terça-feira, 14 de abril de 2015

Adeus às armas, às palavras não.






                                                                                    "Vem, vamos embora que esperar não é saber."
                                                                                                                            Geraldo Vandré.



Após trinta e sete anos de silêncio Geraldo Vandré deu uma entrevista que terá alegrado bastante a muito torturador, revelando um Vandré transtornado, evasivo e em negação. Não me doeu, porque pouca coisa ainda me dói, mas certamente foi mais uma vitória da ditadura desfocar meu herói da palavra cantada, apagando para sempre a gloriosa verve, refugiada na negação, inteligente como sempre, apontando um Brasil massificado, com uma realidade que não deseja, que, apesar dos pesares é o nosso Brasil, aquele pelo qual lutamos, pelo qual morremos e com o qual temos que nos defrontar, continuando a luta porque sua realidade ainda é muito distante daquela que desejamos, dá-me vontade de dizer: A luta continua!

Entretanto quando aceitamos em 80 a anistia, aceitamos o caráter de sua generalidade, de sua máxima envolvência, e de que sem restrições assim fosse, portanto não aponto o dedo a ninguém, mas sabemos que há muita coisa que não merece perdão, e se abandonei as armas, não abandonei a palavra, e perante ao muito que fizeram, não me posso calar, nunca me calarei!

Este Vandré lavado, afastado do brilho de sua contestação, sem falar de flores e sem falar de balas, não é propriamente bom, porém não esperava muito de um homem com quase oitenta anos, que passou a metade de sua vida em silêncio, após ter tido um lugar cimeiro na esperança do Brasil, e não se esqueçam de qual é nossa profissão, a mais linda de todas, que o Vianinha nos arranjou, e que a encaramos como profissão de fé.

Não, não podia querer milagres, mesmo que esta tenha sido a história de minha vida. Nunca esperei que nada acontecesse, corri atrás. Porém esperava de um dos meus heróis, o da palavra cantada, ouvi-lo reafirmar que: Valeu a pena! Pois sempre vale a pena quando a alma não é pequena, agora calar não, a pior coisa que há é calar. Todos vivemos de, e com, preocupações, umas maiores, outras menores, não importa! Seguimos em frente. Agora tirar a força de quem canta é o matar duas vezes. Pois quanto a mim, apesar das misérias que passo todos os dias como subproduto de tudo que fiz, como a dura fatura que tenho de pagar por ter sonhado um Brasil melhor,  não me arrependo de nada: Sigo cantando. Valeu a pena! Faria tudo de novo. Tudo de novo outra vez!

"Vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora" e eu tenho a sensação e a consciência irrecusáveis de que fiz a minha parte, que afinal era a do Brasil. Mesmo não tendo evitado a derrubada do prédio da UNE, o meu não, a minha oposição, disse que o Brasil não ficaria mais calado, e que era a hora, e ninguém esperaria acontecer.

Portanto com o respeito que lhe é devido, saúdo desde aqui Geraldo Vandré, porque um homem é seu passado, se sente dores, se sente angustia, se perdeu o rumo, ficam suas canções, ficam suas palavras, porque estas sempre ficam, são eternas, e  nunca as poderão calar, fica seu grito, sua conclamação, seu Canto Geral das Terras de Benvirá, que sempre nos assinalará que é Hora de lutar, porque A luta continua! Vamos embora...





sábado, 11 de abril de 2015

Um nicho vazio.












A vespa asiática avança  100 kms/ano, tendo entrado por Bordeaux, já está no norte de Portugal, e vai se espalhando por toda a Europa. Quando chegar a costa portuguesa terá completado toda a península e terá uma amplitude de abrangência territorial inédita para um inseto em toda a Europa.

É terrível esta situação porque estas vespas são inimigas poderosas das abelhas, destruindo colmeias inteiras na sua luta por alimento de alto teor nutritivo, tendo como alvo principal a abelha europeia, a Apis mellifera, um inseto manso e praticamente indefeso frente a agressividade da vespa asiática, a Vespa velutina nigrithorax, que se compararmos com a da Vespa crabro, europeia, a nativa, a indígena, essa última é um anjinho, sendo, portanto, a asiática muito mais predadora. As abelhas que por várias outras razões conjugadas têm visto seu número decrescer assustadoramente, agora encontra-se sob mais esta ameaça, que tem força mui intensa, que pode mesmo a médio prazo exterminar a Apis mellifera. 

