quinta-feira, 23 de maio de 2013

Fernado Pessoa o Outro.

                                                                                                                  Outra pessoa/outro Pessoa.
                                                                                                                   reeditado em 30/11/13 -
                                                                                                                    78 anos de sua morte.              

 Com o nome da personagem trágica do Hamlet, uma burguesinha lisboeta inspirou Fernando Pessoa uma história singela. O mestre da contradição existencial buscava solução para o seu Eu multifacetado? Certamente não sería esta Ofélia a redentôra de espírito tão arredio, mas havia um fascínio das coisas simples, que é o que toca ao comum dos mortais. Pesoa não estava infenso e, certamente, desejava a sua salvação. Sabedor da sua condição de alma danada, de corpo arquejante, de cérebro multifacético, brincando de Deus, se multiplicou e resolveu um dos seus problemas(o do cérebro). Terá atendido aos apelos do corpo e resolvido o outro? Acreditemos que sim... Faltava-lhe resolver o outro e talvez mais dificil, complexo e insondável....O da alma!

 O que buscam nossas almas? Buscam a redenção, e a redenção é um ato de amor. O amor é incondicional. O amor obriga  entrega.  Entegar-se é perder-se.  Como uma mente com tal força podia se entregar?
Entregar -se à quem? A História conta vários casos de escolha da pessoa a quem render-se: Temos para exemplo as duas de Napoleão e a de Marcelo Caetano, para não irmos mais longe. Fernando Pessoa não ousaria render -se: Não havia a quem !Para Pessoa a única entrega possível era nos braços da ceifeira da humanidade, que afinal chegou-lhe um pouco mais cedo, por tanto ter dado de beber à dor, dor infinda, inacabável, irreprimível que lhe danava a alma pela maior consciência de si e da condição humana.

 A história destas cartas que ficaram (Pessoa as podia ter destruido)melhor: a história que estas cartas nos contam, é a de uma busca, no mínimo de um desejo. O magnífico prefaciador da nova edição destas cartas, o genial Eduardo Lourenço, diz-nos que foi uma comédia de enganos para Fernando Pessoa, " todavia não era uma comédia cínica de libertino na alma..." e é claro que no final foi isto. Entretanto enquanto durou, ou o que fez começar a relação, é o que me interessa ! !! E fica-nos claro que Pessoa buscou, por isto a relação com uma ingênua (Ele que não o podia ser.)buscou uma normalidade que lhe era impossível,não se enganava nem por um momento, não a enganava igualmente...Foi uma tentativa! Foi uma vontade, que sua condição (de Deus, um pouco, e de alma danada muito)não permitiu. Mas ficou a tentativa. Poderiam alguns dizer que foi apenas uma experiência... Leiam as cartas e verão que não! Honestamente, como em tudo que fazia, Pessoa tentou ser outra pessoa, não conseguiu é verdade. Mas também não destruiu as provas da tentativa, para si e para os pósteros, moldando um outro e desconhecido heterônimo que se chamava Fernando António Nogueira Pessoa, tão somente Ele. O homem reto, honestamente em busca de si mesmo, em compasso com uma humanidade sabidamente inumana, sabidamente hipócrita.

 Assim " talvez porque a alma é grande e a vida perquena" ele não pode viver a experiência de uma vida conjugal,ou talvez porque a felicidade limite o homem e Ele estava reservado para grandes coisas,sua grande obra, não lhe foi consentido viver como um não trágico.Quando penso que Ele perdeu o concurso para o Conde Castro Guimarães, quando penso que Ele foi preterido pela Coca-Cola, com seu genial 'slogan'... Só mesmo dizendo como os árabes 'Maktub',estava escrito, estava-lhe destinado. E como acredito da mesma forma que Fernando Pessoa que amar não se conjuga no passado,e como vejo que Ele amou Ofélia. Amou-a para sempre, e isto é o que importa,pois guardou na alma e na mente mais esta faceta perdida de um outro Fernando, que, como heterônimo igual ao bilhete de identidade foi seu homônimo, e guardou-lhe uma virtude entre tantas: A de ter tentado!

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