segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A ideia, a teia e o ideal - António Guterres.




Em todas as coisas há um ideia que as concebe, e, para além de sua existência visível estabelecem-se conexões invisíveis que conformam uma verdadeira teia intrincada de relações não explicitas, que são muitas vezes um emaranhado mais poderoso do que o declarado, do que o visível, do que o explicitado. É o oculto, e o poder do oculto é muito vasto.

A contrapor a realidade dura e intrincada existe, para quem o tem, o ideal, não só como ator, incansável na plenitude da ação, mas também concebido como meta absoluta para quem deseja que o mundo seja melhor, mais aperfeiçoado, mais em consonância com as verdadeiras necessidade das pessoas, e, consequentemente, mais afastado da teia oculta que existe só para servir aos que a tramaram.

Essa constatação divide as pessoas em três diferentes grupos: 1. os homens da teia,  2. os que não fazem parte dela e não sabem se opor a ela, ou por ignorância de como funcionam efetivamente as coisas, ou por incapacidade, ou por conivência tácita, e 3. os que têm outra orientação, e que, na maioria das vezes, se irão chocar com os interesses da teia, essa que ao longo do tempo aprendeu que não deve impor irredutivelmente sua vontade e interesses, evitando grande conflitualidade e exposição indesejáveis, porque o conflito que daí advirá pode levar a confrontos de mui difícil solução, e, com o tempo, a teia aprendeu também a utilizar  a máxima que crivou Lampedusa na boca do Príncipe Falconeri.

Os primeiros têm a orientação que teceu a teia e nela operam, os segundos são as vítimas da teia, involuntários cúmplices do processo que essa desenvolve, insetos capturados por ela. Já os terceiros, grupo mais restrito que se opõe ao status quo criado pela teia, querem mudanças e avanços sociais, económicos, humanitários, quase sempre contra os interesses da teia . Esse último grupo é tocado por um sentimento e lógica que conformam aquilo a que chamamos ideologia. Os verdadeiros idealistas são poucos, ainda que muitos convirjam para esse grupo, para logo serem esmagados pelo poder da teia, ou aprisionados por ela, e, tendo pouca força para se oporem, irão logo tomar parte no segundo grupo, pronto convindo com a preponderância da teia, e deixando o barco correr.

Os que se opõe por algum tempo à teia são bons, os que se opõe longo tempo à teia são muito bons, e só os que se opõe por toda vida são os imprescindíveis, porque o poder da teia, que sempre existirá, exige a ação de homens convictos, de boa fé, que saibam fazer oposição a seu imenso poder, para poderem contrapor alguma humanidade aos processos de um mundo tão desumano.

António Guterres provou ser desse terceiro grupo, soube deixar o poder quando a teia buscava oprimi-lo ou captura-lo, soube desempenhar funções valendo-se das máximas da teia, para jogar com elas, soube preservar seu ideal, de base puramente cristã, soube caminhar na teia sem ficar preso em seu visgo, jogando com os diferentes fios, jogando com os poderes anti-teia que se compuseram, também secretamente alguns, em combatentes ao desmesurado poder da estrutura, digamos superestrutura, do grande enredo, da grande intriga, a teia superveniente.

Este homem foi agora posto no olho do furacão, por obra de Deus, assim cremos, obra que deverá levar a cabo como homem de fé que é, obra que o impulsiona, mas que o furacão da teia tem por interesse esmagar, e que no enfrentamento direto é morte certa, que só a habilidade, o poder de convencimento, o saber jogar com a força das palavras que souber escolher, das imagens que criar,  juntamente com o poder dos apoios que conseguir conquistar, com os contrapontos que a realidade estabelecer, no confronto de interesses tão diversos, que tantas vezes inconsequentemente liberam imenso poder que se perdem em si mesmos, que se esvaziam ou se anulam em diversas hipóteses, e que só um habilidoso o conseguirá utilizar em proveito da boa seara, estabelecendo a única situação capaz de fazer a teia recuar e ceder, um prenúncio de confronto que possa fazê-la perder parte do poder que já detém, para conservar o resto.

