Quase um ano e meio depois apareceu um 'flap' de uma das asas do avião da Air Malasia, agora confirmado pelos peritos franceses, em lugar imprevisto que modificará a área de busca do avião, traz algumas ostras agarradas que dirão mais sobre o local da queda, espera-se. Que falem os malacologistas e veremos. Entretanto penso ser oportuna a leitura de algumas reflexões da época.
Gastaram já muitas dezenas de milhões de euros, e preparam-se para gastar mais dezenas de milhões para desvendar o mistério. É curioso apreciar como os seres humanos são capazes de empreender esforços e gastar dinheiro para esclarecerem um mistério, para acabarem com interrogações, mas não são capazes de gastar um cêntimo, um mísero cêntimo para encontrarem uma solução definitiva para as centenas e milhares de pessoas que diariamente de África tentam cruzar o Mediterrâneo rumo a Europa numa fuga desesperada. Não são capazes de gastar um cêntimo de forma permanente e progressiva para erradicar a fome, esta maldição cotidiana que clama por soluções, e que não pode esperar. Não são capazes de ajudar as populações africanas que em África vivem sem horizonte. Não são capazes de engendrar soluções para extensas áreas do planeta sem recursos e sem viabilidades de um futuro digno. São capazes de fazer tantas coisas que requerem esforços e dinheiro, mas que não são prioritárias. E não são capazes de atender tantas outras que, como prioritárias, deveriam ver os esforços e os recursos disponíveis carreados para as tentar solucionar.
Vivemos num mundo com recurso cada vez mais limitados, sobretudo quando as exigências e expectativas do mundo moderno demandam mais recursos para serem satisfeitas, para verem atendidos os seus programas implantados, dispensando-lhes os meios necessários para que estes programas não estagnem, ou que estes programas venham a terminar, já que nos dias de hoje essas exigências são cada vez mais extensas e profundas, porque existem mais necessidades sociais a todos os níveis, desde mais formação, à maior necessidade de recursos para fundos que se deterioram com sua atividade financeira, desde problemas sociais novos que surgem com características novas que assumem os agregados sociais com o tempo, até mudanças geoestratégicas que se verificam no terreno, demandando mais recursos para corrigir, ou mesmo inverter, suas tendências.
O dinheiro não dá, na maioria dos casos, sequer para atender a tudo isto que ocorre a nível de cada país, quanto mais para promover auxílios internacionais. No entanto existem sempre recursos que são disponibilizados aqui e ali para ações várias que tencionam atender demandas internacionais, sobretudo para a guerra, esta incessante fonte de problemas, e consumidora de recursos infindáveis, que sempre aparecem para satisfazê-la, para permitir que ela progrida e consuma estes recursos, para matar, para deslocar, para exterminar populações inteiras, muitas delas que se tivessem sido auxiliadas em tempos de paz, teriam evitado a guerra, e os recursos hoje carreados para a guerra, se tivessem sido aplicados para evitá-la teriam sido muito menores e muito mais bem empregados, mas infelizmente não é assim.
O que temos é o emprego, a alocação de recursos sempre no mal sentido, sempre em prioridades equivocadas, havendo em última análise dinheiro para tudo, menos para fazer o bem, sem darem-se conta que este bem dos outros de hoje é o nosso proveito de amanhã, quase sempre. Empregam muitos e muitos milhões em coisas não prioritárias como esta busca do MH370, o avião da Air Malasia, já foi, já se perdeu, já não importa mais, se sobejassem recursos, tudo bem que se os pudessem gastar com isto, mas não é assim, e, se pensarmos em termos bélicos então os recursos que empregam são da ordem de bilhões, muitas dezenas de bilhões a consumir vidas e possibilidades, dispensando-se de sua utilização preventiva, e dispersando-se por ações que irão muitas vezes promover reações, num ciclo infernal no qual caímos para não mais sair.
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