segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O invisível poder do impossível.

Está sob consulta no Portal Participa, com a fantástica adesão de pouco mais de duas dezenas de cidadãos, a CONSULTA sobre o Armazém para resíduos de material nuclear ativo, de altíssima periculosidade, originados na Central Nuclear de Almaraz, do outro lado da fronteira, ao abrigo de uma convenção entre Portugal e Espanha, sob o título de NOVO ARMAZÉM TEMPORÁRIO, o que não revela o cerne da questão: Depositar em Portugal o lixo nuclear Espanhol, que na consulta designam por CI, RAA e RE. A cidadania, que não olha para estas coisas, e que se esquece muitas vezes de perguntar o óbvio: 'Armazém para armazenar o que?', deixa passar tantas vezes coisas absurdas sem/com o escrutínio popular mister, prescrito em Lei, pela simples razão de apenas duas dezenas de pessoas olharem para o assunto, que uma vez aprovado poluirá uma porção do território nacional português, que sabemos não ser assim tão grande, por milhares de anos, corroborados por uma consulta pública que o justifica (pré-requisito mister). É incrível, mas nem a imprensa, nem as entidades de caráter popular que olham, ou deviam olhar, para essas coisas, nem o Governo da República, que devería dar publicidade à consulta para que os cidadãos votassem, tomam atenção a uma matéria que irá comprometer o território nacional por milênios, que as gerações vindouras verão diminuído, e imprestável na área atingida pelo "NOVO ARMAZÉM TEMPORÁRIO", TEMPORÁRIO para o tempo de armazenamento, mas milenar para os efeitos da radiação que permanecerão. A CONSULTA ESTÁ ABERTA DESDE PRIMEIRO DE AGOSTO, MAS EU SÓ FUI DELA AVISADO PELO PORTAL A 18 OU 19, SENDO QUE A CONSULTA TERMINA A 12 DO MÊS QUE VEM, SETEMBRO DE 2024. Penso que o sistema de consulta assegura uma mui minoritária participação, e que deveria ser alterado. Como ninguém se interessa por isso, vai seguindo lampeiramente sua forma modelar de consultar/sem consultar, porque o número de indivíduos envolvidos na consulta é de tal sorte pequeno, que é como se não tivesse havido consulta alguma. INVISÍVEL PODER DO IMPOSSÍVEL. Eu, que não sou ninguém, nem português sou, tenho feito minha parte desde há muitos anos participando nas miuitas consultas do Portal, muitas delas inofensivas, ou que podem facilmente ver seu efeito retirado pelo desmonte das instalações, o que não me causou maiores preocupações, nem me instigou o dever de denunciar, MAS UM ARMAZÉM DE RESÍDUOS ATÔMICOS, QUE PERDURARÁ POR MUITAS GERAÇÕES FUTURAS, POR MILÊNIOS, me obriga a pegar da pena para denunciar uma dessas muitas coisas que são feitas na surdina, sem a devida publicidade para julgamento dos cidadãos.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

A pegar fogo.

