sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Onde é que não há culpas nem culpados?





Conforme eu previra no artigo intitulado No máximo do cinismo, a dívida pública portuguêsa ia atingir os 134%, e acreditava que esta barbaridade fosse acontecer em Setembro de 2014, porém deu-se no final de Junho, ou seja coroou o fim do primeiro semestre com esta estratosférica marca. Afirmava então, e reafirmo, que a realimentação imparável da dívida se iria acentuando lentamente. Em outro artigo ( Dívida impagável) explicava o processo. E já em outro (A crise financeira e não só.) dava conta do que move tudo isto. Agora vou afirmar que esta dívida vai ultrapassar os 150% do PIB, o que significará convulsões sociais e desgoverno, com uma impotência manifesta de quem quer que seja que ocupe o cargo de Primeiro Ministro em Portugal.

Fui atravessado pela realidade, quando preparava um artigo que se chamará: A realimentação natural das dívidas, onde procuro dar conta que nada as fará parar, após um certo patamar, tornando inviável qualquer medida de contenção, quaisquer cortes, quaisquer medidas de austeridade, e que só um desenvolvimento progressivo da atividade econômica, sem mais sobressaltos das misérias financeiras privadas e púbicas, poderá dar horizonte, poderá por limites à expansão continuada da dívida soberana e a tornar controlável. Tudo o mais é falacia. E pelo caminho que Portugal persegue, em breve, muito em breve, vai estar implorando por um 'hair-cut', e, com isto, terá atingido o fundo do poço. Por enquanto segue no poço sem fundo em que se atirou, eu diria, de cabeça.

134% no final de um semestre até contido, sem as grandes e péssimas novidades que o segundo já revelam antes do fim de seu segundo mês ( BES, PT, GES ao retalho, e o desiquilíbrio da balança de pagamentos etc,,,) é a perspectiva mais sombria que pode-se ter notícia no atual contexto, em que a Europa não sabe decidir como estabiizar o Euro, dando um equilíbrio às disparidades da União, que ocorrem por ter dentro de si velocidades diversas, fruto de economias de pujanças muito diferentes. (Pode ser que o Euro se torne uma prisão?) E teremos senhores do Norte e escravos do Sul?

Independentemente das causas, o crescimento da dívida é imparável, mas a mentira propalada da fórmula encontrada, receita antiga do FMI, empregada em países em desenvovimento com moeda própria, totalmente indequada para uma parte de uma União riquíssima e próspera, que precisa antes se adequar aos meandros e desequilíbrios do espaço onde se movimenta, e devera sobretudo ser tratada como aquilo que é, parte de uma União monetária, e ter o tratamento num modelo interno (sugiro o termo 'unicional' para o classificar.) sem FMI, ou seja sem tratamento de país. Aliás os países da União ou deveriam ter retirado seu dinheiro do FMI e passado para um fundo da União, ou tê-lo reconstituído como um fundo único no FMI, pertencente a União como um todo. Esta dupla condição de país e Estado de uma União, além do mais consentida e estimulada pela União e seus órgãos econômicos e administrativos, é uma forte fonte de distorções e desalinhamentos a nível estrutural da União. A inconveniência de uma situação imperfeita e dúbia para os países, é também uma situação falsa no sentido de não expressar aquilo que é, com os países ainda atuando como aquilo que foram, vem demonstrando sua plena má configuração, e vem se traduzindo numa burrice. E, diferentemente do que possam pensar os artífices desta peculiar situação, supondo os principais beneficiários que só pagam os devedores e os fracos dentro de uma União forte, enganam-se, antes que se dêem conta verão os prejuízos à porta, mesmo sem envolvimento de seus bancos, como aliás, tanto se esforçaram para deixar de ter, pagarão por outras vias e fecharão temporariamente, por mais longo ou mais curto período de tempo, não importa, uma parte de seu comércio, uma parte do escoamento de seus produtos, e foi para este comércio sem custos alfandegários que foi feita a União. Quanto mais tempo permitirem este modêlo, mais prejuízos terão, e menos União terão. Mais cego é aquele que não quer ver.

Por outro lado de difícil compreensão, apesar de absolutamente consciente do excedente de capital existente e de como se movimenta a ganância humana, é, para mim, a situação dos mercados não se darem conta de que estão cada vez mais se chafurdando no pântano, posto que a dívida portuguêsa é impagável. Os mercados fazem de conta que está e estará tudo sob contrôle, e que o esforço dos portugueses permitirá, no fim de tudo, que cumpram seus compromissos, o que é a maior ilusão em que se lançaram, fazendo crer, não sei se crendo, mas fazendo crer que a situação com a interfereência e o acompanhamento dos organismos internacionais e intraunioniais (outro neologismo necessário) está estável, não vendo, ou não querendo ver, a progressão de uma dívida que não conseguirá ser paga nem com todo o prazo que se lhe possa dar, à conta da perspectiva de sua autoalimentação, por ter ultrapassado o patamar de viabilidade operacional, ou seja o ponto além do qual uma determinada dívida não para de crescer para um determinado tamanho de uma economia ( este tamanho se traduz nos números do PIB) autoalimentando-se incoercivelmente.

É para propormos, com tudo isto, três interrogações fundamentais. 1- Até quando manterão esta mentira? 2- O que farão na sequência de saberem da inviabilidade de continarem a receber os juros? 3- Que responsabilidades se apurarão deste exercício suicida? Penso que o lado mais trágico da economia real, é que para além de toda previsão e apesar de toda a possibilidade de previsão, as soluções só são encontradas depois das bombas rebentarem, e nunca há culpados na regulação porque o sistema é assim. Por isto está combinado: Na próxima encarnação vou vir banqueiro ou regulador!



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