domingo, 11 de setembro de 2016

O Saloio de M. . .




                                                                                                    Da Série: Os donos disso tudo.

Eu não queria escrever sobre esse assunto, mas houve tanto questionamento, de amigos meus que telefonaram, e de outros que estiveram comigo nesses dias, de gente do face, que, penso, agora, ser incontornável aborda-lo. Não queria escrever sobre o assunto porque como não tenho nenhuma simpatia pelo comentado, e, como exijo de mim ser imparcial sobre o que comento, preferia evitar o comentário face a exigência de imparcialidade que poderia de alguma forma violar.

Portanto começo por declarar porque não simpatizo com o Dr. Carlos Alexandre, não que antipatize-me com ele, não chego a isso, mas não gosto de gente que se auto-exclui da vida. E como ensina-nos Chico e Toquinho na música que fizeram para o Vinícius, essa luz que me encanta e a quem chamam poeta do perdão, e nessa palavra todo o entendimento da vida, quando afirmam, tributários que são do grande poeta: "A vida não pode esperar. A vida é pra valer, vida é pra levar." E é assim que eu penso, e, mais importante, é assim que eu sinto. Quando alguém se auto-exclui da vida em todas as suas facetas, por ser, verbis, "bicho do mato", por ser austero, ou por ser, ou querer ser, espartano, não gosto, não estamos em guerra nenhuma, não ficamos em excepcionalidade nenhuma a vida toda. Por outro lado o feitio de bicho do mato revela um antagonismo social, e tudo que é contra a sociedade, o todo, aquele de que fazemos parte, e, como parte nos devemos expressar, me incomoda, a ação contraria, excludente, ao excluir seja o que for, se exclui, e ao excluir-se não realiza a alma, essa que só se realiza quando se expressa totalmente, e todo aquele que não se realiza é incompleto. E eu, além de não simpatizar com coisas incompletas, tenho por elas certa repulsa e prevenção, assim como não simpatizo com coisas e pessoas rudes, primitivas, grosseiras.

Feita essa declaração de desinteresse, que efetivamente poderá afetar o curso deste artigo, procedo aos reparos irrecusáveis à entrevista do dito juiz de instrução, que era o assunto sobre o qual não queria escrever. Espanta-me alguém que diz não ter amigos, e mais ainda me espanta quem acha bem que assim seja. O espírito de missão que é algo que admiro, e no qual, desde muito cedo, fui instruído, termina quando afeta nossa existência, porque nossa saúde a todos os níveis deve ser preservada, até para que possamos prosseguir com nossa missão. Por isso entendeu a sociedade, e o legislador, oficializar ritmos, regulando as relações de cada um com seu trabalho, com o efetivo desempenho do mesmo em tempos de seu exercício e de descanso, para que seu desempenho não seja afetado pelo ato contínuo do mesmo, que esgotante, enervante, estressante,  "48 sábados em 52" diz o Juiz textualmente, promovam o mal desempenho do mesmo.

E o Dr. Carlos Alexandre parece estar com os sintomas da fadiga laboral. Ele que se confessa anafado, está, visivelmente, macilento, desgastado, estafado, mais calado e cansado dizem seus conterrâneos. Situação que alguns médicos entenderão que o impossibilita no pleno desempenho de suas funções. E é exatamente sobre suas funções que fazemos a seguinte análise.

Alguém se sente escutado e não denuncia, nem faz nada, e, em sendo juiz, ademais tendo em suas mãos metade das cruciais alterações porque passará Portugal, porque dos desfechos dos processos que tem em mãos o futuro rumo do país, e que o alterará grandemente, é uma metade, a outra metade têm-na o governo, que comparte essa  responsabilidade entre centenas de pessoas com as mais diferentes tendências e entendimentos. O Sr. Juiz as tem sozinho, solitário, e em exclusividade,  e é sozinho, segundo seu feitio, que decidirá, mas sabe-se escutado. Não pode ser. O Paulo Baldaia bem lembra que  o Ministério público tem por obrigação  investigar a afirmação do Sr. Juiz, independentemente de denúncia, pois  é um crime de ação pública, e que o Ministério Público deve abrir inquérito. Alguém que se diz sem medo, o que prova que sabe que vive na corda bamba, estará sujeito a enormes pressões. Alguém que diz, sem ser perguntado, saber alcunhas, decisões políticas, jurisprudências, episódios, segredos dos maiores poderes do país que lhe chegaram aos conhecimento, e é detentor de excelente memória como diz, e como se sabe, para afirmar que "seria perigoso se eu usasse", para concluir que podia "ser muito perigoso se quisesse",  pois de tudo que sabe, e que não é público, poderia, afinal, utilizar, soa como um aviso pelo menos. Afinal sente-se ameaçado. "Tenho uns créditos hipotecário que tenho que os pagar." Quem não tem de os pagar?

