sábado, 13 de março de 2021

(A beleza da dúvida 4) - O infinito sentimental.

 

Sentir e pensar, não se consegue controlar, não é assim? Entretanto o mundo está repleto de sentimentos, a própria natureza é criação sentimental. E em nós, ainda que nos voltemos muito atentamente para nosso mundo interior, não conseguiremos desvendar todos os sentimentos que lá existem e se manifestam a seu turno, uns ligeiramente, outros enraizados, pois que toda introspecção não será capaz de expor a complexidade do infinito sentimental que nos habita.

Surgindo do nada (será mesmo do nada que surgem?), motivados certamente por um acontecimento, contingente, ocasional e incerto, os sentimentos são a resposta emocional a tudo que se nos apresenta a realidade, com a qual somos confrontados nas múltiplas situações a cada momento. Certamente haverá uma infinidade de sentimentos breves, ligeiros, bem como outras emoções que não têm nome, mas que fazem parte da lista imaterial de sensações a que estamos sujeitos, e que devem se manifestar como resposta a uma situação determinada, e que, numa escala, bem como numa sucessão determinada, manifestam-se, e são mesmo expectáveis, e se faltarem como resposta, esta não estará correta. e mesmo o entendimento ou a percepção do acontecimento, estará mal, talvez incompleto, talvez inadequado. [Porque os sentimentos são veículos da compreensão.]

Em sua ação cotidiana os sentimentos desplotam, destraçam, destrancam inquietações antigas e reações padrão, quimicamente estabelecidas em nosso soma, multi-milenares respostas efectivas a cada situação. Respostas padrão que a experiência ancestral provou como as melhores, as mais válidas, muitas delas se tornando sentimentos, ou sendo entendidas como tal. A mais compreensível destas respostas é a da adrenalina, a do medo, do susto, do pavor.    

Compulsivamente fomos ligados a estas respostas químicas inexoráveis, posto que há muitos mecanismos que as deflagram e que estruturados nos diferentes cérebros, têm suas origens remotas no reptiliano, fazendo parte de nossa mais antiga história genética, vale dizer que os sentimentos estão em nós, nascemos com eles, vivemos com eles, e não os modificamos. 

A expressividade manifesta no universo artístico (na oralidade, na escrita, e nas artes plásticas) é bem reveladora deste infinito sentimental, que real ou fictício congrega uma gama tão vasta da sensibilidade que sua manifestação é infinita, ainda que não nos demos conta que toda nossa expressividade é sentimental, desde a que resulta de olharmos de certo modo, ali está um sentimento, e este difere totalmente quando, ao mesmo acontecimento, nossa forma de olhar é outra. No universo sentimental nossa manifestação de dúvida é inguinal, uterina, profunda dentro de nosso ser, que se faz sentir muito interiormente, sabe-se lá onde, sabe-se lá como, sendo causa e efeito de reações múltiplas, ditas angustiosas, ou de expiação, ou êxtase. Entretanto nós rapidamente esquecemos nossas manifestações sentimentais, a pintura, a escultura, e a palavra escrita não. 




















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