domingo, 23 de agosto de 2015

A grande vaga humana.




Como se fora uma onda de um tsumani, a palavra em português é maremoto, essa imensa vaga humana encrespa-se Mediterrâneo fora vindo ter às costas europeias, desembarcam por praias em ilhas, e, mais raramente na costa continental, sempre as mais próximas, as que conseguem atingir, desde que estejam no continente europeu, representado aí pelos diversos países que têm voltado para esses pontos parte de seu território, assim Grécia e Itália, pelas posições insulares e peninsulares em que se encontram, são o alvo preferencial, como é compreensível.   


Uma enorme onda de gente, vale dizer, de carne, de ossos, de sangue, de nervos, de desejos e de esperanças, buscam açodadamente o futuro, porque acreditam que têm direito a ele, quem não o tem? Buscam outras plagas que lhes possa dar o que suas terras natais não lhes proporcionam, buscam a paz, posto que fogem das guerras, buscam a vida, visto fugirem à morte que assola suas cidades, seus bairros, suas casas, casas que não têm mais, bairros que lhes foram subtraídos, cidades que foram invadidas, arriscam a morte porque esta lhes fustiga os calcanhares de onde vêm, podendo alcançar-lhe na estupidez de uma bala perdia, no mau humor de um combatente islâmico, num olhar mal interpretado, por isso fogem, para que não sejam imolados nem sacrificados a um deus que não é o seu, como mais muma vez muitos franceses inocentes iam ser metralhados indiscriminadamente no trem por um perigoso e covarde terrorista que resolveu fazer essa ação sem mais porque, e que só não a concluiu porque a mão do destino, ou Deus se preferirem, colocou três soldados norte americanos bem treinados onde ia-se dar o massacre. Por isso foge essa onda humana, por isso aceitam todos os riscos esses milhares diariamente, e quando em outro artigo (A Europa dos 40 mil.) afirmava serem milhares, na verdade milhões, fui criticado, mas aí estão eles todos os dias nas notícias invadindo nossas casas e testando nossa insensibilidade, nossa indiferença diária à vida, ao sofrimento, à desgraça alheia, alheios somos nós que nos alheamos da nossa decência, da nossa civilidade, duas componentes básicas dos homens antigos, que, aliadas à cortesia davam a dimensão de valores que se cultivavam desde tempos imemoriais, não se esqueçam que Deus destruiu Sodoma e Gomorra pela falta de civilidade em receber aos estrangeiros, e não por outras razões depois propaladas, releiam a bíblia e se esclareçam se duvidarem de minhas palavras frente a força da mentira repetida.


Vagueia essa enorme onda na busca, à cata de comiseração, que impiedosamente lhes negamos, hoje chega a notícia de um trem da esperança, por terra, como não podia deixar de ser, partindo de Gevgelija, lê-se guerdguélia, um ponto remoto na Macedônia, buscando a Sérvia, o que lhes dará acesso ao rico norte europeu, e para isso se esfaqueiam nessa estação antes que as 72 horas de seus vistos expirem, buscam auxílio, e para isto estão despostos a tudo, morrer será apenas uma circunstância, e muitos têm morrido, as águas calmas do Mediterrâneo nessa época do ano têm servido de sepultura a muitos milhares, com o inverno que se aproxima, quando o Mediterrâneo torna-se bastante mais perigoso, serão muitos mais milhares os cadáveres em suas águas. Entretanto a vaga imparável prossegue, nem o medo da morte é capaz de pará-la, e porque isso?



Tudo o que a Europa e o mundo façam nessa área para solucionar o problema, não resolverá o problema, porque ele é visível, muito visível, aqui no Mediterrâneo, mas está é a ponta de cá do problema, porém a sua origem está na ponta de lá do problema, está onde viviam esses desgraçados, onde tinham suas casas, suas famílias, suas economias, seu trabalho, e é aí que o problema tem de ser atacado, não podemos fazer que não vemos que há Direitos inalienáveis do Homem que estão sendo defraudados, e os que não fogem morrem ou são de certa forma escravizados, se deixarmos isso prosseguir qualquer dia o problema estará a bater nas nossas portas, não como está batendo agora com os que fogem, mas com os que os fazem fugir. 

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