sábado, 11 de março de 2017

IMOLADAS.




Em todas as acepções do termo, e em cada uma delas, foram imoladas. O número delas ainda é incerto, três dezenas serão, as que morreram, mas há mais, é uma tragédia dantesca.

Num lar mantido ela Presidência da República da Guatemala, onde as menores eram abusadas, violadas, humilhadas, até não aguentarem mais, e após várias tentativas de fuga, prisioneiras da entidade que supostamente as deveria cuidar e proteger, já sem recurso, põem fogo ao local. Lembro-me do depoimento do menino da Casa Pia que contava como se passou o suicídio do colega que se atirou debaixo do comboio. "Estavam aguardando a Kombi do Bibi, que lhes vinha recolher, na praça do Império, para irem ser escravos sexuais de alguns senhores que os requisitavam (Carlos Cruz, o embaixador Rito  e cia ltda.) quando o menino começa a monologar: "Eu não gosto disso, eu não quero isso, eu não aceito isso", e dispara se atirando debaixo do comboio que chegava." Preferiu a morte a se sujeitar a terrível situação em que se encontrava, sendo escravizado sexualmente (Alguns já não tinham contenção retal dado o número de abusos.).

Assim as meninas guatemaltecas, tomaram a terrível decisão de pôr fim a sua situação de abusadas, de escravizadas, de seviciadas, preferiram se imolar, pondo fogo em tudo para acabar de uma vez com aquele castigo de serem usadas por quem as devia proteger.

Todas queimadas vivas, dezenove morreram logo, outras depois, muitas ainda agonizam no hospital, meninas, o gênero, como sempre, ou quase sempre, o feminino, a maldade, uma oferta a um deus maligno, que por fim as terá tido (só seus corpos) numa pira incandescente, após continuados rituais de abuso e humilhação. Cada uma delas uma promessa, adolescentes que eram, cada uma uma aposta no futuro, aposta que foi feita com o dom da vida, mas não sustentada com o mais básico dos direitos, o de viver, porque este lhes foi negado, por isso se imolaram.

Pergunto-me a que deus se imolaram, qual o demônio que as desejou? Começo pensando nos quatro erotes: Eros buscava amor, ainda que inconsequente, mas sempre amor, logo não.
           Anteros terá certamente sua culpa, mas com a desilusão que provoca, não foi ele.
            Pothos, a paixão, o apaixonado não humilha o objeto de sua paixão, logo também não.
            Himeros, o desejo sexual, sim atuou fortemente, mas sozinho não é culpado.
Mesmo Himeros que tanta desgraça tem causado, e até quando se mostra desenfreado, não humilha, não castiga, não sevícia, quer sua vítima bonita para a satisfação de seu apetite intenso.

Fico então a pensar que outra energia motivou tamanha desgraça? E vai ficando claro que havia uma outra energia maldita que movia as razões pelas quais esse grupo de amaldiçoados abusava das meninas. Não poderia deixar de haver uma motivação de poder, uma ação de exercício de uma capacidade de domínio, de posse, de supremacia sobre as pobres garotas enclausuradas, à sua mercê, a seu talante, exercício de um sentimento muito baixo que os erotes não inspiram, nem cuidam; são sentimentos malditos de capacidade e crueldade, que mutuamente se alimentam, mais podendo, quanto mais cruel é, e gerando maior crueldade, quanto mais pode impunemente.

E o mentor deste modo de proceder é só um: Satã! Que ao fogo conclama, e que nessa disposição virá arrebanhar as almas que conquistou, desses malditos que levaram as meninas ao estremo de se imolarem, quanto os anjos imolados, estes já foram recebidos no céu.








Sem comentários:

Enviar um comentário