Temos mais uma primavera para vermos se o avanço da nigrithorax continua imparável ou se por razões climáticas ficará circunscrito ao norte de Portugal ou se desce até o Algarves, dominando todo o país. O reconhecimento desta vespa é muito fácil, porque diferentemente das nacionais tem o abdômen muito mais escuro e faz-se logo identificar. A presença e expansão das africanizadas é outro grande problema que sofre as populações da Apis mellifera, tendo todo um equilíbrio muito antigo no continente sido posto em risco.

Um erro de 2004 ocorrido em França liberou esta vespa asiática para o meio ambiente em 2010, tendo se firmado na antiga Gália, invadiu Espanha, no ano seguinte era a Bélgica, e logo em 2012, ainda, invadia a Itália. Tendo dominado Espanha, atingiu Portugal onde há dois anos tem feito razias por todo o norte do país, podendo este 2015 expandir-se vigorosamente em direção ao sul. 


Tudo isto se deve a um único fator, ao nicho desta vespa estar desocupado, não havia em seu padrão e em sua capacidade existencial nenhum outro inseto que lhe bloqueasse a passagem, ou lhe controlasse o número, nenhuma barreira natural que lhe impedisse a proliferação, nenhum predador que lhe controlasse a população, permitindo-lhe ocupar este espaço numa cadeia onde semelhante animal não existia, porque não se produziu neste ambiente, no continente europeu não havia nada semelhante a nigrithorax, logo com sua introdução se lhe permitiu acesso pleno e livre por poder ocupar um nicho vazio.

Foi assim com a carpa asiática em alguns rios norte-americanos, onde se tornaram uma praga, multiplicando-se descontroladamente, sem predador natural, atingindo um número descomunal, e roubando o espaço vital a toda a fauna indígena destes rios, caminhando imparável em direção aos grandes lagos, pondo em risco uma estrutura econômica de bilhões de dólares, e muitos milhares de famílias que vivem desta economia pesqueira, porque, quando as carpas lá chegarem e suprimirem com sua voracidade incontrolável e incontrolada todas as  demais espécies, deixará de existir a pesca tradicional explorada há centenas de anos. À semelhança do que se passa com esta vespa, muito em nossas vidas pode ser ocupado de uma hora para a outra porque mantemos nichos existenciais vazios, e o ocupante muitas vezes não é o que nos convém.






NB: No verão de 2019, atingiu Lisboa.  Agosto de 19.
17/9/19 Um ninho no Parque da Pena em Sintra, destruído na madrugada de 18.
22/11/19 Sabe-se que a produção de mel caiu 20% devido aos ataques da vespa.
                E que na Beira Alta, aparecem há toda hora colónias totalmente mortas.
22 e 23/11/19 Na Feira do mel em Viseu o tema é a vespa asiática, devido ao pavor que suscita.

8/6/2020 - DN : mais de 1100 ninhos destruído...
Eu avisei há 5 anos, agora vai ser cada vez mais difícil.


IMPORTANTE:
                              A detecção de um ninho da nigrithorax, mesmo que não totalmente confirmada, deve ser reportada imediatamente por um desses meios: 
                                                                                        1. Internet (computador ou smartphone) através do portal www.sosvespa.pt.
                                                                                               2. Telefone: 808 200 520 -SOS ambiente.

                                                                                              3. Ou na Junta de Freguesia mais próxima.
                                                                 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O funil no qual não convinha ter entrado.





