sexta-feira, 10 de maio de 2019

PS de charneira.







Duas partes no mesmo eixo, solução quase mágica que permite todo o movimento, de cá para lá tanto como de lá para cá. Dobradiça. Articulação. Gínglimo. Cilha.

Esta ideia que o Dr. Mário Soares defendia, e que tanto desagradou à direita portuguesa, porque roubava-lhe protagonismo (e votos) uma vez que atirava para o centro os socialistas, como garantes de uma estabilidade tão desejada, não foi uma só vez mencionada nessa recente crise da votação da contagem total do tempo de serviço dos professores, NEM UMA VEZ, por nenhum dos agentes políticos, nem por jornalistas, ou comentadores. E, no entanto, ela se realizou!

No parágrafo anterior comentamos uma ideia antiga, que o partido socialista vinha perseguindo desde há muito, lembrando-se dela esporadicamente, lutando por ela também muitas vezes nas sombras, mas para a qual faltou talento a muitos de seus secretários gerais em fazê-la na prática, em realizá-la, e, com isso, contrariar, evidentemente, as vontades, os desígnios, e as possibilidades de todos os outros partidos, que, para não concretizá-la, para não darem essa posição ao PS, bastava-lhes se oporem, como vieram fazendo ao longo do tempo.

Outro aspecto importante que emerge da análise aqui feita também nesse segundo parágrafo, é de que  a maioria esmagadora do eleitorado português está ao centro, uns com tendências esquerdistas, outros com direitistas, muitos com posição oportunista e cambiante segundo as circunstâncias, é só fazer a análise das sucessivas eleições em democracia, e confirmarão essa minha ideia; e, assim sendo, é sempre ao centro que tudo se decide, sendo muitos e variáveis os fatores que influenciam sua (do centro) votação a cada eleição. [Por isso não há, felizmente, espaço ao extremismo, viram os do Bloco de Esquerda excretar esses grupos, na conquista dos votos, o que o fez crescer, viram outros partidos desaparecerem, e viram a luta transitar sempre para o centro democrático, flutuando para um lado ou para outro (e é incontornável dizermos) um pouco mais para a esquerda ou para a direita, mas sempre dentro do espectro do centro. Quem não pensa jogar assim, estará fora do poder, como tem acontecido ao PCP em seu século de existência. Serve para os protestos, para a defesa das balizas, mas não para exercer o poder. É muito importante, é verdade, porque sem pretensões de poder, pode colocar-se na linha da ideologia, da justiça, e justeza de propósitos, tão importante em política, e tão pouco acarinhada ao mesmo tempo, porque visam o curto e médio termo. Esta a glória do PCP, mas não lhe produz resultados efetivos, pois não vêm reconhecido esse mérito. E, cada vez mais, vivemos tempos de produtividade, e menos de ideologia e valor. 

A última análise que merece as afirmações que deixei no segundo parágrafo, é quanto ao silêncio, quase ensurdecedor, da media relativo a esse feito alcançado pelo PS do Dr. António Costa, e de que este se deve ao fato de, estando-se em tempos de campanha política, não quererem aumentar a cotação do PS, que, com o reconhecimento geral dessa sua posição, enche a boca com ela, sem mencioná-la (não lhes cabe) para conquistar, como é evidente, ainda mais votos. No entanto sempre haveria de alguém, para além desse que vos escreve, reconhecer esse mérito ao Dr. António Costa. Não apareceu.  E porque não apareceu? Porque existe um pavor, como se fora um perfume inebriante, flutuando no ar, impregnando todas as consciências. NINGUÉM QUER MAIORIA ABSOLUTA! Todo mundo entende que deve ser o PS que volte a governar, mas sobre estrita vigilância. Não só a do parlamento, que não basta, mas uma efetiva que os possa bloquear. Talvez lembrem-se de 1987 e seus funestos resultados, e, com essa mesma lembrança, tomada por outra vertente, que trouxe à memória do primeiro ministro, que com 26 anos então se casava, a fórmula de se conquistar uma maioria absoluta, como à época foi encontrada, por via de radicalizar o discurso e as intenções, e praticando, como ensinava Bossuet para os que desejam ser seguidos, que devem "...sacrificar o interesse particular e até a vida ao interesse geral."

A inegável sagacidade política do Dr. António Costa, mais sua inequívoca propensão para não perder nenhuma oportunidade, seja qual seja ela, o alavancou a essa tão desejada posição: O PS ASSUME A CHARNEIRA! A linha que une dois pontos de máxima curvatura, indispensável à prática política, o que lhe garante uma posição confortável (Isso não se traduz em maioria absoluta, porque essa, aliás, transformaria a charneira em eixo decisor.) entretanto bem confortável, pois torna-se indispensável ao processo político português, diferentemente, por exemplo, do que se passou com os socialistas em França, porque lá tiveram um idiota como seu líder, que, eleito presidente, nada soube fazer, e acabou por trair toda sua tradição, nomeadamente a miterrandista.

Alcançada essa posição confortável, António Costa assume a posição de garante, de charneira, para a qual se veio preparando desde os 14 anos, com a de líder incontestável de seu partido, capaz de o levar a grandes vitórias, como a das últimas autárquicas, ainda que essas não se traduzam em maioria absoluta, maioria que é signo de unanimidade, e toda a unanimidade é burra, como sabemos.

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