Guterres é um hábil, consciente disso tudo, imbuído de um ideal, movido por convicções profundas, apoiado na obra de Deus que, a seu turno, não lhe recusará apoio e proteção, combatente solitário que o destino colocou, como disse, no olho do furacão, numa superestrutura que atende pela sigla ONU, que ele sabe que tem pouco, ou nenhum poder em si mesma, que sabe desprestigiada, sabe joguete na mão da teia, e que ele terá de retirar da sombra tentacular de sua miserável condição de ser sombra, para que, com algum brilho possa angariar respeito, possa jogar algumas cartadas sem ser aprisionado pelo imenso poder de retenção da teia. E o terá de fazer com o único poder de que dispõe: o frágil, mas imenso, poder das ideias, sempre que as conseguir transformar em palavras, ou imagens certas, nas horas oportunas.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Encontro marcado com a morte.

 

                                                                                          Elegia.

A saída à campo aberto
Fora do lar protegido
Com o espírito desperto
Buscando o que estava escondido:
O Mundo além . . .
Este que não perdoa ninguém.
Em que nos perdemos para encontrar o eu a convite.
Foram-se lá Ligia e Inês
Nessa busca confusa
As hormonas pulsando aventura
Ouvindo música só delas
Lá se foram as meninas . . .
Fora do Mundo, realidade muito turva
Ensejo de todas as mazelas
Que súbitas as encontraram na curva.

                                                                                         10/12/16 - Às meninas de Montemor-o-Velho.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

As forças ocultas -10 dias depois.




Haverá algum pacto de silêncio?

"E se Putin anda mesmo a manipular o mundo?

Será que o Brexit, a vitória de Donald Trump nos EUA ou a derrota de Matteo Renzi em Itália foram obra do Kremlin? Um quarto de século depois da implosão da União Soviética, o Presidente russo é acusado de promover uma guerra de propaganda para minar a estabilidade democrática no Ocidente. Tudo pode não passar de uma enorme conspiração, mas não lhe faltam admiradores. O texto de Filipe Fialho, nesta edição, ajuda a esclarecer alguns dos mais intrigantes mistérios dos nossos dias."


RUI TAVARES GUEDES , Diretor Adjunto6 de Dezembro de 201
                                                  ====oooo0oooo====

Recebi de um 'canal' que tenho nos Estados Unidos da América a informação de que as eleições foram fraudadas, e que a recontagem irá revelar fortes indícios disso, e me explicaram como isso se passou. Foi um ataque cibernético vindo das centrais de inteligência russas, por ordem de Putin, que a pedido de Trump o fez. Para isso foi necessário um ensaio que teve lugar antes, e que foi amplamente comentado nos EUA, e por todo o mundo. Não gosto de mitos urbanos, mas este é tão significativo que resolvi dar publicidade a ele. Se assim for é o caos!
                                                       ====oooo0oooo====

A 26 de Novembro passado relatei no Facebook a informação, na forma  acima, mas não fiz alarde porque era apenas uma informação, sem nenhuma confirmação, daquele tipo que lembra aos mitos urbanos. Dez dias depois vem o diretor adjunto da Visão, Rui Tavares Guedes, questionar se Putin anda a manipular o  mundo, e o jornalista Filipe Fialho levanta vários mistérios atuais, esclarecendo-os(?) como se anuncia na mensagem que postei, e que tudo poderes lido no último número da Visão.

O caso é que não é comum haver tantos e sucessivos mistérios juntos no universo dos acontecimentos. Esta acumulação hodierna é que é estranha! Não devemos fazer alarde, então não faço,  mas devemos estar atentos, estamos e estaremos. Não levantarei uma dúvida, não proporei uma questão, mas que dá que pensar, dá. Saberemos hoje, 9 ou 10 de Dezembro, alguns números  da recontagem dos votos nos Estados Unidos, se houver uma divergência acentuada, é um forte indício. Quem viver verá.

                                                       ====oooo0oooo====

Era esse o texto que tinha para hoje, no entanto ontem soube que um Juiz Federal acabou com a recontagem no Michigan, Estado onde ficaria evidente qualquer manipulação. Inexplicavelmente o Juiz suspende sua própria decisão, pois foi o próprio Juiz que a havia autorizado que agora a revogou suspendendo a recontagem em curso. Agora nunca mais se saberá, a não ser que  a Sra. Clinton peça recontagem, o que não fará. Muito estranho, tudo muito estranho.

Revela-nos agora o The Guardian:


CIA concludes Russia interfered to help Trump win election, say reports

Intelligence agency reportedly believes individuals acting for Moscow hacked Democratic party emails and gave them to WikiLeaks


The CIA determined that individuals linked to Moscow stole Democratic party emails, according to the Washington Post.
 The CIA determined that individuals linked to Moscow stole Democratic party emails, according to the Washington Post. Photograph: Alex Wong/Getty Images

US intelligence agencies have concluded that Russia interfered in last month’s presidential election to boost Donald Trump’s bid for the White House, according to reports.
A secret CIA assessment found that Russian operatives covertly interfered in the election campaign in an attempt to ensure the Republican candidate’s victory, the Washington Post reported, citing officials briefed on the matter.
A separate report in the New York Times said intelligence officials had a “high confidence” that Russia was involved in hacking related to the election.