Juntaram dívidas a outras dívidas. Não se deram conta do que se estava passando. Permitiram-se, para manter seus modelos de sociedade, e num momento em que havia crescimento econômico generalizado, ultrapassar limites de endividamento com o consequente comprometimento do futuro, para muito além do comportável, desconhecendo o que isto ia representar. Não viram que no frágil equilíbrio da economia, surgiam outros agentes que alteravam totalmente a relação de forças existente, e que isto iria, como fez, criar uma dinâmica totalmente nova à qual teríamos que nos adaptar, e adaptar custa tempo e dinheiro. Empenharam mesmo toda a sociedade, para manterem ilusoriamente seus próprios moldes de funcionamento, hipotecaram premissas de margens de boa gestão econômicas com a credulidade  de quem espera ter outras fontes de riqueza a seu dispor. E vão todos pagar caro por isto. 

A única verdade que permanece é a da pobreza. Os mercados fizeram seu trabalho! (*) Portugal, Grécia, Irlanda, Itália, Espanha, França, e até a Alemanha, estão todos mais pobres. Perderam empresas, perderam clientes, perderam espaços de comercialização que demoram anos a se formar, perderam definitivamente poder de compra, e capacidade negocial, as reservas, e tudo que há, são dívidas, dinheiro que custa dinheiro, e que se dão alguma tranquilidade a curto e médio prazo, dão desespero a longo prazo. Continuamos a cavar num buraco que nos enterra cada vez mais, porém o mais grave é que este buraco onde nos encontramos fica a cada momento mais apertado pela terra que geramos ao cavá-lo.

A imagem que mostra bem o que está acontecendo é a de você estar dentro de um funil, ou se está parado porque obstruiu-se a circulação, ou move-se, mas é  sempre para baixo, e quanto mais para baixo se vai, mais apertado fica, e menos espaço de manobra há. A forma de não se ir para baixo e obstruir a circulação o que para tudo e deixa tudo na mesma, como está, sem hipótese de solução. Estamos no famoso beco sem saída, que, neste caso, é o nosso funil.

O grande embuste de que os mercados diminuindo suas taxas de juros tornarão pagáveis dívidas impagáveis, para irem todos ganhando tempo para adiar um desastre que por ser adiado todos os dias não deixará de sobrevir, não deixará de acontecer, e este desastre, que será a crise definitiva, ou faz sucumbir o euro, voltando a tocar sozinha a moeda do dólar por algum tempo, ou desde já, pois que ou já, ou logo a seguir, assim será; o Yen passará a prevalecer, como já prevalece sua economia que, num longo e demorado trabalho, paciente e bem construído, como só mesmo os chineses sabem fazer, conquistou o mundo. Mas os chineses não merecem ser apontados como culpados de nada, conquistaram seu espaço, que é o de maior economia do mundo, com trabalho, com má situação para seus trabalhadores, é verdade, mas isto é um problema interno da China que não nos compete, foram conquistando espaço e poder por seu próprio mérito, não fizeram chicana no mundo, nem jogadas, nem se fizeram de polícia do planeta. Trabalharam, entraram e furaram em todos os países do mundo vendendo suas bugigangas; e ficaram ricos, riquíssimos, se os outros não fizeram nada e cederam espaço, pior para eles, os chineses não podem ser apontados. O mundo está prestes a mudar definitivamente, já mudou, mas a configuração definitiva está sendo adiada, sobretudo porque convém aos americanos do norte este adiamento, para manterem a falácia de sua supremacia, quando tudo isto desmoronar, cuidado, pouco vai restar de tudo que conhecemos e temos como referência.

O grande problema é que a Europa não soube, não sabe, ver que está num funil onde a colocaram, e que no funil só há espaço quando todos juntos fazem-no, e é entre eles, os que estão no funil, e não podem esperar que por fora a eles mesmos, no funil ou na sua parte exterior, vá ser criado espaço. Terão de partir deste aperto e irem conquistando seu espaço a partir deles mesmo, daquele aperto do funil onde se encontram. Nada lhes será facilitado, não conseguirão um milímetro que não seja conquistado por si mesmos. O problema de a Europa não ver sua condição,  é que a Europa se acostumou a olhar só para si mesma, e como que deslumbrada por sua beleza, esqueceu que há mais mundos por conquistar, ou que estes mundos a viriam conquistar, como ela fez outrora com eles, não perdoando nunca a fatalidade da ocorrência absoluta da condição de que o mais forte engole o mais fraco.


