quinta-feira, 13 de junho de 2013

LUTA DOS PROFESSORES.


Que diferença faz 17 ou 20?

« Eu não tenho nada a ver com isto,
Nem sequer nasci em Niterói.
Não me chamo João.
E não tenho, não, qualquer vocação pra ser herói...»



Diz Vinicius este refrão delicioso numa canção que fala do Brasil, e eu como brasileiro e não português, repito-o para mim, agora ainda mais depois da grande quantidade d'emails que recebi à conta da carta aberta que escrevi ao Ministro das finanças portuguesas, Dr. Victor Gaspar. Talvez seja que diferentemente do que diz a música, eu nasci em Niterói e por isto ela não soa pra mim. Além do mais, mesmo havendo muitos assuntos sobre o que poderia ou deveria escrever, minha predileção vai sempre para o que me causa maior indignação.

Eu não tenho nada a ver com isto, mas não posso deixar de me indignar quando vejo o ministério da educação e o governo de que faz parte, insistir na data dos exames em 17, com a única finalidade de humilhar os professores. Não posso supor outra razão. A não ser a da consequência direta desta insistência, que é fazerem os professores passarem pelos maus da fita e, é claro, se discutir muito este assunto, fazendo esquecer todas as outras mazelas provenientes da sua governação.Uma de muitas teimosias ou do prazer em contrariar, característica destes governantes, como se viu já muitas vezes e também agora na marcação das autárquicas,e, mais grave, no pagamento atempado do subsídio de férias, no entanto há sempre uma realidade subjacente.


Eu não tenho nada a ver com isto, é verdade, mas não posso deixar de me emocionar quando vejo a dignidade deste grupo humano, o mais importante em qualquer nação, os professores, abespinhada, humilhada, malbaratada, desprestigiada e relegada a um plano de menor interesse, para não dizer mais, quando sua figura é central na formação de toda a gente do país, não consigo comprender os que os governam, mas consigo admirar os porofessores e sua dignidade e força, ao manterem sua luta contra tudo e contra todos, não resignando. A ideia que os move, num mal momento escolhido pelo governo, o fim do período lectivo, com já todos os estudantes em provas, para não ceder às medidas anunciadas é lutar por manter as condições de trabalho de que dispunham e, é bom lembrar, as condições de trabalho dos professores são as condições do ensino em qualquer país onde estas condições existam.

Eu não tenho nada a ver com isto mas não posso deixar passar despercebida, sem louvá-la, a mensagem que lançaram para manter sua luta e manter sua cara e sua dignidade, indo buscar à estrofe 40 do Canto primeiro dos Lusiadas a idéia central que os move a não desistir do que começaram e são estas as palavras:
« E tu, Padre de grande fortaleza,
Da determinação que tens tomada,
Não tornes por detrás, pois é fraqueza,
Desistir-se de cousa começada.»
Nada mais oportuno e digno para se dizer, além do que as palavras do Poeta Maior são irretocáveis, não se pode nunca na vida deixar de considerar este aviso deixado há cinco séculos por Camões. É fraqueza desistir de coisa começada, não há dúvida. Não o é mudar a data de 17 para 20, como sugeriu o Tribunal Arbitral,para não prejudicar os estudantes.

Eu sei que não tenho nada a ver com isto mas não posso deixar de lhes dizer «Que se aqui a razão se (..) mostrasse Vencida do temor demasiado,» estariam os professores fugindo ao seu mais indeclinável dever, o de defender aquilo em que acreditam, com as armas únicas que dispoem: A SUA DIGNIDADE EM LUTAR ! E o que aqui deixo dito são as palavras de Camões na estrofe anterior na situação oposta. Esta gente lusitana é mesmo admirável, e tenho muita honra em descender dela, assim como creio que o Brasil a tem. A Presidenta Dilma esteve aqui em Portugal em meio a isto tudo , manteve a sua posição de Estado, mas deixou claro pelos contactos que estabeleceu e pela suas atitudes e expressão facial o que pensa de tudo isto e de que lado está, ninguém deve esquecer que ela foi guerrilheira como eu, mas, como eu, Ela não tem nada a ver com isto, mas não se furtou a demonstrar, dentro dos limites possíveis, o que pensa.

Eu sei que não tenho nada a ver com isto além de minha filha luso-brasileira que receberá um país diminuido economicamente, mas só economicamente, posto que está gente, que deu mundos ao mundo, não descura de sua honra, de sua dignidade, de suas crenças e de seu saber, e é isto o que importa.

Sem comentários:

Enviar um comentário