quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

"Su di me." - A guerra surda 3.




A capacidade de falar sem dizer nada, tão importante para os diplomatas e políticos em situações adversas, porque não pode calar-se, como não pode comprometer-se dizendo algo mais concreto, sendo contra ou a favor em determinado tema controverso. Capacidade que tem o clero máxime, pois que são treinados a vida toda para isto, e, entre seus membros, essa habilidade é maior no topo da hierarquia, e, como expectável, é maior em seu pontífice máximo, o Papa.

Essa forma de estar cai mal, porque as pessoas sempre esperam sinceridade e verdade absoluta de seus líderes, e, quando esta cede lugar a mistificação e ao engodo, à cortina de fumo para encobrir verdades funestas, e incômodas, fica tudo sob a égide da mistificação. E o que se esconde, ou mistifica, acaba por revelar-se miserável, desgraçado. E  nenhum desses adjetivos podem servir aos papas, por isso eles raramente ou nunca se manifestam sobre essas questões incômodas. Porque em manifestar-se sem dizer nada, o que também acontece, mas raras vezes, ficavam muito desacreditados, por isso calam-se.

Francisco não é desses. Francisco diz tudo muito claramente, não foge às questões, enfrenta-as. Francisco trouxe a Igreja para uma luz que, por fim, a poderá salvar. Muitos dirão que ao revelar essas verdades malditas promove a ruína da Igreja, outros dirão que Francisco é um incongruente, que se atira a questões que deveria passar ao largo. Eu, que não sendo católico apostólico, amo Francisco na figura do homem Bergólio, verdadeiro, honesto, sincero, sou obrigado a vir a campo defender-lo, e para isso lembro duas verdades, 1 - uma que é uma antiga máxima de um papa, e que o povo adotou: 'Quem cala, consente.' (De Bonifácio VIII numa de suas decretais, que lhe custaram a vida.) E que deve ser completada com a ideia de que calar é se omitir, e omissão é conivência. 2 -Esta, com toda sua carga mística  espiritual, é dos maiores ensinamentos que nos deixou Jesus: 'E conhecereis a verdade, e a verdade Vos libertará.' (João 8:32.) O Jesuíta Francisco não pode deixar de ter presente, nenhuma dessas duas máximas, nenhum dos dois ensinamentos.

Enganam-se, como se enganou Theodor Edgard McCarrick, cardeal da capital dos EUA, que acreditou ser intocável debaixo da túnica sanguínea e do barrete púrpura, símbolos do sangue que deveriam estar dispostos a derramar na defesa da Igreja. Francisco não se assustou com as repercussões na media, com o grande poder do Cardeal Americano, com a riqueza que controla ou com sua influência em Washington, capital do poder, e o expulsou do clero, o ex-cardeal não é mais membro da Igreja, agora é laico. Francisco não brinca em serviço. E ao referir que as decisões têm de ser tomadas como norma no seio da Igreja, está dizendo as implicações a quem desobedecer, está indicando que estão todos comprometidos. Mc Carrick havia violado o sexto mandamento, e pecara contra a castidade, ao abusar sexualmente de menores. Que perdão podia esperar? Só uma Igreja torpe e temerosa recuaria na punição. Mas essa tinha sido a face da Igreja, covarde e fujona, sempre a ocultar, até Francisco. Uma Igreja que encobria, que ocultava a perversão de seus membros para parecer honesta, imaculada. A Igreja, vários Papas a declararam, é, além de divina, obra terrena, portanto imperfeita, e, como tal deve ser apresentada ao mundo, como sendo do mundo, como é. Agora não irá admitir mais uma reação defensiva de encobrimento, numa suposta defesa da instituição. Isso acabou!

Francisco não está para meias medidas, e vai reformar a Igreja, a vai transformar num ambiente sadio, de tal ordem que eu até serei capaz de passar a frequentá-la. Esse Papa sabe que a igreja está conspurcada (Veja o que refere no terceiro ponto.) e que tem de atuar, não há depois, é agora! Ave Franciscus. Apesar dessa cimeira ser só um divisor de águas, pois os princípios já estavam todos lá, eram todos conhecidos, é muito importante a demonstração de intolerância com os abusadores, porque as altas figuras da igreja, quando não são ladrões, são pederastas, quando não são ladrões nem pederastas, são pedófilos, e também os há que sejam as três coisas, como há os que não são nenhuma das três, mas essa convivência, e antiga impunidade, onde só a sua simples existência é em si um descrédito para a Igreja, é intolerável. Vamos aos oito pontos que Francisco fez aprovar e que os quer ver cumpridos já. Instam por medidas concretas e eficazes. Essa conversa mole de transformação lenta, de condescendência, de esperar um pouco mais ainda, acabou!

"Clareza e purificação." Diz o editorial do Le Figaro.
"Papa conclama a batalha total conta abusos" Diz o editorial do NY Times.
"Papa conclama fim do encobrimento" The Washington Post.
"Praga monstruosa, injustificável na Igreja" Corriere della sera.
"Não há mais escusas." CNS.
"Papa conclama todos a batalha." Frankfurter Allgemeine Zeitung.
"Papa avisa abusadores da ira de Deus." CRUX.
"Papa compara abusos de crianças a sacrifícios humanos" The Times - London.

AS OITO LINHAS DE AÇÃO DE FRANCISCO CONTRA O ABUSO SEXUAL DE MENORES:

1. A proteção das crianças. Onde diz: "Prioridade as vítimas em todos os sentidos."
2. Seriedade impecável. Onde diz: "Entregar a Justiça toda pessoa que tenha cometido tais delitos."
3. Uma verdadeira purificação. Diz: "A santidade do pastor é um Direito do povo de Deus."
4. A formação. Diz: "Seleção e formação aos candidatos ao sacerdócio."
5. Reforçar e verificar as diretrizes das Conferências Episcopais. Diz aos bispos: "Aplicar normas e não apenas diretrizes."
6. Acompanhar as pessoas que sofrem abusos. Diz: "É dever da Igreja."
7. O mundo digital. Diz: "Todos os cristãos devem estar atentos."
8. O Turismo sexual. Diz: "Perseguir legalmente os criminosos."

Falar é fácil. Dizem muitos dos que não acreditam que a Igreja irá mudar, tem sido assim desde as orgias do Papa Medici e de todos os seus bispos, e, como todos sabemos, que fazer é imensamente mais difícil, mas ninguém acreditava que o banco do Vaticano conseguiria acabar com a lavagem de dinheiro lá instalada, todavia parece que acabou. Francisco está decidido, e não é nada ingênuo para não saber da enorme tarefa que tem pela frente, numa Igreja corrupta e acostumada a essas perversões desde há muito tempo, mas a lenta e persistente obstinação de Francisco também tem demonstrado sua eficácia, só devemos orar para que ele tenha tempo de concluir sua obra.





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