(*) Ninguém me tira da cabeça que estas duas crises que funcionaram juntas, e que começaram no 'sub-prime' dos Estados Unidos, não tenham sido orquestradas. Dentro da guerra das moedas, dentro da resistência do dólar que ao perder sua universalidade tinha inúmeras desvantagens, e não podia aceitar o euro de ânimo leve e sem nada fazer. Sigo cogitando que fizeram artificialmente estas crises, em que ninguém foi punido e que deu uma mão cheia de bilionários, e que tudo isto teve como único objetivo ATACAR A EUROPA! DESTRUIR O EURO!
Escrevi sobre este assunto os seguintes artigos: A couve de Bruxelas, Tirar as consequências das eleições europeias, Dívida impagável, UE: Só o dinheiro impõe-se, Dívida soberana: No Reino da Mentira, Que se lixe a UE, os três da série De boas intenções o inferno anda cheio, e Brave New World. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

A Grécia não vai entrar em incumprimento.






Agora que temos a loucura instalada. Agora que temos a insânia solta nas ruas. Agora em que tudo se tornou possível, porque um grupo de inadequados está no poder em diversos países, e não entenderam que a solidariedade entre nações que se formaram em união está acima de todos os outros valores que possam prevalecer dentro desta união, ou que estas nações têm o Direito de fazer diferente, e que podem e devem ser autônomas, manter sua independência e atender ao clamor de suas populações como primeiro objetivo, tudo pode acontecer.

Entre as coisas que podem acontecer estão:
                                                                     1. O fim do Euro.
                                                                     2. O  esfacelamento da União Europeia.
                                                                    3. A perda por parte da Europa  de sua dimensão política, e a consequente menorização de todo o continente, que desmilitarizado como está será presa fácil ou poderá ser o  epicentro de um conflito mundial,  mudando definitivamente a civilização como a conhecemos.
                                                               4. Ou mais restritamente só o desaparecimento da Grécia como nação.

Em qualquer uma das hipóteses, que no caso das três primeiras podem vir em sucessão, nenhuma será a melhor ideia para resolver uma situação que só depende de papel impresso, sim papel impresso pelo Banco central europeu, papel a que chamam euros, que, diferentemente do que se possa pensar, não tem nenhum valor real. O seu valor é fruto da riqueza produzida na zona a que está afeto, riqueza que é o único fator que o credibiliza, e o faz ter interesse a nível planetário, que foi no que se transformaram as economias de dinheiro sem lastro, onde tudo é uma questão de relativização dos valores afeitos ao país ou a zona onde a moeda circula prioritariamente, e, por isto, a solidariedade que devera ser um valor fruto da dignidade e do relacionamento positivo entre as nações, tornou-se um imperativo neste caso pela necessidade de coesão entre nações compostas num grupo, numa união, sobretudo monetária, para que aquele valor atribuído continue credível no âmbito das outras zonas por onde se propaga. Quando esta noção falha, falha a união, e tudo, mas mesmo tudo pode acontecer, por isto afirmando estas possibilidades comecei este artigo.


Vejo as coisas muito mal paradas se a Grécia tiver de emitir dracmas para resolver um seu problema, que é, além de seu, da zona econômica onde existe. Como a usura mencionada por Ezra Pound, este acontecimento será um câncer no azul, a corroer este azul, esta união de nações, onde se instalou. E, de acordo com a Lei de Gresham, sabemos que a moeda má expulsa a moeda boa, logo se houver uma Grécia com Euro e Dracma, em breve será uma Grécia só com dracmas, e em breve, tudo o que a Grécia quer evitar poderá vir a ocorrer, porque os euros que conseguir amealhar deverão ser insuficientes para saldar os compromissos de sua imensa dívida.


