domingo, 9 de agosto de 2015

Ainda outros inéditos do mesmo dia. (3º)



Tendo já publicado dois artigos com inéditos de várias poetisas portuguesas, dou continuidade com esse terceiro, em que, seguindo a lista proposta no artigo anterior, temos a vez de Laura Chaves e Theresa Leitão de Barros, que se vêm juntar a Gonta Colaço que tinha 50 anos, e Fernanda de Castro com 30, Laura Chaves com 42 e Theresa Leitão de Barros com 32, não se esqueçam de Florbela Espanca com trinta e cinco, que vai morrer no dia que completa 36, quatro meses depois, e ainda outras cinco poetas das quais falarei em artigos futuros .

Com muita pesquisa vai aos poucos se aclarando aquele sarau daquela tarde de um dia cálido de Julho de 1930. Com as publicações dos jornais da época, estou em crer, que o sarau terá sido nas Laranjeiras, não sei bem onde, entretanto como as referências dão como sendo um local de reuniões frequentes, tudo me leva a crer que seriam talvez as cavalariças do Conde de Farrobo, no seu celebrado Palácio das Laranjeiras, onde hoje na propriedade funcionam o ministério da educação para o lado das Laranjeiras e o Jardim Zoológico para o lado de Sete Rios, e onde costumavam se reunir gente bonita e interessante, da vida literária da capital portuguesa, para em tertúlias conhecerem-se e darem-se a conhecer, e, certamente, aferirem os caminhos que se trilhavam nesta seara. Praticamente todos os poetas de então tinham esse costume de reunirem-se, todos, menos o maior deles, nesse, e em todos os tempos, onde não havia muitas outras ocupações de atividade doméstica, como a televisão, os computadores, só o rádio vigia naquela época, e já era uma revolução.

Laura Chaves (1888-1966) que era escritora infantil consagrada como Odette de Saint Maurice, Ana de Casto Osório e Virginia Lopes de Mendonça, os três outros grandes nomes da época devotados a esse mister voltado à criança, publicava também seus poemas, e ainda era colaboradora em muitas publicações da época, escrevia suas histórias para as crianças em verso, as histórias infantis assim tinham uma maior facilidade em serem memorizadas, em serem absorvidas, em serem captadas, marcando esse universo tão sutil do dizer humano sobretudo devido a quem se destinam. A quadrinha que Laura Chaves deixou no álbum que tenho em mãos é assim:

                                                          Há saudades que nos ferem
                                                          como se fossem espinhos
                                                          e há outras que nos afagam
                                                          como se fossem carinhos.

A poeta seguinte, Theresa Emília Marques Leitão de Barros (1898-1983) que nasceu e morreu em Lisboa, em vinte e quatro formara-se em filologia românica, no ano seguinte a esse do sarau, será feita dama da Ordem de Sant'Iago da Espada, em cinco de outubro, esses nomes tinham um traço em comum, pugnavam todas pela emancipação da mulher, sendo Theresa um destacado nome nessa luta, autora de muitos livros, foram o seu Caderno de gramática portuguesa, e os seus contos infantis da Varinha de condão, os mais conhecidos dentre eles, sendo a muito conhecida crítica literária do Notícias Ilustradas, que em trinta e cinco verá grande valor no livro de Ferreira de Castro, A Selva. Theresa Leitão de Barros era irmã do cineasta e pintor José Júlio Marques Leitão de Barros (1896-1967) sobretudo aguarelista, que era casado com Helena, a filha de Roque Gameiro, o outro irmão era o tenente Carlos Joaquim, sendo todos, gente que se movimentava muito na sociedade dessa época. Sua quadra que refere o dia da semana do sarau, é a seguinte:

                                                           Sempre ao domingo é que vem
                                                           Contigo, a minha alegria...
                                                           Porque não fazes, meu bem,
                                                           Domingos, todos os dias..?   

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