sexta-feira, 10 de abril de 2015

O funil no qual não convinha ter entrado.





Juntaram dívidas a outras dívidas. Não se deram conta do que se estava passando. Permitiram-se, para manter seus modelos de sociedade, e num momento em que havia crescimento econômico generalizado, ultrapassar limites de endividamento com o consequente comprometimento do futuro, para muito além do comportável, desconhecendo o que isto ia representar. Não viram que no frágil equilíbrio da economia, surgiam outros agentes que alteravam totalmente a relação de forças existente, e que isto iria, como fez, criar uma dinâmica totalmente nova à qual teríamos que nos adaptar, e adaptar custa tempo e dinheiro. Empenharam mesmo toda a sociedade, para manterem ilusoriamente seus próprios moldes de funcionamento, hipotecaram premissas de margens de boa gestão econômicas com a credulidade  de quem espera ter outras fontes de riqueza a seu dispor. E vão todos pagar caro por isto. 

A única verdade que permanece é a da pobreza. Os mercados fizeram seu trabalho! (*) Portugal, Grécia, Irlanda, Itália, Espanha, França, e até a Alemanha, estão todos mais pobres. Perderam empresas, perderam clientes, perderam espaços de comercialização que demoram anos a se formar, perderam definitivamente poder de compra, e capacidade negocial, as reservas, e tudo que há, são dívidas, dinheiro que custa dinheiro, e que se dão alguma tranquilidade a curto e médio prazo, dão desespero a longo prazo. Continuamos a cavar num buraco que nos enterra cada vez mais, porém o mais grave é que este buraco onde nos encontramos fica a cada momento mais apertado pela terra que geramos ao cavá-lo.

A imagem que mostra bem o que está acontecendo é a de você estar dentro de um funil, ou se está parado porque obstruiu-se a circulação, ou move-se, mas é  sempre para baixo, e quanto mais para baixo se vai, mais apertado fica, e menos espaço de manobra há. A forma de não se ir para baixo e obstruir a circulação o que para tudo e deixa tudo na mesma, como está, sem hipótese de solução. Estamos no famoso beco sem saída, que, neste caso, é o nosso funil.

O grande embuste de que os mercados diminuindo suas taxas de juros tornarão pagáveis dívidas impagáveis, para irem todos ganhando tempo para adiar um desastre que por ser adiado todos os dias não deixará de sobrevir, não deixará de acontecer, e este desastre, que será a crise definitiva, ou faz sucumbir o euro, voltando a tocar sozinha a moeda do dólar por algum tempo, ou desde já, pois que ou já, ou logo a seguir, assim será; o Yen passará a prevalecer, como já prevalece sua economia que, num longo e demorado trabalho, paciente e bem construído, como só mesmo os chineses sabem fazer, conquistou o mundo. Mas os chineses não merecem ser apontados como culpados de nada, conquistaram seu espaço, que é o de maior economia do mundo, com trabalho, com má situação para seus trabalhadores, é verdade, mas isto é um problema interno da China que não nos compete, foram conquistando espaço e poder por seu próprio mérito, não fizeram chicana no mundo, nem jogadas, nem se fizeram de polícia do planeta. Trabalharam, entraram e furaram em todos os países do mundo vendendo suas bugigangas; e ficaram ricos, riquíssimos, se os outros não fizeram nada e cederam espaço, pior para eles, os chineses não podem ser apontados. O mundo está prestes a mudar definitivamente, já mudou, mas a configuração definitiva está sendo adiada, sobretudo porque convém aos americanos do norte este adiamento, para manterem a falácia de sua supremacia, quando tudo isto desmoronar, cuidado, pouco vai restar de tudo que conhecemos e temos como referência.

O grande problema é que a Europa não soube, não sabe, ver que está num funil onde a colocaram, e que no funil só há espaço quando todos juntos fazem-no, e é entre eles, os que estão no funil, e não podem esperar que por fora a eles mesmos, no funil ou na sua parte exterior, vá ser criado espaço. Terão de partir deste aperto e irem conquistando seu espaço a partir deles mesmo, daquele aperto do funil onde se encontram. Nada lhes será facilitado, não conseguirão um milímetro que não seja conquistado por si mesmos. O problema de a Europa não ver sua condição,  é que a Europa se acostumou a olhar só para si mesma, e como que deslumbrada por sua beleza, esqueceu que há mais mundos por conquistar, ou que estes mundos a viriam conquistar, como ela fez outrora com eles, não perdoando nunca a fatalidade da ocorrência absoluta da condição de que o mais forte engole o mais fraco.


(*) Ninguém me tira da cabeça que estas duas crises que funcionaram juntas, e que começaram no 'sub-prime' dos Estados Unidos, não tenham sido orquestradas. Dentro da guerra das moedas, dentro da resistência do dólar que ao perder sua universalidade tinha inúmeras desvantagens, e não podia aceitar o euro de ânimo leve e sem nada fazer. Sigo cogitando que fizeram artificialmente estas crises, em que ninguém foi punido e que deu uma mão cheia de bilionários, e que tudo isto teve como único objetivo ATACAR A EUROPA! DESTRUIR O EURO!
Escrevi sobre este assunto os seguintes artigos: A couve de Bruxelas, Tirar as consequências das eleições europeias, Dívida impagável, UE: Só o dinheiro impõe-se, Dívida soberana: No Reino da Mentira, Que se lixe a UE, os três da série De boas intenções o inferno anda cheio, e Brave New World. 

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