Estamos a caminho de um ponto de ruptura definitivo, aquele do qual não há mais volta. Quem ainda não se deu conta é porque é cego, ou porque não quer ver. Olha que há muitos! Todo o planeta está comprometido, como iremos ver em detalhes. E a inação geral está acelerando o processo (Ver o artigo: 'Causa e efeito.' por exemplo.) Se os últimos eventos não foram suficientes para começarmos a agir na intensidade mister, como mostraram não ter sido, nem serem, a evidência de que não se pode esperar mais um minuto, e uma vez que não têm um plano de ação global, que é o único que nos poderá salvar, posto que nenhum país ou continente pode fazer nada sozinho, situação que vem comprovando a falta de noção da dimensão do problema. Ficamos a esperar que aconteça conosco alguma desgraça, ou que alguém que amamos morra, para irmos tomar as atitudes necessárias, até quando? É absoluta falta de previsão e atitude. Situação que também já foi vista em detalhes em textos anteriores, como por exemplo em : 'Eles estão a matar-nos'. Como nada foi feito além de medidas esparsas e isoladas, muitos mais irão morrer por causa disso, e por toda parte, como veremos. Ficarão listados aqui os indicativos dos pontos mais afetados pela insania geral, como um mapa planetário da nossa inconsequência. Sob o título 'Antes do que pensava', há dois anos, em Março, fiz o seguinte comentário, que não publicaram: Com não posso comentar nem meus próprios artigos, escrevo isso aqui, na esperança que não seja censurado. Há só quatro meses, em 8 de Julho 2022, pp, escrevi o artigo intitulado 'O homem não sabe parar', onde afirmava que muitas outras doenças epidêmicas ou pandêmicas viriam a se manifestar, em face da violenta pressão que o homem exerce sobre o meio ambiente. Não demorou nada, e está aí a 'varíola dos macacos' a me dar razão. Mas é só o começo. O Inferno virá atrás de nós por termos lhe batido à porta. Ou como quer o Secretário geral da ONU: "Estamos a caminho do inferno, e ainda aceleramos." Nunca pensei ter razão tão cedo, mas repito: É APENAS O COMEÇO. Hoje o título deste comentário seria 'Muito antes do que pensava'. Mas basta ver os noticiários para termos perfeita noção da catástrofe ambiental que provocamos, e que já está instalada. Ela não está batendo às nossas portas, ela está já dentro de nossas casas. Como não em todas ao mesmo tempo, pensamos ainda podermos consertar o estrago, não podemos. É inevitável. O único que podemos é trabalhar para que a catástrofe dure o menos tempo possível, mas é necessário ter olhos de ver. MAS NINGUÉM AINDA VIU ISSO. => SÓ OS CIENTISTAS. Leiam o tal artigo 'O homem não sabe parar'. Este 'homem' são sobretudo os políticos e industriais que não se deram perfeita conta do problema em que estão metidos. Faltou a consciência de que o que vemos hoje em nosso planeta é resultado de milhões de anos de enterramento e mutações. Temos enterrados bem lá no fundo coisas/eventos/ experiências do passado feitas pela Natureza, que não foram as melhores, mas que nos fizeram evoluir/mudar, até estabilizarmos no que somos hoje, e o que vemos/víamos hoje é/era o resultado destas inumações e mudanças. Agora que desenterramos, vamos voltar no tempo, e lidar com coisas muito perigosas. O petroleo é todo um passado enterrado que desenterramos, trazendo o Carbono em excesso de volta, e com ele o calor, que pôs o mundo a pegar fogo novamente. SERÁ QUE NÃO VIRAM QUE TÊM DE PARAR DE QUEIMAR PETRÓLEO? Não importa o quanto isso custe, a opção de não o fazer é muitíssimo pior. Vamos olhar então para o problema, para seus pontos quentes, ou seja, onde o aumento da temperatura na superfície do mar é maior atualmente. Comecemos de cima para baixo, o que equivale a dizer de Norte para Sul. Temos portanto as franjas do Círculo Polár Ártico (66º 33')todas comprometidas, criando emorme degelo na calota polar, e consequente aumento do nível dos Oceanos, bem como o aumento das temperaturas em todo lado, porque a ação polar sobre as correntes marinhas, esfriando os oceanos, está diminuindo drasticamente, gerando el Niños por toda parte. Logo a seguir notamos que a costa atlântica do Canadá tem agora temperaturas muito altas e no outro lado, no Pacífico ocidental, na altura do mar de