The revelations came after the US president, Barack Obama, ordered a review of all cyberattacks that took place during the 2016 election cycle, amid growing calls from Congress for more information on the extent of Russian interference in the campaign.
According to the Washington Post, individuals with connections to Moscow provided the anti-secrecy website WikiLeaks with emails hacked from the Democratic national committee and Hillary Clinton’s campaign chief, among others.
Those individuals were “one step” removed from the Russian government, consistent with past practice by Moscow to use “middlemen” in sensitive intelligence operations to preserve plausible deniability, the report said.
“It is the assessment of the intelligence community that Russia’s goal here was to favour one candidate over the other, to help Trump get elected,” a senior US official briefed on an intelligence presentation last week to key senators was quoted as saying. “That’s the consensus view.”
CIA agents told the lawmakers it was “quite clear” that electing Trump was Russia’s goal, according to officials who spoke to the Post, citing growing evidence from multiple sources.




Loaded: 0%
Progress: 0%

Mute
Pinterest
 White House says Obama has ordered ‘full review’ of election hacking

However, some questions remain unanswered and the CIA’s assessment fell short of a formal US assessment produced by all 17 intelligence agencies, the report said. For example, intelligence agents do not have proof that Russian officials directed the identified individuals to supply WikiLeaks with the hacked Democratic emails.
Advertisement
The WikiLeaks founder Julian Assange has denied any links with Russia.
President-elect Trump has rejected the intelligence community’s conclusion of Russian involvement. “These are the same people that said Saddam Hussein had weapons of mass destruction,” Trump’s transition team said on Friday.
“The election ended a long time ago in one of the biggest electoral college victories in history. It’s now time to move on and make America great again.”
The New York Times reported that senior administration officials were confident Russian hackers infiltrated the Republican national committee’s computer systems as well as those of the Democratic party. It said those same officials believed the hackers did not release information gleaned from the Republican networks.
The Russians were said to have passed on the Democrats’ documents to WikiLeaks, it was reported.
        ====oooo0oooo====
                                                                                                   

Deu também no Washington Post e no New  York  Times, atuaram nas eleições revelando documentos. Ter-se iam ficado por isso? Ou efetivamente entraram nas redes de votação para impor resultados?
Aos poucos se vão sabendo as coisas que se passaram. Será que ainda iremos saber de tudo? Afinal a minha fonte tinha razão!!!
                                                                                                

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Na missa de sétimo dia de Ferreira Gullar em minha alma.











Passado o espanto, canto que não sei cantar
Desse dia de pranto, devo então relembrar
Que de seu timbre permanece como signo
Que não padece, e que se deve lembrar
Marca que não desaparecerá
Pois se morre o homem fica a insígnia
Eterno é Ferreira Gullar.

Limpou o poema, desconcretizou-o
Na humanização perplexa de seu sentimento
Ainda vejo as peras no fruteiro
Será que perdem-se mesmo no vazio de estarem prontas para nada?
Ou o nada é frutífero e ultrapassa o fruteiro?
Só Ferreira o saberá, a correr ainda dentro da noite veloz,
Em alguma parte, em parte alguma, não como quem busca,
Mas como quem dá!

Lembro-me do homem, carne e ossos, em sua secretária na Folha de São Paulo no Rio de Janeiro, tantas vezes lá fui. E aprendi que "Não há vagas" porque "O poema, senhores, não fede nem cheira." Via o tipo comprido, mãos, braços, pernas, e dedos, a secretária era pequena, sua magreza grande, seus dedos pareciam nunca mais acabar no  contraluz de quem entrasse com as janelas ao fundo, aquela mancha marrom de tão moreno, e a calma maranhense de um homem aflito concentrado em seu ofício, a palavra, a irremediável palavra para dizer, para cantar, para gritar, para denunciar e, mais que tudo para revelar, sua eterna vontade, sua máxima força. Causava-me aflição o jeito com que ele mexia a  boca longa boca em falar lento com os longos lábios a dizer das coisas, desvendando-as como se dissesse segredos, todos sem medos, todos revelação. Sinto saudades, sinto vazios, sinto-me como as pêras, pronto para nada, vazio, lembro-me de quantas vezes fui encontra-lo ao Café Lamas em Botafogo, onde estava sempre cercado de gente, ou ir andando com ele pela sua Ipanema amada, sempre simples, levava mochila, vestia sandalhas de couro, tinha vários cadernos dentro da mochila e canetas de várias cores, era muito singelo o meu poeta, nós falávamos de política, quando eu adoraria ter falado mais de poesia, mas os tempos nos obrigavam a isso e Ferreira, sempre engaje como se tudo fosse amanhã. Deve ser muito bonito estar em sonho permanente, não como fantasista, mas como construtor do próprio sonho, de um sonho comum que se espera, que se deseja, e pelo qual se trabalha...

