sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A maravilhosa nuvem em que me encontro.






Todos os ídolos, deuses, Reis, túmulos e templos erguidos na mais sólida pedra, todos os monumentos do mais duradouro material, desaparecerão junto com o planeta no 'dooming day', o dia do fim, que não foi o 21 de Dezembro de 2012, como se viu, mas, como estamos em rota de colisão, será um dia daqui a milhares ou milhões de anos. Todos os arquivos, museus, coleções e acervos deixarão de existir, restará a nuvem.

Hoje a cada segundo tiram-se sei lá quantas fotografias de tudo e de todos, com ou sem autorização dos visados, e enviam-nas para a nuvem, e 'if a picture paints a thousand words', como diriam os bread, temos um registro mil vezes ampliado da história à partir de quando esta situação se tornou possível, e depois se generalizou, e depois se tornou viral, com quase todas as fotos indo parar à nuvem, e todos os textos produzidos em todos os idiomas, sobre todos os assuntos, numa infinidade de blogs, comentários e correspondência. Estamos construindo, sem nos darmos conta, o mais amplo registro histórico do planeta. Virtual, porque assim está sendo formado, o que quer dizer imaterial e eterno. Hoje quando procuramos ansiosos uma carta o séc XIX, ou mesmo do XX, para confirmar uma perspectiva histórica, uma notícia de jornal que mostre o contraditório de certa opinião histórica vigente, com grande dificuldade, porque muitos dos materiais estão perdidos, muitos não estão acessíveis, ou estão em locais longíncuos, na nuvem temos tudo, e vamos tendo o passado mais remoto também, escaneado para ela a pouco e pouco. Esta fabulosa construção será o maior legado de nossa época! Vai ser muito fácil ser historiador no XXII.

No dia do fim dos tempos em que o planeta Terra deixará de existir, dia que demorará mais, ou demorará menos a chegar, consoantes algumas variantes, espero que esta maravilhosa nuvem não esteja sujeita à existência física do planeta, e se mantenha para memória desta civilização da qual fiz parte, e que, apesar de suas muitas misérias, insanias e loucuras, foi e é uma fantástica civilização, por tudo que conquistou: desde o vatapá à Teoria da relatividade restrita, desde as sonatas de Mozart ao forró de Olinda, e pelas maravilhas do planeta desde a selva amazônica ao Kalahari, desde a fossa abissal aos cumes do Everest, a beleza desde planeta está em todo o lugar e no rosto de cada um de nós. Ter podido percebê-la, desfrutá-la, vivê-la, tem sido para mim a maior graça da minha vida, este enorme privilégio.

Tudo o que cada um de nós escreve na net, tudo o que se fotografa, desde o mais banal ao mais importante, é um registro de uma perspectiva, mais relevante ou mais ligeira, tudo somado é o que nós somos, é a nossa face, a verdadeira face de nosso tempo, como nunca, em tempo algum antes do nosso, esteve registrada e disponível para consulta, dando pela primeira vez na história a fotografia de corpo inteiro da realidade, pois nela se inclui os anônimos, os invisíveis, que agora passam a fazer parte da história, passam a contar como nunca contaram, passam a ter uma perspectiva apreciável e considerada, que antes não tinham, apesar de sua existência contar na história, não estava registrada, não era visível, ou só muito superficialmente. Agora não, agora está tudo, ou quase. Desde as mais importantes descobertas científicas, ao meu humilde blog, inclusive discutindo esta perspectiva insanável e que deve ser considerada, tudo está na nuvem, esta maravilhosa nuvem em que me encontro, em que nos encontramos.


Sem comentários:

Enviar um comentário