Okhotsk, e pelas ilhas Curilhas, que são milhares de ilhas, com muitas dezenas delas vulcânicas, estendendo-se até Hokaido, há uma grande alteração na temperatura do mar. E na ligação com o Ártico, entre o Alasca e a Sibéria, no mar de Behring, há grande concentração de calor à superfície do Oceano Pacífico, criando extensa zona de perigosa alteração ambiental. Já no Ártico, entre a Rússia e a Noruega, vamos ter a mesma alteração muito alta das temperaturas superficiais, como no mar de Barentsz, sendo que neste mar, por ser bastante raso, tem sua camada aquífera toda aquecida, e não só a superfície. Já ao lado, mais ao norte da Sibéria, no mar de Kara, separado, pelo estreito de mesmo nome, do mar de Barentsz, vamos encontrar em ambos as mesmas anomalias, também o mesmo se passando do outro lado do continente, com o problema indo ter ao golfo do Alaska, envolvendo as Aleutas, seguindo para o outro lado, sempre pela costa do Pacífico no Canadá, onde sabemos ter também a costa atlântica comprometida. Formando aí dois cinturões de calor muito perigosos. Ainda no Ártico vamos encontrar tanto o mar de Chukchi, como o de Beaufort, com altas temperaturas que se espalham tanto aí pelo Ártico, como também do outro lado, no Pacífico, em especial junto à costa, por toda a da América do Norte, a famosa Costa Oeste americana, continuando para Sul até o Chile, com a só interrupção no entorno da costa central da Califórnia (Big Sur) até o Yucatan, estando já todo o resto muito comprometido. Se passando o mesmo no centro do Pacífico, sem a ação dos Alísios, evitando a Ressurgência, fonte de equilíbrio para as populações marinhas, e de aves, com o afloramento das águas frias que trazem com elas nutrientes. Sem esse fenômeno muito em breve teremos uma grande mortandade neste Oceano. O Atlântico Sul que ainda é o mais preservado dos oceanos, tendo apenas ao Sul dos dois continentes que o delimitam, pontos quentes, desde a altura do Sul do Brasil, seguindo sempre a Sul, pelo Uruguai e Argentina de um lado e do outro desde a Cidade do Cabo entrando pelo Índico até Durban, e um pouco mais acima por vários pontos em Madagascar, com forte influência climática em Moçambique. Já o Atlântico Norte está todo comprometido, sempre com mais pontos quentes, quanto mais nos dirijamos para Norte. O Mediterrâneo está todo dominado pelos pontos quentes, com terríveis consequências se manifestando já por todo seu entorno, e com temperaturas a subir. O Índico também está ainda pouco afetado por enquanto, para além do que já descrevemos na costa do sul da África, com só alguns pontos quentes, mas não com temperaturas tão altas, franja que segue até a Austrália, para os lados dos mares do Círclo polar Antártico. Passando-se o mesmo na Austrália, onde só em poucos pontos do Queensland se verificam anomalias mais intensas, isto já do outro lado, na costa do Pacífico deste país da Oceania, no lado do Índico não há pontos quentes na costa australiana. Mas isso não quer significar que as alterações que ocorrem em outros locais distantes não venham a afetar muitas zonas bem distantes deles, já afetando a Austrália. Está assim neste estado, como descrevemos, a superfície oceânica do planeta hoje, com as alterações nestes pontos quentes, que ultrapassam aumentos já de nove a dez graus Fahrenheit, com tendência a subir, e subindo, com as evidentes consequências por todo o globo, e que só irão piorar, porque o problema está sendo tratado desplicentemente, sem o empenho que uma crise deste tamanho requer. Todos os desastres climáticos que estamos vendo por toda parte, tufões, ciclones, furacões, secas, tempestades, dilúvios, etcetera, são consequências diretas da subida de temperatura nas superfícies dos oceanos. E vão piorar muito, com resultados muito perigosos para as populações, uma vez que poderão resultar em fome e guerras, pela água e pelos grãos. Muitas cidades, vilas e cultivos vão ter de mudar de lugar, porque onde estão passou a ser perigoso e inadequado para as suas atividades e moradia. Nós alertamos de uma maneira suave mas holística há décadas, quando dizíamos que o bater d'asas de uma borboleta num hemisfério podia causar tempestades noutro. E agora elas estão aí.
Numa rápida passada d'olhos vemos

