De espraiar-se.
E ao lado da cidade lento corre,
e a cidade doida de gente que chama gente,
gente que vive, gente que morre
e de gente que vive doída e não chama ninguém,
o Tejo de mil preceitos.
Da janela a rapariga vê o Tejo,
que se alisa em suave beijo
contra o velho cais
e que placidamente cuida das gentes,
as leva e traz.
No tempo da memória a deslizar,
onde o Tejo se faz mar,
espraiado da Caparica ao Estoril,
que demarcado pela luz de Abril,
quer alongar-se noite dentro ,
promovendo a enorme tarde lisboeta
tão boa para passear,
tarde que não mais acaba,
onde o Tejo é mar.
Mil coisas a passar, veículos a passar,
barcos a passar,
seguem rumo incerto,
irão longe? Irão perto ?
Porque devem partir ?
Porque não podem ficar?
O certo é que se vão.
E voltarão pr’onde o Tejo é mar.
Tudo isto é um convite
que alguém aceitou um dia
e dizendo que voltaria
fez-se ao mar,
ao mar profundo,
ao mar longíncuo, ao mar ignoto
e fez-se o mundo,
sempre, por o navegar.
Mas sempre voltam,
mas voltam sempre
pr’onde o Tejo é mar.
E chegado a este ponto,
depois de muito pervagar,
já não vejo o que vejo,
sem saber se o Tejo é mar,
sem saber se o mar é Tejo.
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