terça-feira, 4 de junho de 2019

Três décadas de esquecimento da Paz Celestial?






O grande gigante adormecido, que faz todas as suas flexões muito lentamente, sem nenhuma pressa, envolta em seu espírito multi-milenar de tranquilidade e paciência, como é universalmente reconhecido, e que recentemente tem como reflexo desta sabedoria de seu povo, sua sociedade que soube evoluir de um regime absolutamente opressor, para um capitalismo prevenido, nunca esquecendo que a base organizacional do país e do poder é o partido comunista, apesar de restar pouco de seu comunismo económico atualmente, porém guarda incólume, está lá,  todo o político- partidário, que é bem tragado pela população à conta de seu sucesso económico na modalidade semi-capitalista que adotaram, que lhes trouxe imensa riqueza.

E nesse espreguiçar de uma manhã em que se despertava, veio a flexão da vanguarda, como em todo mundo composta da juventude mais letrada, e entendeu que era tempo de liberdade, já que as portas se abriam no horizonte do modelo das relações económico-sociais, acreditou que essas deveriam refletir-se nas político-jurídicas, e, obviamente, nas liberdades gerais.

O poder não pensava assim, massacrou os manifestantes, reprimiu, asfixiou, e esmagou o movimento que surgia, e se insurgia na visão do poder do PC. Nunca mais uma linha em chinês sobre o assunto foi escrita em qualquer jornal, nunca mais ninguém pensou em qualquer tipo de manifestação, criaram o esquecimento, se é que o que se passou poderia ser esquecido.

Hoje, volvida uma geração, trinta anos do episódio, Tiananmen, a praça marcada com sangue, será uma memória esquecida, estão em crer os detentores do poder na China. A força dos tanques contra civis indefesos, é uma imagem forte para a lembrança de todos, deixando claro que a China não poderia mudar. Mas deveria, digo eu. E queria, o ocorrido o comprova. Ansiava mesmo, e a força, talvez mais poderosa, da indômita vontade heróica manifesta naquele dia, um quatro de Maio, como hoje, nunca mais deixará de marcar o compasso da História. (Leia Tiananmen's day, aqui no blog)

As gerações que sucederem guardarão sua memória. Na China a tradição oral, uma antiguidade muito forte e poderosa, fará seu trabalho, e Tiananmen manterá sua chama acesa. Até quando? Perguntarão os mais aflitos. E a resposta está na sabedoria chinesa, sua multi-milenar forma de ação, que orienta os governos e os dirigentes do PCC, com sua prudência, que na China têm o tempo por aliado, e que é sua meta. Essa não só toca aos governantes não. Essa mesma sabedoria é sobretudo do povo, que sabe que virá o momento propício que permitirá que Tiananmen se erga, não das cinzas, que essas não houveram, mas do sangue derramado em seu chão. Erguer-se-á para dizer que o tempo de liberdade chegou definitivamente, e que por mais tanques que se movam, a vontade do povo será só uma, e a vontade unida do povo, como sabemos, tudo pode.

E o movimento em Hong Kong segue imparável, há um mês.

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