sexta-feira, 10 de maio de 2024

"DIGITUS IMPUDICUS".

Esta designação surge na Epigrammata - Marcial séc I d.C - mas crê-se que venha do séc V a. C, quando os gregos se ofendiam com o gesto Expressão macaca, simiesca, do mesmo estilo da que fazem os macacos pregos valendo-se de seus próprios pênis para demonstrar menosprezo. Este gesto também sói representar o próprio pênis. Linguagem clara e inequívoca de desprezo. Há sempre uma demarcação confrontacional em se pôr o dedo ao outro. Há uma raiva guardada, um menosprezo latente, um desafio, uma humilhação pretendida, uma agressividade desperta, quando fazemos o gesto. Ainda que não tenhamos perfeita consciência da linguagem oculta em nossos corpos, o estudo desta linguagem evoluiu e codificou todas as posturas, gestos, reações, e atitudes que experimentamos nas diversas situações em que podemos nos encontrar. Ainda que a fala e a postura, uma impostura muitas vezes, busque esconder, ou vá no sentido de protagonizar a suposta verdade formulada, a linguagem corporal juntamente com certos gestos, e formas de dizer, bem como sonoridades particulares, e/ou as escolhas feitas para articular uma contestação ao que o corpo está dizendo. No entanto temos que o corpo não mente, porque sua formulação é assimétrica, essa tentativa de simetria, de correspondência da formulação com a mentira imposta, que o corpo desmente porque seu diálogo é autônomo em virtude da correlação não correlata por parte dos nucleos cerebrais autônomos, impondo que o corpo diga outra coisa, muitas vezes diferente da história que esteja sendo contada verbalmente à conta da dissociação dos dois hemisférios cerebrais (Ver Assimetria Assintótica IV.). Quanto ao dedo, sua legitimação é inequívoca, ainda que tudo o justifique, nada o torna razoável, porque apesar de ser resposta, é confrontação ao mesmo tempo, exacerbando ânimos, apesar de estar tão normalizado em nossos dias, não deixa de ser gestualidade ofensiva e reles, portanto agressiva. O gesto do dedo médio é de toda sorte uma mascarada, porque sendo uma não resposta ao que quer que o tenha motivado, esse gesto é uma hipocrisia, tendo em vista que antes de mais é um despiste, uma charada, linguagem obscura que afasta e refuta sem mais explicação qualquer passo seguinte que pudesse ser articulado. Será referenciado muitas vezes, no Suda, a enciclopédia bizantiba, nos Adagia, a compilação de Erasmus, no Satyricon, que acreditamos ser de Petronius, e em Juvenal, Aulus Persius, Marcial, como referi, o bispo Isidoro de Sevilha, em todos sempre com similar interpretação, mas com diferentes usos, pretenções e intenções diversas. Em outras partes do mundo é o fazer figa o gesto ofensivo, e há outras preferências gestuais, algumas preferindo os braços, a do manguito ou de dar banana, no entanto o gesto do dedo do meio vem se generalizando, espalhando-se por todos os países do mundo, ainda que possa em alguns ter conotação mais ligeira como "só em seus sonhos" ou "desavergonhada", contudo seu intúito mais usual é o de mandar o outro fazer a ação que para os homens é anal e homosexual. Desrespeito, zombaria, infâmia, e obscenidade. A insultuosidade do gesto, 'katapygon' não impedirá Diógenes de Sinope de o evocar na sua comédia 'As núvens', com seu outro significado métrico, mas não nos esqueçamos que Diógenes era um 'cínico' e dirigindo o gesto a Demóstenes, não se equivoca na sua significação, mais tarde Epitecto em seus "Discursos" interpreta o gesto de Diógenes como dirigido a qualquer um dos sofistas. Nenhuma de suas outras conotações lhe restringirá a intenção infame. Repetido pelos séculos fora, insinuando que o dedo se deva introduzir no ânus, muitas vezes sendo feito com o acréscimo da saliva para mais significar a intenção, generalizou-se com uma conotação mais branda, mas sempre ofensiva, pretendendo sempre a repulsão a quem se o dirija. Ainda que... Significando um ataque a quem é direcionado, que ficará desarvorado e baterá em retirada, ou ficará quedo, o gesto multi-milenar sempre que empregado tem efeito desconcertante, sendo o eleito pelas mulheres para demonstrar seu desinteresse num homem que as admire, ou se insinue, é sempre ação repulsiva a quem se dirije, e repele qualquer um quando direcionado para além das palavras. Com tudo isso não alcança justificar nada, nem propor o que seja, só destrói qualquer hipótese de diálogo, de aproximação ou harmonia entre os polos de execução e recepção da gestualidade do dedo impúdico. Ilustração: escultura de David Cerny.

Nós só pensamos com as palavras- III da Assimetria Assintótica.

