quinta-feira, 19 de maio de 2016

O prêmio de um rato a um leão, o paradigma dos entregadores de pizzas e super-heróis.




Foi ontem, aqui em frente à minha casa, com a presença do Presidente da República para consumar a entrega, que se ofertou o prêmio Vasco Graça Moura  a Eduardo Lourenço, mas foi afinal Vasco Graça Moura que recebeu o prêmio.

Que homenagem pode prestar um rato a um leão?

Eduardo Lourenço é merecedor de todos os prêmios, de todo o reconhecimento, de todas as glórias, como no tempo antigo onde as terras davam uma coroa de louros a seus maiores, para, cingindo-lhes a fronte, demarcar suas vidas, destacar seus talentos, reconhecer seus feitos. Eduardo Lourenço é desses escritores raros, que no uso da palavra, mesmo para simplesmente defender uma tese científica, fá-lo com as tintas da maravilha, resultando o surgimento do elemento descritivo alcandorado da sublime forma de dizer, que afirmando uma simples possibilidade encanta, porque a sua resultante é paisagem e música, é magia que convida ao entendimento, por isso o Leão Eduardo Lourenço é digno de todas as  homenagens que lhe queiram prestar, 'modus in rebus'.


"A excessiva honra"

E a moderação de que vos falo é não confundir o entregador de pizza com o super-herói, o entregador não nos vem salvar, nós que precisamos sempre ser salvos de nossa falta de conhecimento, e, mais grave, de nossa falta de entendimento, porque mesmo quando nos é dado conhecer, é necessário o esforço do desvendar, que o super-herói nos presta, revelando o entendimento de nossa descoberta. Nosso leão é desses raros super-heróis que com seu dom superior de entendimento vem sempre revelar a verdade profunda que há por detrás das coisas mais simples, deixado-nos maravilhado com a refulgência não percebida que ele nos apresenta.

Eduardo Lourenço começa seu discurso de agradecimento com as palavras "excessiva honra" para colocar-se na sua principal condição de ensaísta, onde a única coisa que o distingue do nome do prêmio que lhe outorgaram, é não lidar com as palavras que brotam da imaginação, mas lidar com palavras que brotam do esforço do entendimento de coisas reais que se passaram ao longo do tempo, esse fluente manipulador dos acontecimentos, compondo-os em corrente de elos encadeados, muita vez com distâncias inesperadas, que só são visíveis para alguns iniciados bafejados com a força do leão que as consegue revelar. Só ficou bem a Eduardo Lourenço marcar sua posição e render homenagem ao detentor do nome do prêmio que lhe entregavam, mas trovejava na sala, rebimbava o despropósito, trovoava a desproporção, pois a homenagem que se prestava era a Eduardo Lourenço, portanto a inversão produzia os trovões e ecoava a pergunta:  Que homenagem pode prestar um rato a um leão?


Que homenagem pode prestar um leão a um rato?

Eu gosto de ratos, não discuto seu lugar na imensa pirâmide da Natureza que guarda espaços para todos, mas sempre afunilando essa localização, porque na base da pirâmide, local dos ratos, há espaços para muitos, sempre havendo espaço para menor número à medida que se escala a pirâmide, quanto mais alto se está, encontra-se menor companhia, no estreitamento natural de sua forma, como soe ser na vida real infelizmente, o número dos brilhantes é sempre muitíssimo menor do que o dos diletantes, ou de forma mais popularesca, há infinitamente mais entregadores de pizzas que super-heróis, como é sabido.

Eu gosto de ratos, muito mais de leões, mas pergunto-me sempre que homenagem pode prestar um leão a um rato, ontem obtive a resposta, é receber o prêmio com o nome do rato.





Sem comentários:

Enviar um comentário