Porém o que pode morrer, o que a sobrevivência estará em causa com a rejeição de um apoio efetivo a Grécia em momento tão desesperado, quando há todo um povo que decidiu ir por um rumo, mesmo sabendo que talvez tenha de pagar um alto preço por isso, o que está em causa aqui e agora, é o futuro de todos nós, o nosso modelo de vida, o modelo de vida da civilização ocidental, que tem sido o padrão e o molde pelo qual todas as outras civilizações se querem formatar, alcançado maior ou menor similitude com o modelo, mas por muitos séculos tem sido assim. Perder este patrimônio é mudar tudo! Pode até ser que vá haver um modelo chinês, ou um modelo muçulmano, que, como tantas outras civilizações ao longo da história, a nossa esteja chegando a um fim, quem sabe? Entretanto sabe-se que nunca na história houve uma civilização capaz de atingir tantas realizações e materializar melhor modelo de sociedade do que esta , e que,  apesar de todas as dificuldades, por fim o poder foi parar à mão geral, foi para a mão do povo, e com isto estabeleceu-se uma sociedade mais justa, com este modelo a que chamamos democrático, que ao fim e ao cabo começou na Grécia. 




P.S. 6 de Maio -Conforme diz o artigo, hoje a Grécia deu mais um passo, pagou a parcela referente a sua dívida vencida neste  seis de Maio. NB: Sem receber nenhuma ajuda que a negociação não ficou resolvida, continua a novela.






domingo, 5 de abril de 2015

LOUVAÇÃO.






"Vou fazer a louvação, louvação, louvação, do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado." com a licença de Elis Regina e Torquato Neto, " meu povo preste atenção, atenção, atenção, e me escute com cuidado." Este processo de conquistas diárias dos que perseveram é louvável. "Louvando o que bem merece  deixo o que é ruim de lado":




  1. Louvo o jornalista que não hesita em fazer a pergunta incômoda, dele depende tanta justiça.
  2. Louvo quem tem princípios e coragem para correr riscos, e os oferece à sociedade.
 3. Louvo ao anônimo que em passeata reivindica Direitos para todos, inclusive para os que, na sua  
           comodidade, ficaram em casa.
  4. Louvo os têm coragem para denunciar, quando tantos calam.
  5. Louvo os que não se excluem, quando a 'prudência' é  norma.
  6. Louvo os que sofrem perseguição por ter indicado erros e faltas, quando é tão mais fácil calar.
  7. Louvo os que clamam e reclamam em Tribunal, porque não se conformaram com a injustiça.
  8. Louvo os que dão toda sua vida para que seus filhos subam um degrau que eles não conquistaram.
  9. Louvo os que usam sua capacidade de dar esperança, porque transcendem o humano.
10. Louvo os irascíveis e inconformados, porque eles almejam uma situação melhor.
11. Louvo os que dão sua vida na luta por Justiça, luta que é sempre reprimida com grande violência.
12. Louvo aos que mesmo calados dizem muitos com seus atos, quando muitos falam e não agem.


Louvo a palavra de quem tem força para usá-la.
Louvo, e mais louvo tudo o que deve ser louvado.



Há tanto para ser louvado neste mundo iníquo, onde a Justiça é uma conquista e não um Direito, mesmo assim dificilmente obtida, onde tudo se fez às custas de imenso sacrifício, e só a bravura  dos que ousaram e aceitaram pagar o preço, nos tirou de um mundo de privilégios para poucos, nos querendo colocar num mundo de igualdades e possibilidades para todos, o que vai sendo cada vez mais verdade, quanto mais louvor há destes que elenquei.

























quinta-feira, 2 de abril de 2015

As eleições mais caras do mundo.







As legislativas portuguesas de 2015, vão ser as eleições mais caras de sempre da história da humanidade . Não importando quanto vão custar, vão ser as mais caras, custarão muitos bilhões ao país, já estão custando. 

As eleições que se realizarão entre o fim de Setembro e princípios de Outubro, aguardando marcação pelo presidente da república, e que elegerá o governo do país que sai dentre os que são eleitos para deputados na Assembléia da república, onde o partido que for o mais votado constituirá governo, é o regime parlamentarista, terão um custo imenso ao país. Custo que não sei bem se o país o pode suportar.