Gostam muito de estabelecer a dicotomia: emoção/razão. É um grande equívoco. Razão e emoção não se opõem, se integram. Estabeleceu-se esta oposição devido a ideia que o emocional incapacita-nos para decidir. Ao contrário, a emoção estabelece conteúdos mentais que desencadeiam reações que se irão traduzir em compreeensão, inteligência do que se passa, logo, razão. O engano deve-se a crença de que não devemos estar sujeitos a influências do emocional para podermos ter coerência. Todas as funções funcionam autonomamente, e se integram no todo do pensamento. A lógica como maneira de raciocinar é, e será sempre, emocional, uma vez que o caminho das impressões seguem circuito emocional, como ficou claro no segundo artigo desta série, o anterior a esse, sobretudo devido a supremacia do entendimento emocional. Mesmo porque não existe entendimento fora do emocional, fora das emoções. Unidade de significação. As palavras codificam o entendimento, sintetizam pedaços lógicos do saber, tornando desnecessárias explicações para quem conhece a palavra. Eu digo água e você sente o potencial de ter sua sede saciada. Esse o fabuloso poder da palavra, a palavra é como uma sinapse que se estabeleça, mas que tem o dom de transmitir a informação, e não só memorizá-la. O processo é bi-unúvoco: O todo se encontra nas partes, e as partes dissolvem-se no todo. Como pensamos. Não existe pensamento sem a impressão exterior, se não a que o provoque de momento, a que formulou a sinapse que determina a memória que irá conformar o pensamento e que ficou registrada; ainda que esta se atualize, a origem da formulação será sempre exterior. Não há pensamento dentro da cabeça que não venha de fora, para dizermos isso de uma maneira bem simples.(1) Pensamos com as palavras. As palavras são atalhos, resumos, sínteses de ideias mais extensas, conclusões estabelecidas, sinapses extra-cerebrais autônomas, que trazem significado, significação e significância do que dizem. Portanto trazem consigo uma interpretação, uma escolha, uma preferência de entendimento; uma força expressiva particular, com um valor de sentido (2), uma acepção. Como ideia é um significante, que evolui em ter um significado, passando a ser uma palavra, uma síntese de ideias. Socialmente. Como diria o professor Heri Laborit: "Nous ne sommes pas plus rien que les autres." - os mamíferos têm o comportamento aprendido - e para o convívio é necessário um entendimento comum, e o primeiro entendimento é vernacular: são as palavras! Individualmente. Somos o resultado daquilo que recebemos. As informações, que traduzem os sentimentos, e mais que sua percepção seu entendimento, viajam com e como palavras. As palavras. Por isso com elas pensamos, com elas nos comunicamos, com elas sentimos, com elas expressamos o que é de nós e o que é em nós, na acepção comum. E é assim que todos os anos homenageamos no tempo do Verão mo hemisfério norte, e no de inverno, no sul; a dois grandes romanos, e mais uns quantos deuses da mitologia em outros meses (3), uma vez que trazemos nas palavras sempre um significado que se esconde por conta de sua orígem, uma vez que está tudo encadeado neste mundo, assim como milhares de outras palavras têm em si outras razões, outras histórias, outras orígens que as formaram. Assim são o que foram e não devemos nunca esquecer que é com as palavras que realizamos a maravilha da comunicação, e o sonho do entendimento, esse que se realiza na cabeça quando pensamos. (1) Desconsideremos a metafísica e as alucinações. (2) E sentido é sentir. Sentir o que? As emoções. (3) Julho de Júlio César, Agosto de Augustos, Janeiro de Janus, Março de Marte, etc...

segunda-feira, 22 de abril de 2024

NÓS SOMOS TERRA.

Nós somos terra. O pó ao qual voltaremos A água em que é o planeta O que alimenta a terra Esta Terra em que vivemos Absolutamente nada no Universo Terra que te quero água Terra que te quero terra Terra que é tudo Terra que é nada Parte de nós enquanto vida Somos parte tua enquanto morte Pertence-me inteira e desmedida Compromisso de toda vida e melhor sorte.

UNE SEM PRÉDIO - a caminho dos 50 anos - percuciência e destino.

