domingo, 15 de novembro de 2015

Parque do Flamengo e Parque Brigadeiro Eduardo Gomes: 50 anos do aterro!





Acabava o governo de Carlos Lacerda na Guanabara, tinha havido o golpe militar no ano anterior, em Abril, atrasaram um dia por causa do dia da mentira, era apenas mais uma das que a política nos vende, porém quando militares se metem a fazer política é mesmo um miséria; esse homem da UDN que derrubara Getúlio quando deputado, e que  acabara por levar o país ao golpe de 64, não foi cooptado pela ditadura militar, muito contestatário e auto-suficiente para o novo regime recém instalado, deixam-no terminar seu governo e aconselham-no a mudar de ramo, vai ser editor de livros, e ao terminar seu governo termina o aterro, nome que designa bem o que se via, aterrou com milhões de metros cúbicos de terra atirados ao mar para ganhar a extensa faixa de terreno que irá formar os dois parques com o aterrado, má opção ecológica, o parque que começa no centro da cidade com o aeroporto Santos Dumont que tem junto à ponta da pista a Escola Naval, a mesma que em 1808 fundara D.João VI e foi o primeiro estabelecimento de ensino superior a funcionar, sempre ali naquela ponta, naquele local onde um dia eu soube que o Camisão se tinha atirado com um avião da FAB e se tinha partido todo, mas não morrera, tenho memórias muito antigas desse local, e segue esse primeiro parque até a grande curva que faz a avenida Infante D. Henrique onde há um pequeno quebra-mar, e a avenida do infante transforma-se em enorme reta que segue assim até ter de contornar o morro da viúva onde termina o aterramento, depois é o Botafogo, esse morro de onde tenho mui fortes lembranças da minha luta contra a ditadura, e é onde começa a história do prédio da UNE, chamou-se o primeiro parque com o nome do Brigadeiro Eduardo Gomes, o eterno candidato da UDN à presidência da República, vivo à época em vias de completar seus setenta anos, ainda viveria mais dezesseis, mas a a ditadura instalada no ano anterior duraria vinte e um, portanto para ele toda esperança ficaria perdida, só foi ministro da aeronáutica do Castelo Branco, como havia sido do Café Filho;  e nós não mais veríamos aquelas matronas da UDN a fazer campanha, pregar nas igrejas e associações cristãs, a vender os docinhos de chocolate com leite condensado, originalmente leite, ovos e manteiga, que acabaria por ganhar o nome da patente daquele a quem financiava a campanha, conhecia bem essas senhoras e gostava do doce, repudiava o candidato, e acabei por ficar amigo, por razões das minhas campanhas em defesa do meio ambiente, da filha do brigadeiro, que tinha a chave da ilha da Boa Viagem do outro lado da baía na cidade onde nasci, e a quem fui pedir muitas vezes que me abrisse os portões da lindíssima ilha. Aliás nesse episódio de conhecer e lidar com a filha do brigadeiro há uma coisa que nunca entendi bem: dizia um slogan da época das suas campanhas, pedindo o voto: Brigadeiro, brigadeiro! É bonito e é solteiro! Terminado esse primeiro parque, começa o segundo que leva o nome do bairro ao qual está defronte: o Flamengo, e que foi construído com os equipamentos, bem disfarçados pela vegetação: quadras, campos de futebol, museus, e, no mar, a praia de mesmo nome.

Já que falamos da vegetação, saibam que o projeto é de Roberto Burle Marx, aquele gênio admirável que conheci pela mão do Fábio Innecco, seu pupilo, e com quem aprendi que dinheiro é pra se gastar, nunca conheci alguém que gastasse tanto dinheiro como ele, vocês conhecem alguém que seja capaz de encher uma piscina com champagne cristal para se tomar banho e beber ao mesmo tempo? Roberto era capaz e o fez várias vezes. No sítio em Guaratiba onde tinha sua fabulosa coleção de bromélias, entre outras coleções, e onde todas as loucuras aconteciam, Roberto era uma criança, cantava ópera, dizia poemas, dançava, e gastava dinheiro rodo, muito mais do que ganhava, deixando maluco seu irmão e sócio que tentava compor as contas, esse parque para mim é muito ele, e muito de seu dinheiro vinha do contrato da manutenção do parque. Pois tudo isso junto, foi, é, e para sempre será, o aterro, o aterro que vai até o fim do Flamengo, o aterro do Flamengo, que, tão jovial, atinge a vetusta condição de cinquentenário. Ali é grande parte de  minha vida, só agora dou-me conta, desde o MAM onde aprendi meus primeiros rabiscos e conheci os maiores pintores do mundo, até a Casa do Estudante, onde traça-se um capítulo forte da minha ação política, é o Aterro em mim,  de ponta à ponta. 

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