Existem seis ou sete museus da mulher no mundo, existiram oito(*). A incerteza reside no fato do The California Museum for History, Women and the Arts profile, não ser especializado no asssunto, ser mais abrangente, e, por isto, sua inclusão suscitar dúvidas. E seriam oito até que o mais ambicioso e maior deles, The Women's Museum de Dallas, fechou no último dia de outubro de 2011 por falta de fundos. Esta idéia recente(**) e californiana assim como o monoquini e e sandália de dedo, irá lentamente contar, por toda parte, a história de sua exclusão, mais que tudo.
A mulher não deveria ser, evidentemente, um tema de interesse museológico, só o é por sua tradicional exclusão, e , consequentemente, ser uma história de humilhação, sofrimento e dor, por todo o mundo, sem exceção.Em todos os países e em todos os tempos as mulheres foram excluidas e humilhadas, em maior ou menor medida. Por isto há datas determinantes da história da emancipação feminina, lembremos algumas, verão que são todas recentes, antes a mulher não discutia e nem podia discutir sua condição : A.D.: 1401- Cristine de Pizan em França critica a depreciação da condição da mulher, só mais de dois séculos e meio depois vai haver outra discussão de gênero, em 1688, com Aphra Behn, a primeira escritora profissional Inglêsa, no seu Oroonoko, curiosamente ambas se lançaram no mundo literário por terem sido deixadas insolventes pela morte de seus maridos. Em 1694 Mary Astell volta ao tema com o seu A serious proposal to the ladies for the advancement for their true and greatest interest. Do mesmo círculo era Lady Mary Wortley Montagu que também escreveu suas cartas ,1733, nos versos ao imitador de Horácio. Depois temos em 1792 outra Inglesa, Mary Wollstonecraft , que faz a primeira defesa dos Direitos da mulher. No Brasil temos em 1832, Nísia Floresta com o seu Direito da mulher e da justiça dos homens. Em oito de março de 1857 em Nova York teremos o brutal assassinato de 129 operárias queimadas vivas na sequência de sua reinvidicação por licensa maternidade e pela diminuição da jornada de trabalho de 14 para dez horas diárias, este 8/3, se tornou o dia internacional da mulher. Só em 1873 vamos ter uma americana sufragista : Matilda Joslyn Gage, mas não será neste século, o XIX, que uma mulher poderá votar neste país ou no mundo, honrosa exceção feita à Nova Zelândia o único país em que uma mulher podia votar no XIX. A lei é de 1893 e exercem o Direito em 1899.
Só no século XX as mulheres conquistam este Direito fundamental(***)sendo uma vergonha as datas que em cada país as mulheres conquistaram este Direito. Porém para um ser que só teve o Direito a ter alma reconhecido em 1870, nada assusta. Este opróbio é particular da Igreja Católica que só em 1870, repito, reconheceu que as mulheres e os negros tinham alma. Que mais se pode dizer? Antes vigiam idéias tais como as difundidas pelo grande matemático Pitágoras : " Existe um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher." ou as de São Cristovão : "Entre todos os animais selvagens, não há nenhum mais daninho do que a mulher." ou as de Santo Agostinho : " A mulher é uma besta insegura e instável.", torno a perguntar : Que mais se pode dizer?
Entretanto no mundo do hijab (código de vestimenta do Islão.) que gerou exclusões tão fortes como a burca afegã e paquistanesa, que não era nada disto originalmente, sendo a burga ( é com g mesmo) como eles falam no Dubaiy, só uma pequenina máscara que recobre o contorno dos olhos e o nariz, cuja origem está no viver no deserto. E assim o chador (persa) que quer dizer originalmente tenda, outra proteção, ou o nicabe árabe. Sendo o significado do próprio hijab apenas véu, o véu que separa o homem de Deus; prescrevendo o Corão, assim como o Hadith e o Samah, apenas que o homem e a mulher se vistam e comportem modestamente. Nada mais desejável ! Tudo o mais é opressão masculina e desvirtuação da palavra. E esta opressão levou à exclusão da mulher, como em todo o mundo.
O grande problema está em excluir um ser com quem temos intimidade, inclusive física, e a queremos bonitas, enfeitadas, pelo menos para nós. Cobertas de jóias: colares, brincos, pulseiras e anéis, até nos dedos dos pés. Esta ambiguidade que se vai tornando cada vez mais difícil manter--Como excluir com quem temos que conviver?-- E lentamente têm conquistado este seu espaço, por ocupá-lo e por Direito, milenar luta feminina! (****)
Por fim neste mundo onde as diferenças são mais demarcadas, o mundo que chamei genericamente do Hijab, vem soferndo recentemente imensas mudanças pela expressão do valor cultural, e logicamente social, da mulher. Cultas, preparadas, vão ocupando seu lugar na sociedade e disolvendo as exclusões. É uma longa caminhada ainda, mas a recente inauguração de um museu a elas dedicado num dos sete Emirados, prova que algo está a mudar.
A casa das meninas, assim se chama o museu, na tradição das escolas corâmicas do Dubaiy, onde nesta esquina das crianças, Fátima Bint al Zeina costumava ensinar na sua casa no Souk do Ouro em Deira, até o final dos anos sessenta. Ficou a tradição e a força de um local de emancipação, hoje lá funciona o museu das mulheres do Dubaiy, o primeiro do mundo Islâmico, e por enquanto o único. Lá se emancipou a fundadora do museu, Profª. Drª. Rafia Ghusash, considerada a 36ª na lista das 100 mulheres árabes mais poderosas e influentes, sem ser millionária ou Sheika, mas conquistou seu lugar por seu saber em medicina, e sua especialização em psiquiatria, mas sobretudo por sua vontade em se fazer ouvir.
Contando as histórias que pôde recolher, de mulheres que foram ocupando os espaços que se lhe permitiram, sem revoltas e sem denúncias, o museu existe. E neste seu existir uma semente, como a dizer aqui estamos para o futuro, aqui estamos na casa das meninas, aqui estamos porque existimos muito para além da vontade de quem quer que seja. Só Deus nos poderá julgar ou excluir, e como não é esta a Sua vontade, havemos de existir na plenitude, como seres inteligentes, plenos de Direito e com alma, que somos!
* I- O Women's museum of California em San Diego. II- O KWINDEMUSEET em Aarhus, na Dinamarca. III- O IMOW- International Museum Of Woman em San Francisco. IV- O Museu da Mulher do Vietnã em Hanoi. V- O National Women's History Museum em Washington D.C. VI- The Women's Museum em Dallas. VII- The California Museum for History, Women and the Arts profile em Sacramento. VIII- Women's Museum- Bait al Banaat no Dubaiy.
** São suas datas na ordem :1983,1984,1985,1996,1996,1996,1998 e 2012.
***1906- Finlândia. 1918- Alemanha. 919- Suécia. 1920- Estados Unidos. 1932- Brasil. 1940- Canadá. 1951- Argentina. 1971- Suiça. 1980-Iraque. 1994- África do Sul.
**** Note-se que não há um museu do homem, ou um dia internacional do homem.
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