Sua São Luís, onde o culto das palavras é Lei, fica abandonada, Ipanema desfigurada, onde seu mar não o levou, o Rio sem o incêndio das palavras tão necessárias, a imprensa perde a presença constante do inusitado, e as pêras perdem-se mesmo no vazio de estarem prontas para nada.

Adeus meu poeta.

  Lembro-me do homem, carne e ossos, longos ossos, em sua secretária na Folha de São Paulo no Rio de Janeiro, tantas vezes lá fui. E 

aprendi que "Não há vagas" porque "O poema, senhores, não fede nem cheira." Via o tipo comprido, mãos, braços, pernas, e dedos, a 

secretária era pequena, sua magreza grande, seus dedos pareciam nunca mais acabar no  contraluz de quem entrasse com as janelas ao 

fundo, e visse aquela mancha marrom de tão moreno, e a calma maranhense de um homem aflito, concentrado em seu ofício, a palavra,

a irremediável palavra para dizer, para cantar, para gritar, para denunciar e, mais que tudo, para revelar, sua eterna vontade, sua

máxima força. Causava-me aflição o jeito com que ele mexia a  boca, longa boca em falar lento com os longos lábios a dizer das coisas, 

desvendando-as como se dissesse segredos, todos sem medo, todos revelação. Sinto saudades, sinto vazios, sinto-me como as pêras, 

pronto para nada, vazio imenso, e lembro-me de quantas vezes fui encontra-lo ao Café Lamas em Botafogo, onde estava sempre 

cercado de gente para ouvir ao pregador, ou de ir andando com ele pela sua Ipanema amada, sempre simples, levava mochila, vestia 

sandalhas de couro, tinha vários cadernos dentro da mochila e canetas de várias cores, era muito singelo meu poeta, nós falávamos de 

política, quando eu adoraria ter falado mais de poesia, mas os tempos nos obrigavam a isso, e Ferreira, sempre ‘engagé’, como se tudo 

fosse amanhã. 


Deve ser muito bonito estar em sonho permanente, não como em fantasista, mas como construtor do próprio sonho, de um sonho comum 

que se espera, que se deseja, e pelo qual se luta e trabalha...


Sua São Luís, onde o culto das palavras é Lei, fica abandonada, Ipanema desfigurada, onde seu mar não o levou, o Rio sem o incêndio 

das palavras tão necessárias, a imprensa perde a presença constante do inusitado, e as pêras perdem-se mesmo no vazio de estarem 

prontas para nada. 


Adeus meu poeta.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

FEIRA DAS AVES DE SANTARÉM.





Passa-se uma ignomínia em Santarém! A nobre escalabitana terra envolvida com um crime de repercussão mundial. Por desconhecimento, decerto, permitiu a realização de uma FEIRA DAS AVES, que é um atentado à dignidade, ao bom gosto, ao bom senso.

Aves como tucanos, sul-americanos e africanos, em África chamar-se-ão kalaos, águias, maracanãs, papagaios e araras, à venda numa absurda FEIRA DAS AVES.

Muitos desses animais em vias de extinção sendo vendidos à peça como se fossem objetos de consumo banais, onde só a insensibilidade pode transformar a beleza em objeto, onde só a ignorância pode mercantilizar a obra da criação, a herança natural do planeta que é de nós todos, e que só têm beleza e mistério em seu habitat, onde Deus as pôs, e onde ficam bem, onde encontram a expressão maior da vida, que é existir.