"Minha mulher diz que é um sacerdócio" e crítica por si mesmo o ser acusado de justiceiro, ou fundamentalista, ou justicialista, e quando reponde sobre ser o super juiz, afirma: "Talvez eu seja uma pessoa de rituais..." o que, tudo junto, evidencia uma posição psicológica particular.  Insiste sempre no "sem luxos", "na austeridade", em ter sido uma criança que não recebeu prendas, uma criança com uma infância pobre, quase miserável, algo que não devia existir, as crianças deveriam todas ter uma infância grata, sabendo-se que teve as mais baixas profissões, apesar de que todo o trabalho seja digno, ser ajudante de pedreiro deve marcar uma pessoa para toda a vida. Tem um manual das secretas que lhe apareceu na caixa dos correios. E vai dizendo coisas sem as dizer. Eu penso que a insinuação é o pior recurso psicológico do diálogo, portanto há uma, não direi mutilação, mas uma ferida aí.

"Aceito o meu destino." Sou, sou muito falível." "Negar o impulso do MP seria terrível." Para ter a cabeça no cepo. "É a última palavra naquele concreto momento." Como a esquecer-se que um momento basta para destruir a vida de uma pessoa? "Uns são mais iguais que outros" Aplicar o Direito aos fatos" e quase inverte a expressão, mas corrige-se rapidamente.  E faz a análise do que se passou consigo, e não. Afirmando que "não tendo amigos na magistratura" para afinal revelar seu epíteto; um deles,  "o Saloio de Mação", esta localidade, que podia ser qualquer outra, por isso a indeterminei no título. Para afirmar ter um general amigo seu, esse que só sabe dos amigos que terá entre os que forem a seu enterro se não chover. Para dar a fórmula que lhe transmitiram: "Nervos d'aço, algodão nos ouvidos, e sangue de lagarto."E que a segue, parece, pela ênfase com que a afirma.

Amigos pródigos não tem, reclama de ser pobre e de não ser casado com uma das "senhoras ricas do Alentejo"com as que os juízes casavam antigamente, uma oportunidade não alcançada. Foge das gentes, não vai sequer a um restaurante, e afirma não ter amigos para ir almoçar, nem entre os seus pares, nem entre seus funcionários, nem entre seus próximos profissionalmente, por isso vai a casa, assim evita ser escutado, ser apontado, ser observado, "bicho do mato", se realiza.

Isso é tudo tão grave! Não podia ter dito muito do que disse e ficou dito, o fato é que o disse, e, penso que com isso, destruiu muito da convicção de imparcialidade e neutralidade mister a um juiz, enquanto colhia certamente alguns processos administrativos e judiciais, aos quais terá de responder, e, já por outro lado, terá, então, construído o perfil de homem empenhado que tenta administrar justiça forte, dividindo as opiniões das pessoas que se deixam levar por estas emoções (Vide redes sociais.). A verdade, que perpassa essas perspectivas, é a de que um homem  na sua posição não pode dar entrevistas.

Quase primário, rastaquera, parolo, alarve, pacóvio, patego, simplório, ou, no outro extremo, verdadeira e perfeitamente um hábil e inteligente homem que, não querendo perder sua autoridade, prepara o público para o confronto de que após tudo o que fez em casos tão midiáticos, tudo irá dar em nada, mas não será por culpa sua. Logo saberemos! Seja assim, ou não, o último beneficiário, entre outros, dessa catastrófica entrevista, será o Sr. Engenheiro José Sócrates. "Há razões que a própria razões desconhece" que é um adulteração da frase de Blaise de Pascal, tantas vezes repetida, e que, mais sabiamente, se reporta ao coração, aos sentimentos, pois a razão ao ter outras razões de per si, e não as emocionais, porque a razão, a última certamente, a final, a que fica, não terá outras razões que se lhe oponham, muito menos que sejam desconhecidas, portanto esta é uma afirmação temerária no mínimo.

Em Mação, a tal sua vila, seu ritmo cerebral foi outro, ainda que a direção que quiz dar a entrevista tenha sido a mesma, defende a delação premiada, querendo obter outras fontes para conseguir informações para os processos. Confessa que recentemente, houve um episódio de saúde seu, e de um seu familiar, que o levou a repensar a vida, e vê que vive isso de forma... e obsessiva é a primeira palavra que lhe ocorre, para logo a contestar, e usa sentido de missão, o que traduz uma abnegação, essa que talvez não queira. "A gente nunca sabe" afirma ante a hipótese de ser detido, o que revela uma postura psicológica falsa, porque esta dubiedade maniqueísta é enganosa.

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