quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Vergonha pelos muros, e muros sem vergonha.







Houve um muro que chamaram da vergonha, e o era, não há dúvida sobre isso, mas aquele muro, e a vergonha que carregava era o de defender uma ideologia, o que é uma causa nobre, a vergonha estava em querer obrigar os outros à sua ideologia, obrigar àqueles que discordavam e deviam ser livres de se irem embora. Agora ficará na história, não outro muro da vergonha, mas o maior muro da maior vergonha que alguma vez se poderia imaginar, a Hungria, em razão de um governo fascista, entrará para a História como o país murado, murado pelo MURO DA VERGONHA!

Vergonha porque o muro, ao invés de ser para impedir alguém de sair, é para impedir outros de entrar, e os outros são refugiados de guerra. A própria Alemanha, sobre a qual pesam por razões históricas as maiores desconfianças, teve uma atitude nobre reservando uma cota de oitocentos mil lugares para refugiados em seu país, farão isso com todo o critério, selecionarão as pessoas, como é de seu feitio, mas as acolherão com dignidade, e é isso o que importa. A Hungria não está vendo a dimensão do problema, e sua xenofobia, só lhe vai trazer dissabores, além do que a Hungria que participou do projeto nazista na segunda guerra mundial, o que levou à morte centenas de milhares de judeus húngaros e dezenas de milhares de seus ciganos, devia mais que outros ter presente essa sua condição.

A História não esquece, uns quantos querem apagar a história e fazer crer que a realidade continua a partir do ponto que lhes convém, mas nós sabemos que a verdade está toda lá, e ela é feita de passado, ninguém pode renegar seu passado, e seguir alegremente em frente como se nada tivesse ocorrido, como se nada se tivesse passado, como se não tivessem passado, a memória não esquece, e este muro, se alguma vez se concretizar, a imagem dos refugiados atravessando montanhas de arame farpado ao preço de arranhões, feridas e bocados de sua pele e carne que ficaram presos aos arames, irão ficar para sempre na memória, para se somar a outras que a Hungria já carrega, este muro indecente, vergonhoso, ultrajante, mesmo que não se concretize, só sua ideia já os ultraja, já os conspurca.

Vão murar os bosques? Os rios? As estradas? Os caminhos de ferro? As fronteiras têm muitas variantes ao longo de seu percurso, há que se murar todas para ser eficiente. Murando assim tudo a Hungria tornar-se-á um país murado, um país incomodo, um país marcado, um país inóspito,um país desvairado.

E se houver muro, e aqueles que os quiserem saltar? Farão como em Berlim, atirarão a matar sobre os que os estiverem saltando? Instalarão altas torres? Manterão guardas e polícias, soldados e cães, armados com ordem para matar?

Será que os húngaros, terra de gente nobre e sábia, marca do velho Império, manter-se-ão calados, coniventes com essa ignomínia? Fico aguardando o movimento cívico anti-muro na Hungria, para ser o primeiro a assinar.   

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