cuba, da Rússia, da China, de quem seja, os possa salvar, não, não os irá salvar.

Venezuela tem de zerar o cronômetro e começar de novo. Primeiro lambendo as feridas, depois saneando o terreno, para então pensar reconstruir. E, aí nesse ponto do saneamento, terá muito que fazer, porque a corrupção, os interesses instalados, os envolvimentos mais comprometedores das elites, com a droga, com o tráfico, com toda uma estrutura do Estado voltada só para atender a esses interesses ilícitos, é uma imundície monumental que tudo infecta, e para limpá-la tem-se de por abaixo todo o edifício infectado, pra poder começar novamente. É terrível o estado de coisas na Venezuela. E no Brasil se passa coisa muito semelhante, só - o que talvez ainda seja pior - que sob a capa da democracia, que, para derrubar a teia intrincada da corrupção brasileira, torna tudo ainda mais difícil, porque as mentiras têm de ser reveladas, os enganadores têm de ser desmascarados, os grupos de interesse expostos, os partidos desmantelados, as grandes empresas esventradas para se extrair os órgãos podres. Muita gente terá de ser presa, é uma perspectiva terrível. Na Venezuela não, tudo já caiu de podre, basta limpar, a sujeira já está exposta, a desgraça já deu cabo da mentira, não há mais mentira, há mentirosos, há, mas perderam todo o efeito que possam suscitar para além do que cria naqueles que lhes são associados ou beneficiários, nada do que digam terá mais nenhuma consequência, só sua saída é esperada, transformaram-se em sujeiras na paisagem a esperar limpeza, a inelutável limpeza que virá. Por milhões de razões que refletem esse ignominioso número da percentagem que dá título a essa crônica, sendo assim, nada mais há que perda de tempo no caminho inescusável que vai percorrer Venezuela.











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