UNE SEM PRÉDIO – a caminho dos 50 anos – percuciência e destino. Helder Paraná Do Coutto | Abril 7, 2024 Predio da UNE hoje. Salvador – Bahia – 30/5/1979: 31º Congresso Nacional da UNE. Foi aí a refundação da União Nacional dos Estudantes do Brasil – UNE – portanto era normal falarmos no Congresso, de que o prédio da Praia do Flamengo deveria ser retomado. Esta conversa, simples e ocasional, repercutiu fortemente nos estamentos do poder em Brasília. E, com medo do símbolo que o prédio representava, contrataram logo uma empresa de demolição para que pusesse abaixo o que restava da sede da União no Rio de Janeiro, o antigo Clube Germânia, confiscado na 2ª Guerra Mundial, após sua ocupação pelos estudantes em 1942, tendo sido entregue por Vargas à UNE, formada poucos anos antes, para ser sua sede. Rio de Janeiro – fins de 1979. Tentando evitar a demolição eminente, eu, o autor deste texto, tenho a ideia de que a Justiça poderia interferir, embargando a demolição. Movimento os alunos da Uni-Rio, que tiveram no prédio a sua escola. Transformamos a Casa do Estudante em Botafogo em Quartel General da resistência, e onde todos nos reuníamos para decidir das ações. Encontro no advogado Matta Machado o bravo que aceita patrocinar a causa. A ação é contra a União, e sorteada no âmbito das Varas Federais do Rio de Janeiro, cai na 3ª Vara Federal 2, cujo Juiz era o Dr. Carlos David dos Santos Aarão Reis, outro que põe sua vida em risco em meio a essa tragédia que foi a Ação Popular que encabecei na Justiça para paralisar a demolição do prédio. Os dados estavam lançados. (*) Rio e Brasília – 10/6/1980. Após meses de luta Judiciária, com grande movimentação popular e imprensa todo dia, o movimento que criei acabou por levar ao Juiz Aarão Reis, de arma em punho, a ir à demolição que prosseguia contra a suspensão que decretara, dando ordem de prisão aos 13 funcionários da empresa de demolição, vi então que era necessário introduzir a componente política, e para tal era necessária uma ida a Brasília. Forneceu o bilhete o deputado companheiro da Branca Moreira Alves, que não me lembro o nome. Chegado ao DF a 9, tinha agenda cheia para o 10. Todos sabiam em Brasília que o autor da ação contra a derrubada do prédio viera pedir ajuda. E enquanto a UNE em peso, os estudantes cariocas, e não só, sofriam os horrores da água de comichão, do gaz lacrimogênio, e da porrada da polícia na manifestação do flamengo, uns 100.000, com agressões e prisões. Em Brasília eu tive desmarcada quase todas as audiências. Por fim fui informado que o Dr. Ulisses Guimarães queria falar comigo. Fui ao gabinete da presidência do MDB, me informaram que o Dr. Ulisses estava no seu carro me esperando. Fui levado ao carro que estava na praça dos 3 poderes, foi posto logo em marcha começando um passeio pelas quadras de Brasília. Então o Dr. Ulisses me disse que era escusado eu pedir ajuda, porque o prédio tinha de ir ao chão. Porque? Era a ordem do Golbery. Não haveria abertura com o prédio de pé. Era um preço a pagar. O processo que lá estava em andamento, com enorme expectativa dos políticos, começara com o novo ditador que tinha cara para as mudanças: o General João Baptista de Oliveira Figueiredo, ex-chefe do SNI, que já promulgara, logo no começo de seu período, a Lei 6683, de 28/8/1979, que dava anistia geral – lei contra a qual eu era – e sou – uma Renovação da farsa da legalidade. – Eu disse ao dr. Ulisses que entendia que minha luta ia ser inglória, mas que eu ia até o final. Assim também fez o Juiz da causa. A resposta da ditadura foi pronta, reuniu numa noite pela madrugada dentro, os ministros do Superior Tribunal de Justiça para caçarem as decisões e extinguir a ação, e o castigo ao Dr. Aarão Reis, foi pô-lo em disponibilidade proporcional remunerada, o que, como juiz