quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

VALORES

Super-Papa

                     Neste princípio de milênio nós vivemos uma crise de referencias mais que tudo. Perdemos os referenciais porque deixamos que se lhes ocupassem os lugares outros valores que são pseudo-valores, são falsos como notas de três euros, mas como têm escrito nelas ' 3 Euros'  todo mundo pega.  E porque?   Primeiro de tudo porque fomos enganados pela insidiosa manifestação destes outros valores, que, tendo a capacidade de seduzir, tiveram, e têm, a torpe capacidade de nos dominar. Crédulos de que os valores do conforto, do bem estar, da família em situação tranquila, eram os mais importantes, posto que são de enorme importância, esquecemos que acima destes valores todos esta um, que por inerência, está aparentemente presente nas nossas vidas de sociedades modernas democráticas : a liberdade. Nem sempre!

Sim perdemos a liberdade,(1) política primeiramente, porque os países se envolveram até a ponta dos cabelos, se por acaso ainda têm cabelos os países, sujeitos aos sistemas econômicos e financeiros de poder que os dominam, (2) depois perdemos a liberdade social, porque uma sociedade só é livre quando pode fazer sua escolhas independentemente de qualquer pressão, de qualquer ordem, que é o que não acontece, e (3) por fim perdemos a liberdade econômica, porque só pode fazer escolhas econômicas consoante suas prioridades, quem tem liberdade financeira. E é este o busílis, a liberdade financeira, roubaram-nos a liberdade financeira permitindo que o dinheiro ganhasse um protagonismo que não tem. Ou seja o instrumento transformou-se em instrumentador, os meios transformaram-se em fim.

Isto dito, a conclusão é que vivemos uma época de inversão de valores ou de perda deles, porque esta sujeição aos mercados, esta priorização do dinheiro em nossas vidas, esta ação de uma realidade financeira que rouba em segundos, décadas da ação econômica, é uma subversão da ordem das coisas, que vamos penar muito para reinverter, se é que o conseguiremos.

Entretanto anda todo mundo por aí perdido em meio a estes falsos referenciais, acreditando estar fazendo o que é certo, acreditando estar governando (nós as nossas vidas, os políticos as de nós todos) quando na realidade estamos tudo e todos sujeitos aos interesses e prioridades dos mercados e suas decisões acríticas e sem sentimentos, amorais em sua maioria, que seguem como avalanche de verdade, sendo de mentira, que são. Anda todo mundo sem saber para onde vai, acreditando que irão ter a bom porto. E isto vai roubando lentamente à tudo e à todos, à cada um de nós e à nós todos, o discernimento do que é verdadeiramente importante. Enquanto não redescobrirmos o que é que deve regular as sociedades, com o que devemos expressar nossas vontades no sentido de atingirmos a felicidade, e felicidade  dá satisfação, mas satisfação não é felicidade. Enquanto não ponderarmos quais são as coisas que realmente precisamos para sermos felizes, e entre elas certamente não está o último modelo de 'I pad', e procurarmos centrar nossas vidas naquilo que nos torne permanentemente maiores e mais ricos, e não falsa e ilusoriamente em coisas que nos alegram, é verdade, mas não nos acrescentam nada.

Para isto é necessário pensarmos e sentirmos. A primeira condição até a grande maioria o faz, mas a segunda, requer outras condições e pré-requisitos que tornam sua consecução um pouco mais difícil. Nós só somos capazes de sentir uma determinada coisa na sua plenitude, e enquadrá-la na  sua real importância, quando sabemos, por experiências anteriores, nossas ou que nos tenham sido legadas, o peso que esta determinada coisa e situação tem num quadro muito amplo a que chamamos vida, nossas vidas. Este enquadramento é fruto de relações familiares, profissionais, de amizade, sociais, de informação, de observação, etc... onde, tudo isto junto, estabelece em nós o sentido de importância que deve merecer determinado assunto ou determinado bem, face a este conjunto de pré-condições que no fundo não variam muito para cada ser humano, posto que em essência somos muito parecidos, e ao qual chamamos valores. Se não cultivarmos isto, ou melhor não deixarmos que isto aconteça em nós, porque estamos voltados para outros interesses que um ambiente sempre em movimento nos sugere, não somos nada, não consolidamos nada, e, tristemente vejo hoje, e este hoje já tem décadas,  cada vez mais pessoas que não tem uma sua lista de prioridades éticas, mas que têm muitas listas de prioridades econômicas e materiais. É lamentável!

E é esta a crise de nossos tempos: UMA CRISE DE VALORES! Enquanto não repusermos um modelo de sociedade que restabeleça o que é ou não verdadeiramente importante para nós, e que nos dê, neste contexto, um ambiente de verdade, ou seja que referencie as coisas que realmente importam, livres de toda a influência de coisas passageiras ou modismos, criando ou recriando uma sociedade mais estável e tolerante que nos faça feliz, não teremos a mínima possibilidade de ajustarmos os parâmetros das nossas avaliações e ponderações, e permaneceremos nesta mentira, nesta ilusão de que tudo se resolve com dinheiro.

E as pessoas estão ansiosas por reconquistarem uma alegria perdida em suas vidas, estão anciosas por terem referências que as façam situadas, que possam dizer com quais parâmetros e com quais paradigmas se governam, e, então, com estes valores bem presentes, se tornarem felizes. Hoje, como perdeu-se tudo isto, andam todos em busca de algo, que não sabem o que.

Este Papa, pelo que tem falado até agora, é alguém que tem, muito diferentemente de outros papas, estas refrerências bem presentes na sua vida. Seus valores são balizas que dão-lhe uma capacidade de avaliação das coisas deste mundo a um nível muito alto. E é por isto que as pessoas estão ansiosas. Curiosamente já vi até islamitas, judeus, teosofistas, agnósticos, entre muitos outros, admirando as ideias que o papa tem, e os pontos que ele tem colocado à nossa consideração. É por isto que ele é o homem do ano da Time Magazine e é por isto que pela primeira vez um papa, ele, é capa da Rolling Stone, com o jornalista da revista deliciado com ele, tendo afirmado que uma conversa com Francisco é " um escândalo de realidade". Grande Francisco, Super-Franciscus! E realidade é sempre o mais que precisamos.

Quando vi o grafite das ruas de Roma, que põe Francisco como o Super-homem,  o Super-papa, e que as armas com as quais combate o mal, ou as coisas as quais defende e preserva, estão numa pasta a qual está rotulada VALORES ; vi que o artista, o grafiteiro, tinha acertado na mosca. Porém se o artista anônimo acertou, mais ainda acertou Francisco ao inspirá-lo, porque ele está tocando nos pontos chaves, fulcrais, das expectativas das pessoas hoje. Esperemos que isto venha a ter consequência, que de alguma forma ele possa levar à todos aquilo de que todos estamos muito necessitados, que é estabelecermos e pormos em função operacional, uma lista prioritária de VALORES pelos quais vivamos.

Que Deus dê forças a Francisco!  



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