Ainda que seja absolutamente contra qualquer animal selvagem encarcerado, admito que os que podem ser criados em cativeiro possam ser tidos em ambientes confinados, como é o caso dos periquitos, micro araras, lindos também, mas que procriam em gaiolas.Vá lá que se os possa negociar. Porém animais cujos últimos exemplares viventes sofrem grande pressão pela degradação de seus ambientes onde vivem na  Natureza, essa cada vez mais agredida e diminuída pela ação insidiosa de séculos de perseguição, animais que têm como única culpa serem bonitos, alguns mesmo de rara beleza, e os homens os querendo observar de perto, os capturam, obrigando-os a uma vida de infelicidade, uma vida de restrição, uma vida de prisão perpétua. Pois até morrerem são prisioneiros das jaulas que os detém. No caso das aves essas jaulas são as Gaiolas!

Nessa feira podem-se ver entre outras a graciosa arara-canindé, a rara arara-azul-grande, e  a raríssima    arara-azul-de-lear, aves de uma beleza paradisíaca, de uma dignidade única, de uma presença arrebatadora, todas à beira da extinção, que lá sabemos por obra de quantos crimes vieram parar a Portugal, a Santarém, nessa Feira! Crimes, porque a captura, o tráfico, o transporte, a posse e o comércio destes animais é proibido por lei e acordos internacionais em todo o mundo, protegidos que são por esses acordos que visam garantir sua existência, contra a sanha criminosa de quem as comercializa.

A inacreditável ignorância das leis, a terrível desinformação geral, a cumplicidade omissa de diferentes agentes, os que autorizaram a Feira, os que tem obrigação de zelar pelo cumprimento da legislação vigente, das pessoas que inocentemente as adquirem, muitas delas, dos órgão de comunicação social que publicitam a criminalidade como se nada fosse, bradam aos céus.

Aqui em Portugal foram objetos de uma reportagem de televisão, que até lhes dá o preço, 25.000 euros uma arara-jacinto, que um dos nomes da arara-azul-grande, falam de zebras e antílopes, e as aves estão sendo vendidas como se não existissem leis, e nada é feito como se o direito à vida fosse um bem a ser negligenciado, como se nada pudesse suceder aos criminosos que as vendem, como se a desgraça em ser belo fosse a determinante absoluta de sua prostituição.

PEÇO A TODOS QUE DENUNCIEM ESSA FEIRA ABSURDA!!!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Teresa Horta no The Guardian.







Guardião de valores, inequívoca escolha, visão de valor.


A boa tradução do poema de Maria Teresa Horta que aparece nas paginas do The Guardian essa semana, traz as lembranças de que a boa palavra perdura. Quanto tem feito esse jornal que agora pede  cinquenta libras para manter sua independência, todo devemos dá-las, inequívocas, impreteríveis, absolutas, num mundo onde os valores se conspurcam. Essa escolha é mais uma projeção de sua independência, porque não lhe trará nenhum retorno financeiro publicar Maria Teresa Horta em suas páginas, mas como tudo que o The Guardian faz, o faz pelo mérito de fazer. E poderá haver maior retorno?

 Num mundo vil, sim, e muitos! Mas para nós os poetas, os sonhadores, os fidedignos, os valores são outros, e gritos não, mas nosso crédito nunca será bancário, o pecuniário exercício dos interesses, nós viveremos de outras migas, que certamente alimentarão mais o espírito que o corpo, mas é fatal sermos como tal.

Fica nas páginas desse grande jornal a marca, o registro, inclusive o original na língua de Camões, sendo tudo o testemunho de um momento bom, consolo entre tanta miséria e desassossego que vivemos, a mim cabe dizer, como disse num poema ao estilo de Teresa, brincadeira entre nós dois, da grandeza dessa poeta, que aqui revelo o poema nesse tempo de alegria por ainda haver no mundo espaço para coisas honestas.

TERESA HORTA (*)

Busca
*
Em gangas diárias
Vai às lavras
*
A todos ofusca
*
Escolhe as palavras
À economia afeita
*
Só as necessárias
*
Em síntese perfeita.

(*) Se eu fosse Vinicius o  título do poema seria “Retrato, a sua maneira. 

O texto integral do The Guardian:

Poem
I let him come.
He sneaks on tiptoe
right up to my ear;
under its ribs my heart
quivers, quickens
as the excitement mounts:
first the forest appears,
then the woodland-sequel,
more mist than snow to the touch –
from the new poem’s
very first line the paper sucks up
every waif-word
and an ugliness steals in,
a cunning hungry thing
crouching there incognito,
pretending to be tame and yet so wolfish
that he’s the kernel of light
and then the noise of its cracking;
he’s lithe on the path,
doubling back on himself,
running with the pack, loping alone;
pussy-footing through the night
he trails moonlight behind him
like a mink coat.
I feel him when the hairs on my skin
lift, and in the delicious dizziness
of my private pulse –
in the midst of my writing, in my dream-life,
I slip all his clothes slowly off
and slide him down beside me.