muito novo então, com o que passou a receber não dava para pagar suas contas. A falsa abertura. Sabedores os militares que viria uma terrível crise financeira internacional, entendiam que esta combinada com a ditadura era uma matéria muito explosiva, e que era melhor afrouxar para evitar a convulsão. E assim foi. Como era este o único intento da abertura, todo o processo de repressão, raptos, tortura, assassinatos, e intimidação montado era para manter, e assim foi. E, como antes, como se havia passado com o deputado Engenheiro Rubens Paiva, 22/1/1971, com a Zuzu Angel, 4/4/1976, para citar apenas dois exemplos, tudo ia continuar como dantes, que não duvidassem. Assim foi com a carta-bomba enviada ao presidente da OAB, dr. Seabra Fagundes, que explodiu nas mãos de sua secretária, D. Lyda Monteiro, 27/8/1980, matando-a. Ou como a bomba do Riocentro, 1/5/1981. Bombas em bancas de jornal, para intimidar e coibir a venda dos alternativos, o que foi conseguido. E neste 1980 houve dezenas de bombas, duas especialmente foram explodidas na sede do Jornal onde eu era diretor, uma mesmo embaixo da minha mesa de trabalho no Hora do Povo. O processo de abertura programado pela ditadura, especialmente coordenado pelo gal. Golbery, deveria ser lento e gradual. Teríamos ainda o homem do PDS, já no PMDB, presidente por mais cinco anos, um civil, é verdade, mas que civil mais reaça. A história continua – o 132 da Praia do Flamengo é apenas um terreno já há 20 anos, mas tem dono. 1996- Terreno devolvido, mas com um estacionamento lá dentro. FHC. 2000- Tentativa de retomada administrativa do terreno. Pres. da UNE: Wadson Ribeiro. 2001- 2º projeto Niemeyer apresentado na 2ª Bienal da UNE. (**) 2007- Tomada na marra do terreno pelos estudantes – posse efetiva. Pres. da UNE: Gustavo Pitta. Depois de 11 anos de luta na Justiça o terreno continuava na mão do estacionamento. 3º Projeto Niemeyer. 2008- É atribuída pelo Presidente Lula verba de 30 milhões para a construção do prédio – Lei 3931/08. Fui contra, preferia que o governo contratasse a obra. 2010- Lançamento da pedra fundamental com a presença de Niemeyer e Lula. Pres. da UNE: Augusto Chagas. 2012- Início das obras. 2016- O prédio devia estar acabado com 13 andares. 2024- Lá está o esqueleto se degradando com apenas seis. “Casa dos sonhos invencíveis.” Passado quase meio século, o prédio da UNE não existe, existe um esqueleto. O Golbery, já falecido na época dos últimos acontecimentos que ocorreram na história do prédio (morreu em 1987) ainda deve estar a rir-se hoje lá do inferno onde habita, pois grande conhecedor da alma brasileira e dotado de um fino humor, antevia que, uma vez derrubado, a reconstrução iria enfrentar inúmeros percalços, porque a índole brasileira não é de atingir resultados como meta. Por isso só permitia a abertura política com o prédio no chão. Foi assim com a situação dos desaparecidos, que nunca foi explicada, foi assim com os que a justiça excluiu, e com os administrativamente excluídos pela ditadura, todos mantidos no limbo, o conveniente limbo de existirem, mas permanecerem punidos sem terem regularizada sua situação. Assim é com o prédio, permanece punido sem ver regularizada sua situação. Golbery vence. (*) Coincidentemente Advogado e Juiz com familiares presos, torturados e assassinados pela Ditadura Militar. (**) O primeiro projeto de Niemeyer era de depois da demolição, eu tinha falado com ele, levado pela Ana Maria, e vira na oportunidade o 1º projeto que se perdeu. Em 2001 foi feito um segundo, o apresentado em maquete da 2ª Bienal da UNE. Em 2007 Niemeyer faz um 3º projeto para o prédio. Créditos das fotos: Lúcia Helena Velloso dos Reis e UNE.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Inesquecível e Imperdoável - Unforgettable and Unforgivable,

