terça-feira, 14 de abril de 2015

Adeus às armas, às palavras não.






                                                                                    "Vem, vamos embora que esperar não é saber."
                                                                                                                            Geraldo Vandré.



Após trinta e sete anos de silêncio Geraldo Vandré deu uma entrevista que terá alegrado bastante a muito torturador, revelando um Vandré transtornado, evasivo e em negação. Não me doeu, porque pouca coisa ainda me dói, mas certamente foi mais uma vitória da ditadura desfocar meu herói da palavra cantada, apagando para sempre a gloriosa verve, refugiada na negação, inteligente como sempre, apontando um Brasil massificado, com uma realidade que não deseja, que, apesar dos pesares é o nosso Brasil, aquele pelo qual lutamos, pelo qual morremos e com o qual temos que nos defrontar, continuando a luta porque sua realidade ainda é muito distante daquela que desejamos, dá-me vontade de dizer: A luta continua!

Entretanto quando aceitamos em 80 a anistia, aceitamos o caráter de sua generalidade, de sua máxima envolvência, e de que sem restrições assim fosse, portanto não aponto o dedo a ninguém, mas sabemos que há muita coisa que não merece perdão, e se abandonei as armas, não abandonei a palavra, e perante ao muito que fizeram, não me posso calar, nunca me calarei!

Este Vandré lavado, afastado do brilho de sua contestação, sem falar de flores e sem falar de balas, não é propriamente bom, porém não esperava muito de um homem com quase oitenta anos, que passou a metade de sua vida em silêncio, após ter tido um lugar cimeiro na esperança do Brasil, e não se esqueçam de qual é nossa profissão, a mais linda de todas, que o Vianinha nos arranjou, e que a encaramos como profissão de fé.

Não, não podia querer milagres, mesmo que esta tenha sido a história de minha vida. Nunca esperei que nada acontecesse, corri atrás. Porém esperava de um dos meus heróis, o da palavra cantada, ouvi-lo reafirmar que: Valeu a pena! Pois sempre vale a pena quando a alma não é pequena, agora calar não, a pior coisa que há é calar. Todos vivemos de, e com, preocupações, umas maiores, outras menores, não importa! Seguimos em frente. Agora tirar a força de quem canta é o matar duas vezes. Pois quanto a mim, apesar das misérias que passo todos os dias como subproduto de tudo que fiz, como a dura fatura que tenho de pagar por ter sonhado um Brasil melhor,  não me arrependo de nada: Sigo cantando. Valeu a pena! Faria tudo de novo. Tudo de novo outra vez!

"Vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora" e eu tenho a sensação e a consciência irrecusáveis de que fiz a minha parte, que afinal era a do Brasil. Mesmo não tendo evitado a derrubada do prédio da UNE, o meu não, a minha oposição, disse que o Brasil não ficaria mais calado, e que era a hora, e ninguém esperaria acontecer.

Portanto com o respeito que lhe é devido, saúdo desde aqui Geraldo Vandré, porque um homem é seu passado, se sente dores, se sente angustia, se perdeu o rumo, ficam suas canções, ficam suas palavras, porque estas sempre ficam, são eternas, e  nunca as poderão calar, fica seu grito, sua conclamação, seu Canto Geral das Terras de Benvirá, que sempre nos assinalará que é Hora de lutar, porque A luta continua! Vamos embora...





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