quinta-feira, 25 de março de 2021

(A beleza da dúvida -1) - O duvidar.

 


No início tudo era duvida, e, evidentemente, havia duvidar de e em tudo. Hoje, num mundo cheio de certezas, muitas delas nem sempre as mais proficientes, duvidar é um ofício necessário, questionar, lançar indagações sobre a aparente realidade, e suas múltiplas facetas desvendadas, que fazem aparecer muitas outras ignotas, incógnitas, ignoradas. Na medida em que todas as certeza provêm de dúvidas anteriores, que sucessivamente se apresentaram, algumas mesmo para confrontar o que pode parecer lógico, como fez Copérnico com o geocentrismo, essa peta que nos prega o Universo, com o Sol a cada dia desfilando a nosso redor, fazendo-nos ver que tudo gira o redor da Terra, a maldição do Padre Nicolau, que cem anos depois tornou-se num inferno para Galileu, por ver que era assim como Copérnico havia dito, contradizendo aos ptolomaicos e à Igreja. Ao concordar com Copérnico, e com a verdade, devemos dizer, Galileu quebrava a ordem do universo, alterava a posição central do homem com o seu planeta, centro do Universo, que hoje sabemos ser um grão de areia no infinito estelar, descoberta cuja viagem começa com o Telescópio. É pois a tecnologia que ultrapassa fronteiras, para o infinitamente grande e longe da busca de Galileu, ou para o infinitamente pequeno pela porta que abriu van Leeuwenhoeck.   

Entretanto questionar, que muitas vezes além de perigoso e incómodo, ocasiona uma verdadeira guerra, porque cria uma onda de posição imensa ao que está estabelecido, é sempre luminoso e revelador, porque mesmo que não encontre a resposta ao que indaga, abre sempre uma fenda enorme no edifício das coisas estabelecidas (na ciência, na tecnologia, na filosofia, etcetera) trazendo o novo, com um insólito argumentário que abre possibilidades e probabilidades deveras reveladoras.

Após tanto tempo da Humanidade conviver com certezas que sanaram dúvidas com as quais nos era doloroso viver, tornou-se quase uma segunda natureza humana questionar tudo e todas as "verdades" estabelecidas, criando veredas na busca do conhecimento a que chamamos ciência, filosofia, arte, etcetera, e aos homens a elas dedicados, cientistas, filósofos, e artistas, respectivamente. Deste paradigma ontológico institucionalizaram-se os processos de busca do conhecimento, como não poderia deixar de ser, uma vez que era imprescindível formar um corpo de saber para se dar mais um passo, para se poder ir mais além.  

Assim segue a Humanidade neste infindável duvidar, trazendo luz as muitos arcanos com os quais convivemos desde sempre, revelando muita coisa para logo encontrar muitos mais mistérios.

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