No dia da mentira.

Dia em que a mentira foi tanta, que inclusive mudaram o dia do golpe. O golpe militar contra a democracia e o governo progressista do Brasil dado em 1964, se deu no dia 1º de Abril, com o conluio das altas patentes, valendo-se das estruturas militares brasileiras, lideradas pelo exército, que dispõe das tropas necessárias para impor um regime ditatorial.

D I T A D U R A.

Tomado o controle do país, instala-se uma ditadura militar que promove valores, posições institucionais e de pessoas, que consolidaram as ideias fascistas que norteavam muitos movimentos que se difundiram pelo Brasil, e que são as raízes e geratrizes de todo esse processo que perdura até hoje. Foram 21 anos de perseguição, tortura, mortes, censura, extermínios e implantação de ideias e 'ideais que favoreciam e favorecem grupos que se beneficiam economicamente das riquezas do país, desde os tostões dos bons salários, até aos bilhões de empresas como a Petrobrás ou as dos minérios e das terras onde se desenvolve o agro-negócio, griladas em grande parte.

Para impor as injustiças, as benesses e as perversões, buscaram apoio exterior, entregando as riquezas do país em grandes negócios e vendas de matérias primas, 'comodities' em vez de venderem produtos industrializados, hematita, magnetita, bauxita, que estão nas mãos dos interesses estrangeiros que controlam os negócios das 'comodities'. Façam uma pesquisa rápida e vejam na mão de quem estão os negócios dos minérios brasileiros, em vez de haverem mais CVRDs, Companhia Do Vale do Rio Doce.

A resistência esteve sempre ativa. Para impedir sua ação, quase cinco anos depois lançaram um após outro atos coercitivos, o ato institucional (atenção ao nome) de número 5 (fins de 68) foi o mais restritivo das 17 medidas lançadas para dar foros de legalidade às suas ações anti-democráticas. Não podemos esquecer o que foi feito e continua sendo feito (Atenção!!!) como uma jogada internacional, não esqueçam a refinaria que Bolsonaro vendeu recentemente ao desbarato, uma vez que o GOLPE DE 64 tem sua gênese e gestação voltadas para atender aos interesses estrangeiros.

T O R T U R A.

Do outro lado da História houve gente que pondo suas próprias vidas na balança, resistiu. Combateram, se opuseram a esse processo de entrega das riquezas da nação, e lutando de todas as maneiras possíveis para evitar o descalabro, e levantar as massas, uma vez que o mais poderoso elemento a dar um basta e a estabelecer bloqueio às ações danosas é a OPINIÃO PÚBLICA, essa que demora muito a reagir, mas que acaba por ser despertada. Para bloquear toda a ação de resistência, prendiam e torturavam aos que ousavam se manifestar, ou trabalhar contra as ações de disporem das nossas riquezas contrariamente aos interesses do Brasil e lutar pela liberdade. Pau-de-arara, afogamentos, porrada, privação do sono, enfiar fósforos debaixo da unhas e acendê-los, etc… etc.. eram as especialidades destas criaturas que se dispuseram a amedrontar, torturando aos infelizes que caiam em suas mãos. De um e de outro lado da trincheira estava gente que podemos sintetizar em dois nomes: Dilma Rousseff e Brilhante Ustra, a torturada e o torturador. A História que prossegue traz luz aos interesses de uma e de outro. Não é preciso dizer mais.

A vontade e o agrupamento dessa gente continua.

Em 1982 eu estava em cima de um caminhão na Baixada fluminense na campanha do Brizola, quando vejo que minha presença incomodava um grupo de pessoas que estava junto as caixas de som, presas a um poste - não revelarei nomes. Mais tarde vim a saber que eram os matadores que não conseguiram cumprir o contrato de me eliminarem. E foi por puro acaso. Como tinha escapado por pouco a duas bombas, havia logo depois desaparecido, o que não lhes permitiu terminar o contrato. Às bombas também foi por pura sorte: A primeira foi no show a que me levaram para falar sobre a Ação Popular que eu estava fazendo contra a derrubada do Prédio da UNE (União Nacional dos Estudantes). Estava em palco, e logo após a apresentação do Chico Buarque, eu falei; e como morava em Niterói fui logo embora, não vendo o resto do show. Da Barra da Tijuca até Icaraí de ônibus e barca, leva tempo. Só soube no dia seguinte que tinham explodido uma bomba no Riocentro. A outra foi pouco depois, na sede do HORA DO POVO, jornal onde era diretor, e puseram uma bomba debaixo da minha secretária. No dia anterior a explosão da bomba, que matou muitos companheiros meus de redação, uma gatinha em que andava de olho há muito tempo, deu sinal verde, resolveu jantar comigo, e ficamos até altas horas da noite. Acordei muito tarde, e não fui para a redação como fazia todos os dias. Salvei-me da segunda bomba e não quiz experimentar a hipótese de uma terceira.

Senti na própria pele todo esse processo da Ditadura Militar no Brasil. E bem sei que nunca se dispersaram. Passaram a atender a outros interesses, como milícias e assassinatos a soldo. E no primeiro momento que puderam atuar, o fizeram, e andam por aí fermentando mais outras coisas. Por isso fui contra a Anistia, queria pagar pelo que dizem ter sido nossos crimes, e ver também na cadeia os outros, que sob o abrigo das estruturas do Estado, prendiam, raptavam, torturavam e matavam.

Como sabemos isso não acabou. E temos que lembrar de tudo, para que nunca esqueçamos, e que esta memória seja o alerta mister para que a História não se repita. DITADURA NUNCA MAIS.