sábado, 9 de março de 2013

Ruas de Lisboa.


 RUAS DE LISBOA  linhas.nobolso

Há um pouco de Cairo nas ruas de Lisboa,
do Cairo egípcio e do Cairo árabe.
Ou melhor: a fusão destes dois Cairos, quem sabe?
Revelando um terceiro que é mais bem à toa….

No grito que desperta do muezzin atlântico,
na chamada incerta dest’outro de cá,
na mesma linguagem, grito alterado, semântico,
um sentido de alerta diz que talvez não vá!

Teatro das ruas, nas ruas, um sonho abrevia …..
Vendedores passantes, vendedores derramados,
na apresentação sucinta da mercadoria:
Caixotes, panos, lona, plástico e o de vender por cima,
Magotes, ramos, trava, proceder asiático e o ‘cliente’ declina.

Declinação de todos os sentimentos……
Na giga, no tabuleiro, na canastra ou com o molho na mão:
Ibéria, onde a Europa é menos europeia.
Ginga, estaleiro, restolho, retalho,refolho malsão.
A necessidade recria a mesma epopeia.

Vendiam flores, vendiam cravos,
vendiam roupa, vendiam aves,
vendiam bolos, assavam castanhas,
grelhavam febras, onde outras tamanhas
passavam gentes, passavam naves,
haviam amores e haviam estragos,
haviam cantigas, pragas haviam,… haviam magos.

Nesta Lisboa de vozarios,
desta Lisboa de corrupios
e correrias,
de rodopios é o que é.

Manifestamente muçulmana,
manifestamente cristã,
não nos é preciso voz humana
para refazer a fé
de nossa gentinha mui sã,
…desta terrinha nada chã.

Há ventos d’África nas ruas de Lisboa,
de batuques, de azougue e de prece.
Há gente que tudo tem e há a que de tudo carece.
Gente ruim e gente boa…
Sempre gente de Lisboa.

Reboliço, feiras, vendeiras - peixeiras, varinas.
Do mar o cheiro que chega,
fronteiriço cheira, o rio ressaca e cega.
E mais ainda entra pelas narinas.

Na esquina a olhar o tempo passar
ou a beber a sua ginja,
há quem cisme neste cuidar
ou quem logo se cinja.

Às vezes até há atropelos.
Sempre  que tropeça e cai.
Reboliço e fanfarra.
Gente que está pelos cabelos
e outros com dedos em garra. \\

Lisboa que passa cantando,
alegre em formosura.
Às vezes também passa triste,
silente e obscura:
Com ar de quem foge,
com ar de quem procura.

Também não lhe faltam temperos mediterrânicos
nestes cheiros, nestas côres
e de muitas outras praias mais além.
Porto e encruzilhada de valores,
… já não falta ninguém.

Há uns recantos de Europa nas ruas de Lisboa,
Já que há uns encantos de Europa nas ruas de Lisboa,
bailes, valsas, carrocéis, cirandas, folguedos,
mirantes, boulevards, , estações , armazéns e catedrais.
E outras mais coisas pra espantar seus medos
e tantas outras mais pra sufocar seus ais.

Lisboa que fica a congraçar dois mundos
com sua vocação existencial.
Segue levando outros, bem mais fundos,
buscando sempre seu ideal.

Não dizem de ti as tuas ruas, da tua graça,
a exaltar tua beleza sem igual,
guardado zeloso em sua traça,
todo o mistério de Portugal?

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