Paralisando Portugal por um ano, que começou em Fevereiro, e que irá por este ano fora, as eleições legislativas, cujas contas de seu passivo começam com o custo dos juros da enorme dívida externa do país durante este 2015, que é em torno de oito bilhões, a que se irão somar os custos de milhões de vidas e expectativas paralisadas, que além do imenso custo humano, têm um custo que se pode medir em dinheiro, que é o dinheiro que é jogado fora na previdência social, mais o dinheiro que não é pago nem cobrado a cada cidadão que permanece no desemprego, mais o que ele não gera de riqueza para o país e mais o que não paga em impostos, mais o que custa ao Estado como desempregado, mais um ano de procrastinação de uma dívida impagável, que sabe-se lá onde irá levar o país, podendo mesmo este ano ser fatal, ser a gota d'água, aquela que entorna muito mais volume do copo que o que representa, desandando toda a coisa, e a coisa toda, podendo mesmo desestruturar o país definitivamente. Pobre Portugal e pobre portugueses!

Nesta novela de mútuas acusações e pouca, pouquíssima, substância governativa que se anuncia, irá todo o 2015, sendo que as contas não param, sendo que as necessidades continuam, sendo que o país espera uma rápida e eficiente administração que o faça crescer gerando empregos e esperanças para uma gente que não tem pão à mesa, e se o tem por caridade ou fraternidade, não o querem ter por estas vias, querem o fruto de seu trabalho, mas para isto é antes preciso que ele exista e que possa acolher a tanta gente que deseja e espera ansiosamente trabalho. As eleições que são uma manifestação de esperança para além de serem a festa da democracia, devem-se materializar em possibilidades, devem discutir rumos, devem promover expectativas possíveis, que ver-se-ão materializarem logo que um governo se eleja. Estas eleições, mais que todas, têm de materializar uma mudança de ciclo, um recomeço de possibilidades, e uma porta para que Portugal entre no universo das possibilidades do qual se afastou, tornando-se um país inviável nesta perspectiva em que se encontra, e da qual se deve falar sem medo e com verdade, no objectivo de buscar soluções e estabelecer caminhos pro futuro que dela a tirem. O que ninguém faz, independentemente do cenário macroeconômico.

Entretanto a hipocrisia dos mercados e as suas possibilidades de acesso, infantilmente, sem nenhuma tônica na realidade, mantém a ilusão que esta dívida é pagável no intuito incerto de se ir pagando, e renovando com mais dívida, até que um milagre aconteça, ou até que vá tudo ao fundo. Sou crente em milagres, e os espero bem, o que se dá porém é que eles não acontecem costumeiramente no dia a dia, e, ademais, para que aconteçam é necessário procurá-los, e é para isto que existem renovações, entre estas as eleições periódicas.


É verdade que a forma como a questão grega foi e está sendo tratada não recomenda nenhum contacto com a realidade, falar verdade é uma coisa muito inadequada, e, como tal, perigosa ou infrutífera, redundando uma exclusão, ou numa purga, ou, quem sabe, numa punição. O que, e nenhum caso altera a realidade. As coisas são como são, os problemas existem, para a Grécia existem aos borbotões, para Portugal aperta-se o laço, ainda que todos façam que não vêm, e a ditadura dos mercados mantem-se, e quanto menos se falar melhor.

Não sei como, assim, distante da realidade, sem discuti-la, sem pô-la sobre a mesa, se irá encontrar qualquer solução, mas é assim que as coisas estão, e parece que vão continuar. Talvez espera-se que as catadupas de dinheiro que se vai imprimir no BCE e se vai pôr a circular, ou com um suposto plano de recuperação econômica proposto pela comissão europeia, que ninguém sabe de onde virá o dinheiro para executá-lo, e com a boa vontade da banca que é quem vai se assenhorar das centenas de bilhões de euros que vão entrar em circulação, que com muito boa vontade comece a acreditar na economia real, esquecendo a do casino, que tem sido sua principal preocupação e objetivo, e por fim comece a compreender que toda a riqueza vem do trabalho e da Terra, e só da transformação desta criam-se mais valias que permaneçam.

