sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Adorável Dra. Ana Gomes.





Há pessoas que devem ser glosadas como um texto, pela leitura de sua forma de ser e estar, bem como pela anotação de sua especial presença, pela evidenciação da sua graça, pelo destaque em sua passagem.

Tenho, por razões várias, um apreço especial pelas mulheres portuguesas. Sua forma de estar, sua franqueza, sobretudo as do norte, que, com toda carga, em seus diversos tempos, souberam romper barreiras, destroçaram preconceitos, para deixar sua marca, Maria da Fonte, Catarina Eufêmia, A Padeira de Aljubarrota, são paradigmas, são arquétipos, e são muitas mais; das quais ficam nestes nomes mais sonantes, das que disseram, à sua maneira, NÃO ás limitações que suas circunstâncias lhes impunham, e destacaram-se como individualidades ativas e sonantes em seu tempo histórico. Combativas, destemidas, desassombradas.

Irrequieta, participativa, atuante, seus relatórios incomodam meia Europa, a pujança e a lógica de sua palavra transformou muitos deles em resolução da UE. Com a coragem dos justos, a certeza dos certos, e a bravura dos para além de seu tempo, vai a todos os lugares, aplica-se, envolve-se, comparece, discute, arrisca-se, contesta. É tão fácil encontra-la no deserto mais bombardeado, como na floresta mais erma, ou na cidade mais destruída, ouvindo a todos, tomando suas notas, fazendo suas perguntas, propondo soluções.  

A Dra. Ana Gomes é um caso emblemático do que é ser mulher com ideias e ideais. Sua capacidade de luta, sua prontidão decidida, sua franqueza espartana, conjugada com sua retiliniaridade indômita, dão-lhe uma especial condição como a de um 'espadachim solitário' (não que não hajam outras valorosas mulheres esgrimindo, as há!) Mas Ana Gomes está sempre só em suas lutas, porque não pede licença a ninguém, como a lembrar-nos: Se eu pequenina não me calo, então vocês matulões?Entretanto sua forma absoluta, quase esfuziante, com que às vezes parece que vai esbofetear o interlocutor por seu mau argumento (E creio mesmo que é o que lhe apetece.) mas muito educada e polida não o faz, nem por isto abdica de tergiversar acendradamente, porque as sujeiras a revoltam, o erro causa-lhe enorme mal-estar. É implacável com quem quer que seja, e, diferentemente daqueles que se treinaram em ignorar, ou poupar, ou não ver os erros e defeitos dos de sua cor (política, ideológica, pátria, etc.) não poupa ninguém, poderá amenizar aqui e alí, assim é a política, se não estaria quase sozinha contra o mundo, mas avisa, previne, aponta, recrimina os erros mesmo dos que lhe são próximos. Impele-a uma força da natureza que atende por vários nomes, entre eles: indignação!

A Dra. Ana Gomes é uma indignada num mundo de estagnação, uma criatura admirável, não dá tréguas: Suas cartinhas chegam aos mais imprevistos gabinetes, propondo as mais incômodas questões, e questionando as  mais cômodas proposições assumidas, porque isto de se acomodar não é com ela. Pouco diplomática às vezes, ainda que essa tenha sido a carreira que abraçou. Admirá-la, vê-la ocupar um espaço que ninguém quer, indomável, indômita, indomada, tem seu gosto particular para todos aqueles que sonham com um mundo melhor, e sabem que ele só será melhor se nunca perdermos a capacidade de nos indignarmos.

Tristes os que perdem esta, sua, capacidade de se indignarem. Tristes os que têm o fogo de existir bruxuleando. Tristes os que, por razões de acomodação, têm a língua travada. Tristes daqueles que venderam sua alma, a que preço tenha sido, mesmo alto, porque há espelhos e há pública opinião. Felizes os que não perdem sua capacidade de indignarem-se. Feliz a Dra. Ana Gomes, que há de ter imenso gosto ao pentear-se.





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