The translation by Lesley Saunders of Poema, by the Portuguese writer and activist Maria Teresa Horta, recently took first prize in the Open category of the Stephen Spender prize for poetry in translation. (Horta’s Portuguese language original is reproduced at the foot of this column and all the prize’s winning entries can be seen here.)
Advertisement
Readers of a certain age may remember Horta from an admired, and sometimes maligned, radical feminist text of the early 1970s, New Portuguese Letters(Novas Cartas Portuguesas). With Maria Velho da Costa and Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta formed the trio of writer friends who came to be dubbed “the Three Marias”. Their collaborative volume, known in English as The Three Marias: New Portuguese Letters, was a multi-genre response to a 17th-century collection of letters allegedly written by a young nun, Mariana Alcoforado, to her absconding “chevalier” lover. Horta had already received adverse criticism for her poetry, and the New Letters were no sooner published than banned by the Portuguese government. A prosecution ensued, and the women faced jail sentences until, with the 1974 “carnation revolution”, all charges were dropped. 




Alcoforado had recovered her psychological independence through writing. The 20th-century authors, with their collage of poems, fiction, letters and erotica, each work dated but unsigned, set out to assert their female authenticity through solidarity. Lesley Saunders traces the source of her interest in Portuguese poetry to her first acquaintance with the New Letters, noting that it renewed her sense of “what literature could accomplish, formally, as well as psychologically and politically”. Saunders was delighted to finally meet Horta in Lisbon in 2015.
Her translation of Horta’s new poem, Poema, combines narrative clarity and an erotically charged, fairytale atmosphere. Saunders writes that she tried to reproduce the “abbreviated, even dislocated, diction that disguises itself as something direct and uncomplicated”. By introducing punctuation into the English version, she underlines Horta’s control of phrasing and tempo, and adds to the musical interest of our melody-resistant language. 
The lineation has an excited tension in the first two stanzas. The wolf’s presence is registered at once, but he quickly becomes elusive. It’s in the third that the mystery fully registers: “first the forest appears, / then the woodland-sequel, / more mist than snow to the touch –”. The word “sequel” contributes to the idea of the poem as storytelling, while the soft, crisp, tactile evocation of mist-damp forest and woodland suggests body hair in different thicknesses and distribution. With the next stanza we go deeper into metaphor land. The new poem has arrived, stealthy and “incognito”, and instantly “the paper / sucks up every waif-word”. It’s an unfamiliar, maternal kind of animation: few poets see the language of their emergent poem as a vulnerable orphan. 
Saunders finds similarities between Horta’s Poema and Ted Hughes’s The Thought Fox: the difference is that “Hughes’s fox turns out to be the poet’s poem; Horta’s wolf emerges as the poem’s poet”. Whoever “he” is, I like the shifts in his character, and the general craftiness of his approach, “pretending to be tame, and yet so wolfish”. It’s recognised that the intimately known body – of man, woman or poem – may fall short of the ideal and even reveal a sudden “ugliness” – a quality that, in the original poem, is a moral grossness, depravity (torpeza). To receive the muse, the artist may have to overcome revulsion. But perhaps what is most special about this wolf-muse is that he resists banal transformation. Saunders uses a wonderful, almost punning, feline metaphor, “pussy-footing”, in the eighth stanza, and darkens the trailed cape of moonlight, which is compared to ermine in the original, mink in the translation. This being is sometimes magical but he is always an animal.




The narrative rises to a sensuous and role-reversing climax when the speaker undresses the newly passive creature: “I slip all his clothes slowly off / and slide him down beside me”. At first seductive, finally seduced, the poem-wolf lies down with the poet-lamb. Saunders’s translation reveals Horta’s mature voice to have an easy, fearless, unapologetic authority. Poema seems an important culmination and assertion of her status as an artist and radical thinker. 
Horta has continued to add to her output of poetry and novels and her work has gained some recognition. But the groundbreaking early achievement is often underestimated, or marginalised by what Saunders describes as “a general wish to forget all of that”. It’s to be hoped that this prize will help more of Horta’s poems and fiction, and those of the other Marias, to become visible to a new, international generation of readers. 
Advertisement
Poema
Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé até ao meu ouvido
Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido
Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido
Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo
Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido
Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído
Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho
Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho
Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido
À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo
(Reproduced by permission of the poet)