Aguardando consciência, ansiando que alguém se dê conta de que  sem verdade nada se faz, e que finalmente, caídos na realidade, possamos todos falar de futuro e começar a construí-lo, veremos passar o 2015, com um custo de 10 bilhões, ou como preferem os portugueses, de dez mil milhões de euros, a ser acrescido à sua dívida, para financiar este ano eleitoral, ano de espera sem expectativas até agora que já se cumpriu um quarto dele.































quarta-feira, 1 de abril de 2015

A busca do avião da Air Malasia.





Gastaram já muitas dezenas de milhões de euros, e preparam-se para gastar mais dezenas de milhões para desvendar o mistério. É curioso apreciar como os seres humanos são capazes de empreender esforços e gastar dinheiro para esclarecerem um mistério, para acabarem com interrogações, mas não são capazes de gastar um cêntimo, um mísero cêntimo para  encontrarem uma solução definitiva para as centenas e milhares de pessoas que diariamente de África tentam cruzar o Mediterrâneo rumo a Europa numa fuga desesperada. Não são capazes de gastar um cêntimo de forma permanente e progressiva para erradicar a fome, esta maldição cotidiana que clama por soluções, e que não pode esperar. Não são capazes de ajudar as populações africanas que em África vivem sem horizonte. Não são capazes de engendrar soluções para extensas áreas do planeta sem recursos e sem viabilidades de um futuro digno. São capazes de fazer tantas coisas que requerem esforços e dinheiro, mas que não são prioritárias. E não são capazes de atender tantas outras que, como prioritárias, deveriam ver os esforços e os recursos disponíveis carreados para as tentar solucionar.

Vivemos num mundo com recurso cada vez mais limitados, sobretudo quando as exigências e expectativas do mundo moderno demandam mais recursos para serem satisfeitas, para verem atendidos os seus programas implantados, dispensando-lhes os meios necessários para que estes programas não estagnem, ou que estes programas venham a terminar, já que nos dias de hoje essas exigências são cada vez mais extensas e profundas, porque existem mais necessidades sociais a todos os níveis, desde mais formação, à maior necessidade de recursos para fundos que se deterioram com sua atividade financeira, desde problemas sociais novos que surgem com características novas que assumem os agregados sociais com o tempo, até mudanças geoestratégicas que se verificam no terreno, demandando mais recursos para corrigir, ou mesmo inverter, suas tendências.

O dinheiro não dá, na maioria dos casos, sequer para atender a tudo isto que ocorre a nível de cada país, quanto mais para promover auxílios internacionais. No entanto existem sempre recursos que são disponibilizados aqui e ali para ações várias que tencionam atender demandas internacionais, sobretudo para a guerra, esta incessante fonte de problemas, e consumidora de recursos infindáveis, que sempre aparecem para satisfazê-la, para permitir que ela progrida e consuma estes recursos, para matar, para deslocar, para exterminar populações inteiras, muitas delas que se tivessem sido auxiliadas em tempos de paz, teriam evitado a guerra, e os recursos hoje carreados para a guerra, se tivessem sido aplicados para evitá-la teriam sido muito menores e muito mais bem empregados, mas infelizmente não é assim.

O que temos é o emprego, a alocação de recursos sempre no mal sentido, sempre em prioridades equivocadas, havendo em última análise dinheiro para tudo, menos para fazer o bem, sem darem-se conta que este bem dos outros de hoje é o nosso proveito de amanhã, quase sempre. Empregam muitos e muitos milhões em coisas não prioritárias como esta busca do MH370, o avião da Air Malasia, já foi, já se perdeu, já não importa mais, se sobejassem recursos, tudo bem que se os pudessem gastar com isto, mas não é assim, e, se pensarmos em termos bélicos então os recursos que empregam são da ordem de bilhões, muitas dezenas de bilhões a consumir vidas e possibilidades, dispensando-se de sua utilização preventiva, e dispersando-se por ações que irão muitas vezes promover reações, num ciclo infernal no qual caímos para não mais sair.