sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"Alors ils iront obéir !"


                                                                                                                     frase de Ségolène Royal no
                                                                                                                     dia da eleição de Hollande.


A legislação inclusive dá um estatuto especial aos testemunhos em tribunal das esposas por várias razões, mas a primeira que nos ocorre à todos é, evidentemente, a relação próxima da mulher com seu marido conhecendo-lhe as fragilidades e características, melhor que outra qualquer pessoa, talvez exceção feita aos pais.

Fazia a afirmação, com a qual intitulei este artigo, perante o povo reunido em Paris para festejar a vitória eleitoral do partido socialista, encabeçada por seu ex-marido, a Deputada Ségolène Royal, que por razões diversas de proximidade (amorosa, conjugal, ideológica, política, partidária etc...) deveria ser a pessoa que melhor conhece o Sr. Hollande. Quanto engano, exatamente como a atual esposa que parece também não conhecê-lo e baixou hospital quando descobriu o engano de seu envolvimento com este homem. 

Como se viu, e reservo-me em não comentar todas as promessas eleitorais do Sr. Hollande candidato, as expectativas que gerou pela Europa  fora, pelos socialistas terem voltado ao poder na segunda maior potência européia, acreditando-se que faria o contrapondo com a direita no poder na primeira potência, e a desilusão geral que causou. A afirmação da ex-Senhora Hollande referia-se aos patrões, aos banqueiros, que até então, numa França de direita, tinham mandado e que, agora, no momento ao qual me refiro, iriam, então, começar a obedecer, porque o Sr. François Hollande com seu maravilhoso modo de agir os iria obrigar a isto.

Quão enganada esteve a deputada Royal, quão enganados foram os eleitores, quão defraudadas foram as expectativas de todos aqueles quanto viram no Sr. Hollande  uma esperança. Eu não!  E já vos direi porque.
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No entanto para o fazer, preciso contar uma história que se passou comigo há muitos anos, quando o Darcy Ribeiro disputava o Governo do Estado do Rio de Janeiro na sequência do Governo Brizola, tendo como adversário o ex-prefeito de Niterói, Wellington Moreira Franco, genro do genro de Getúlio Vargas, e eu trabalhava na coordenação da campanha do Darcy, por idealismo, e certo dia recebemos a visita de um grupo socialista francês que veio prestar sua ajuda e respeito ao grande sociólogo, candidato naquele momento, e tínhamos sido a ultrapassados, ou quase, pela candidatura oponente, e isto nos afligia à todos. Sentindo a pressão que se vivia na sede da campanha, recordo-me que um dos socialistas franceses quis conhecer a figura do opositor do professor Darcy. Alguém trouxe-lhe um fotografia do Moreira Franco e, impressionado com a figura, ou pouca figura, razão de nossas preocupações, fez, apenas, o seguinte comentário ao contemplar a imagem: " Mais il ne pleine pas une photo!"  E ele ganhou e nós perdemos.

Quando eu vi a figura do Sr. Hollande, inclusive ao vivo em Paris, por onde andava nesta época de sua eleição, ocorreu-me logo a frase do socialista francês que nos havia visitado no Rio naquela oportunidade. E como o Sr. Hollande não enchia uma foto, como não enche, assim vaticinei sua eleição, e acertei; e compreendi que sua inexpressividade era a prova provada de que os que são como ele sabem que as oportunidades não se podem desperdiçar e não se pode deixar passar uma chance, seja a que preço for, e que sempre dirão uma coisa, para fazer exatamente seu oposto. 

Está visto que os anódinos inexpressivos quando atingem o poder, o fazem primeiramente, se não exclusivamente, por si, e seus interesses. E suas crenças mais profundas, se existem, são secundárias. Está visto que esta condição de neutros é um fator preponderante para sua eleição, «o povo» prefere os menos intensos, logicamente menos ideológicos, falamos daquela larga faixa do centro, em que se colocar, ou se dizer, mais à esquerda, ou mais à direita, agrada mais, consequentemente os que comungam ou se empolgam, à cada oportunidade, com esta tendência, porém, tendo a certeza da âncora bem firmada ao centro. É uma escolha parcimoniosa! Esta escolha, parcimoniosa, da maioria é seu maior engano. Parece que, agora por toda a parte, são este os que se ocuparam da política nos diversos países e as opções são a de pular da panela de azeite fervente para cair no fogo que a envolve.





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