quarta-feira, 15 de maio de 2013

Coisa rara.

É importante. É muito importante. É mesmo imprescindível ter vergonha na cara. Ainda que a maioria da gente que eu conheço não tenha, sigo buscando. É raro um político que tenha, é raro um banqueiro que tenha, um negociante, um advogado, um vendedor de carros ou de casas...Não que não os haja, os há, mas são raros, raríssimos, quase inencontráveis, são como os diamantes de alta qualidade, há que se revolver tanta ganga, que cansa! Já os poetas costumam ter vergonha na cara, pois é de sua cara que vivem e da vergonha que possam ter nela. Vivem nas e das espectativas que criam nas pessoas e nas mensagens que passam aos outros. É assim também com o político ou com o vendedor de casas, porém com estes dois, depois de alcançados seus objetivos, eleger-se, ou a venda da casa, pouco lhes importa se tudo o que disse ou prometeu para alcançar seu intento se venha a confirmar. O poeta não, o poeta necessita da verdade como do pão para a boca, porque se esta lhe faltar, seu ofício perde-se, sua mensagem esvai-se, seu leitor foge, sua proposta decai, sua ideia anula-se. O poeta é um sofredor, porque lidar com a verdade, sua e dos demais, sobre tudo a sua, é das tarefas mais ingratas, põe em cada palavra em risco o seu futuro, o seu eu, as suas posssibilidades dissentes e vertentes, e à cada ideia temerariamente expor-se-á e revelar-se-á, revelando o mais profundo do seu eu (seu, dele e seu, vosso) para que tenha eco. O político também faz assim, mas a mentira só se descobrirá depois, o poeta não, é alí. É na hora. É na palavra, ao ser dita, ao ser lida... Que ou é plena de verdade, ou perder-se-á... Ou é plena na verdade, ou ensombrar-se-á, ou é plena no dizer-se, ou não dirá! Quanto risco nesta escolha... É melhor ser político!

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