sexta-feira, 15 de março de 2013

'Extra omines'


                                        'EXTRA OMINES' :  É PRECISO CRER.


        Para  se ter esperança é preciso crer. Nenhum de nós pode esperar nada se não acreditar que isto ocorrerá, o que nos leva a concluir que o futuro é feito de esperança, ou seja: Sem esperança  não há futuro. 
        Entre as muitas coisas que temos que esperar  está a fraternidade entre os homens, esta relação de  tolerância e compreensão mútua que nos torna próximos, gerando afetos. Para alcançar esta meta o procedimento cristão é um dos melhores caminhos, sendo de se esperar que a preocupação central da igreja deva ser propalar a boa nova para que  o relacionamento entre os homens a todos os níveis seja fraternal.
          Assim nos primórdios da igreja tinha-se como objetivo praticamente único este fim de estabelecer uma relação de fraternidade universal, criando uma comunidade que vivesse segundo este princípio. Entretanto com o passar do tempo, com a verdadeira universalização da igreja, esta organizou-se como uma estrutura de poder, tornando-se um Estado, e tornando-se uma organização muito rígida, onde a convivência com o mundo lhe trouxe descaminhos. Como a igreja é feita por homens e os homens são imperfeitos, estas imperfeições têm se refletido, em maior ou menor grau no seu corpo institucional, permitindo-lhe se desviar grandemente de seu objetivo primordial.
         Nesta sua longa caminhada cometeu verdadeiros crimes, amplamente conhecidos, e , finalmente, reconhecidos com os pertinentes pedidos de desculpas.A igreja, deslocada de sua rota, tem vivido ultimamente, desde João Paulo I para cá, uma busca para se re-centrar nas suas tarefas originais e  reencontrar um caminho de purificação, livrando-se da corrupção instalada em tão vasta e complexa estrutura. Poderíamos recuar ainda mais a João XXIII e seu concílio, sendo este uma reformulação que procurou estabelecer. Porém o patriarca de Veneza, cardeal Roncalli, foi o último a ter força para assumir o poder que deve ter um papa, sendo  realmente dono de seu destino, depois dele nenhum outro papa o conseguiu, com um pontificado breve não prosseguiram as resoluções do Vaticano II.
              Luciani, 'governou' só pouco mais de mês,  há três papas atrás deste Francisco que agora surgiu, era novo, tinha 65 anos, deveria ter um longo pontificado, e súbita e misteriosamente morreu no final de Setembro, vão fazer agora  35 anos, já naquele tempo se falava do Banco Ambrosiano, de sua relação com a Máfia, da corrupção instalada no Vaticano. 35 anos nos quais a igreja espera a reforma que João XXIII estabeleceu em princípios, dois papas antes de Luciani, em seu pontificado breve de cinco anos.
                Depois veio o segundo João Paulo que, com sua simpatia conquistou o mundo, e com um longo pontificado, muita média, muitas viagens pelo mundo fora, foi deixando dentro de casa tudo, como sempre esteve, podre: corrupção, desvios, fraudes, roubos, domínio da cúria, um rol de desgraças que continuam lá instaladas. Ratzinger pensou poder contrapor-se a este estado de coisas, e fez sua campanha eleitoral pensando nisto, terminou por resignar.
                  Não se pode pregar dignidade chafurdado em lama, não se pode postular fraternidade num ambiente de luta intestina pelo poder, e uma boa face do poder é o dinheiro, que, como elemento conversível em quase tudo, tem a enorme, quase infinita, possibilidade de converter os homens ao seu culto, bem como de os desvirtuar de seu caminho.O dinheiro, sobretudo o dinheiro de um banco, ademais mundial, com ramificações por quase todos os países, gera imensas possibilidades, como desmesuradas complicações. Só uma administração firme e voltada para desígnios superiores pode ter em mãos tal poder, sem se deixar envolver em nenhuma patranha, em nenhum desvio, nas propostas inúmeras que chegam todas as horas a uma instituição como esta.
                       Com tudo isto fica claro que a igreja católica apostólica romana necessita de uma mudança radical nos seus rumos  temporais, e de uma higienização de seus corpos administrativos, como ainda de focar-se em seus objetivos primordiais, razão de sua existência.  
                          A situação de desrespeito e fragilidade institucional segue sendo a mesma que se revelou bem no episódio que ficou conhecido como 'Vatican leaks' , como ocorre com a justiça portuguesa em que o andamento dos processos que correm em segredo de justiça, estão logo no dia seguinte estampado em todos os jornais, as conversas entre os cardeais, que juraram manter segredo das mesmas, estavam no dia seguinte na imprensa italiana. A tarefa de dar dignidade, integridade, respeito, hierarquia, honestidade e fidelidade é difícil, mas possível.
                             Eleito agora para a tarefa  para qual ficou em segundo na votação anterior, tendo sido ultrapassado pela campanha eleitoral  do homem da inquisição, que presentemente atende por outro nome menos comprometedor (Congregação para a doutrina da fé)o homem de dentro do sistema, o alemão Ratzinger; Bergoglio agora, já mais velho oito anos, assume o cargo, é um  homem do Novo Mundo, pela primeira vez, e pela primeira vez um Jesuíta. Quem conhece a história da Velha Companhia sabe quão pragmáticos costumam ser seus membros, na velha máxima de Loyola que nos faz crer que 'os fins justificam os meios'. No entanto quero eu vislumbrar nas mensagens passadas até agora por este papa Francisco, entre elas a primeira foi mesmo a escolha deste nome inaudito, sua espontaneidade, tendo, até agora ultrapassado o  poder do 'stablishment' da cúria, que titereia todo aquele  que assume um posto no Vaticano, quero ver  uma boa nova, de alguém que quer por cobro aos terríveis desvios e fraudes instaladas.
                          Quando o Cardeal Bergoglio foi eleito, sua primeira expressão foi, dirigindo-se aos demais cardeais: " Que Deus vos perdoe." Eu quero crer que com isto queria ele dizer que escolheram o homem que vai limpar a igreja, que eles não tinham noção de quem estavam escolhendo, não poderiam ter ideia de que ao escolhe-lo estavam a apostar em alguém que vai fazer  reformas tão profunda e uma limpeza tão ampla que vai regenerar a igreja, evidentemente acabando com muitos interesses aos quais estão vinculados muitos  cardeais, por isto: Que Deus os perdoe. Quero crer, porque quero ter esperança, esperança de que a igreja católica venha dar seu contributo para a construção da fraternidade entre os  homens, quero crer que vamos ter uma instituição que venha a ter o  verdadeiro respeito  dos dirigentes mundiais e possa ser  uma voz que intervenha no sentido de harmonizar interesses tão conflitantes, que possa consolar os povos, que possa ajudar as gentes, que possa promover a concórdia, que possa semear a paz. E esta minha esperança é a de todos os, católicos e não católicos, homens de boa fé.
                         Bem sabe o papa Francisco que ira mexer num perigosíssimo vespeiro, com vespas bem avisadas, vespas gordas, que atuam na sombra, vespas que sabem como fazer para emperrar as determinações superiores,  vespas que sabem usar seu microcosmo do poder  para  emperrar toda e qualquer ação que possa incomodar seus interesses. Estas  vespas são os membros do aparelho da igreja, a cúria, a administração temporal da igreja.Todos os demais   crêem nas reformas, 'extra omines'  querem as reformas, os de dentro nem tanto. Que este Francisco de sua escolha possa trazer como outros Franciscos um novo horizonte, possa ser de Assis, Xavier; Borja, e ainda mais Franciscos que enriqueceram esta igreja com a sua santidade.
        
     

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