Cá e lá mais fadas há!
Andam todos por Portugal
ensarilhados, usemos essa deliciosa palavra lusitana, por causa de dois
fantasmas do tempo. O primeiro deu-nos os pesquisadores de opinião das
campanhas do Obama – Yes, We can – que foi a resposta encontrada para a necessidade
de confiança que pairava no ar, e não era só na atmosfera dos Estados Unidos, a
rarefação era mundial, conforme até agora se confirmou em todos os lugares em
que se fizeram pesquisas de opinião, certamente na Coreia do Norte não será
assim, lá têm-se muita, enorme confiança no futuro, nos governantes, que são só
um, nas possibilidades de progresso material, cultural e político. Não considerando
esses paraísos terreais, outra forma de dizer lusitana, o resto do mundo anda
inquieto por confiança, em que confiar, para não dizer em quem, esse quem que é
um ‘que’ almado, um neologismo com base lusitana, que significa ser com alma,
que costumam ser os seres humanos, mas não todos certamente, porque em que
confiar, como em quem confiar, coisas muito próximas, anda lá muito difícil
nestes dias do terceiro milênio, o que é uma condição necessária e suficiente
para que as coisas aconteçam: Se você confia, segue junto com o que confia,
apoia-o, participa, ajuda-o, colabora, e neste confiar a essência de tudo o que
é necessário à vida, posto que a vida é feita de incógnitas, e só se ultrapassam
dúvidas com confiança. O segundo fantasma bem presente é filho da crise, essa
crise mundial hoje horrorosa, suspeitosa, mestra em desregrar, que com o tempo
será abençoada, porque jogou às populações de vários lados de vários oceanos em
consciência do que esse fantasma é, testemunho do mal que gera, e das mentiras
que traz, é o anti-populismo que vem num crescendo avassalador. No Brasil com
milhões na rua, na Europa por seus diversos países idem, mesmo na China como se
viu, no oriente próximo em várias primaveras, que eram a mesma, e que
descambaram para coisas mais tristes e mais desgraçadas a que chamamos guerras,
entretanto os dois fantasmas estão sendo combatidos, e têm a mesma origem: as
palavras que saem da boca dos políticos, e toda a desgraça que podem gerar.
Então temos dois
fantasmas que amedrontaram e assustaram as populações durante os séculos de
representatividade democrática em que vivemos, uns mais, outros menos, nisso
que geralmente chamam república, mas que pode ser uma monarquia com
representatividade eletiva e não nobiliárquica, como Inglaterra por exemplo.
São os dois fantasmas aterradores, não em suas aparições, visto que aparecem
como lindas criaturas, mas em seu refluxo, também em seu reflexo, quando tendo
conquistado as vítimas, mostram-se em todo seu horror e mentira. Vejamos: Tanto
a confiança como o populismo visam a conquistar votos, fazer com que as pessoas
acreditem em situações que irão acontecer, e que depois não se verificarão, ou
pior mostrar-se-ão ilusões criadas que se encontravam nos antípodas das
possibilidades ou das intenções daqueles que as prometeram. Esse filme gasto
foi tantas vezes repetido que perdeu a graça, perdeu a possibilidade de ser
reapresentado, de passar de novo como se diz no Brasil.
Andam todos no
Brasil revoltados com as impossibilidades governativas que criaram, e a
corrupção dela resultante, posto que para governar o Brasil é absolutamente
necessário corromper, ou não se faz nada. Com trinta e dois partidos, nada mais
partido e repartido do que o poder no Brasil, o que pode parecer bom, mas que revela-se
uma desgraça, e como o ‘animus corrumpiis’ o desejo de ser corrompido é enorme
em cada eleito, que pra lá vai pra se dar bem, uma expressão bem brasileira, é
impossível a quem queira governar o Brasil, governá-lo, porque o Brasil só é
governável na medida em que se façam favores, a Petrobrás que o diga. Por isso
cansados de ver seu dinheiro, o dinheiro público, ir para os bolsos desses senhores
que negociam, do outro lado do Atlântico seriam negoceiam, seu apoio até o
último fuso, como mercadores do futuro, tendo sido eleitos para gerir o futuro.
Cada eleito, é eleito para atuar como promotor de um futuro melhor dentro das
possibilidades de seu país para irem atendendo pelo melhor às necessidades das
populações que os elegem. Todas as barganhas que são feitas fora dos interesses
das populações, atendendo a interesses particulares é crime, que deveria ser punido
como outrora o era o de lesa-majestade, com pena máxima, no caso prisão
perpétua, nada menos, porque roubam vidas, roubam tempo, roubam futuro, roubam
dignidade ao soberano, e o soberano é o povo. Faltam condições, porque não há
recursos, para uma operação numa determinada cidade e o paciente morre, ou
faltam recursos para o transporte e morre alguém, ou para os bombeiros, e
alguém perde a casa ou a vida, uma criança não consegue apoio para estudar e
roubam-lhe o futuro, ou alguém que não consegue emprego por diversas razões por
algum período, roubam-lhe tempo precioso de vida, outro não conseguiram emprego
na região onde vive, por muito tempo, porque não houve recursos para
desenvolver essa região, e roubaram-lhe a dignidade de viver, porque como canta
Fagner, esse cantor singular e excelente compositor brasileiro, as palavras
desse gênio, Gonzaguinha, de quem tive o privilégio de ser amigo, e que conheci
guardando seu dinheirinho na agência da CEF, a caixa econômica do largo da
Carioca, e que se foi tão cedo, Deus o chamou para ouvir seus conselhos: “ …
sem o seu trabalho o homem não tem honra e sem a sua honra se mata se morre” e
berra e sangra, posto que “um homem se humilha se castram seu sonho, e seu
sonho é o trabalho…” tudo porque guerreiros, ”precisam de um sonho que os
tornem perfeitos”, não esquecer de que: “têm a barra de seu tempo por sobre
seus ombros.”, e está tudo dito.
E é isto por toda
parte, cansados de falsas promessas que motivaram confiança, confiança que foi a
seguir defraudada, o sonho imperfeito, e levados pelo populismo, essa criação
da mentira de fazer promessas que emocionem o eleitorado que, na busca do sonho,
acredita para depois se convencer da impossibilidade ou da falta de vontade do
prometido, o sonho castrado, e por fim sentem-se humilhados, lesados, enganados
por trapaceiro das palavras, perdem sua honra, quando outros as cantam em
verdade, e hoje vão para a rua aos milhões protestar, o que não faziam noutras
épocas, cordeiros, e berram e sangram.
Por isso estamos
em tempos muito interessantes. Em Portugal o fenômeno é claro, fazem-se todos
de mortos, e quanto menos disserem, quanto menos prometerem, ou melhor é mesmo
não prometerem nada, adiantam possibilidades quando muito, quanto menos
discutirem mais possibilidades terão de serem eleitos, quando o debate político
é feito de discussão e perspetivas, embrenharam-se por um anti-populismo, que é
quase anti-político, para tentarem conquistar a tão necessária confiança, pois
tudo que cheirara a populismo é rejeitado, mas tá difícil, como se diz bem à
brasileira, no Brasil, esbravejam, e pobre coitados dos que forem se candidatar
à sucessão de D. Dilma, irão ser alvo de todas as desconfianças, de todas as
prevenções, e será um Ai que d’El rei, para usarmos uma expressão bem lusitana.
Mas entre mortos e feridos se salvarão todos, e antevejo após essas décadas tão
desgraçadas que atravessamos, luz, esse bem etéreo, tão precioso e necessário
para que, finalmente, possamos ver.
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