quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alô Brasil... Eis aí: As Empreguetes !

E a irreverência conquistou a circunspecção.

« Levo vida de empreguete, eu pego às sete.»


As melhores de todas as exportações são as imateriais. Por isto as pautas econômicas apreciam tanto o turismo, Espanha que o diga. Entretanto a melhor de todas é a das histórias e idiosincrasias de um povo. Exportam suas histórias,impoem-se culturalmente, afirmam sua nacionalidade e ainda por cima são pagos por isto. Hollywood é o exemplo rematado disto. E o auge de sua carreira foi atingido com o western-macarroni ou far west espaguetti, que transformou a cinecittá numa imensa Alabama, clonando os mausões do oeste americano, suas histórias, seus bandidos e mocinhos e até seus índios. Quando uma cultura tem a força e o sucesso para ser imitada, nada mais lhe falta.

«Todo dia acordo cedo, moro longe do emprego.»

" O povo não é bobo, abaixo a rede Globo." Gritavam na rua em manifestações e reuniões partidárias,em muitas das quais participei, porque sendo de esquerda comungava com seu ideário, porém quando chegava este 'slogan', contra a rede Globo, parecia-me mal. Eu, a expressão rematada do patriota, achava que o que a rede Globo fazia, mesmo com Dr. Roberto Marinho dando suporte à ditadura, era algo bom, muito bom, para o Brasil em todos os sentidos. Não podia concordar, não gritava a frase, mas era-me impossível convencer quem quer que fosse, de meu grupo, destas minhas idéias. Passou-se o tempo, tive ainda de chorar em plena Pequim ao ver a Lucélia Santos idolatrada como Escrava Isaura, e olha que fazer negócios da China é muito difícil.

«Queria ver a madame aqui no meu lugar, eu ia rir de me acabar.»

São muitos os sucessos mundias que o folhetim brasileiro conquistou, como os dos romances de Jorge Amado folhetinizados, cujo maior sucesso foi Gabriela, a que cheirava à cravo e tinha a cor da canela, passando por inúmeros outros e seguidos por outras redes de televisão brasileiras que, como a Globo, lançaram-se pro mundo. Atualmente, entre outros sucessos, conta-se esta idealização, multiplicada por três, da história da Gata borralheira, para quem preferir a versão italiana, ou a de Cinderela, Cendrillon, para quem preferir a versão francesa, recuperada por Charles Perault em 1697.

«Fim de semana é salto alto,e ver o que vai dar.»

Passam-se os anos, o cinema brasileiro conquista mundo, passamos a ser uma opção neste universo hollywoodiano, muito difícil conquista. E a rede Globo continua sua tragetória de exportação do folhetim brasileiro por excelência, como empresa na busca do lucro, mas como embaixatriz difundindo a cultura de meu país, o que deve a nós todos orgulhar. Até que em nove de Julho de 2013,na Nazaré,vila pescatória da Estremadura portuguesa,onde ocorem umas ondas gigantescas que um dos melhores surfistas do mundo, Garret McNamara,escolheu como as mais fantásticas para surfar e onde agora vem dando aulas de surf, nesta praia,quando, ao retornar a esta típica vila portuguesa, onde as suas mulheres,muito conhecidas pela faina do mar, ainda se vestem à antiga, com as roupas escuras e os toucados característicos, guardando tradições mouras medievais,uma equipe de reportagem vai documentar o conhecido surfista, e pergunta às senhoras da vila se o conhecem. Elas reconhecem-no, e festejam-no merecidamente, pois tem divulgado, e muito, sua vila, dançando para ele.

«Um dia compro apartamento e viro socialaite...»

Todas vestidas à caráter como costumam estar, três senhoras começam a cantar e a dançar em homenagem ao surfista, nada mais, nada menos que a música das empreguetes, Maria brasileira. E lá vão as Senhoras da Nazaré cheias de charme: "Somos as Marias que sonhamos": Marias sem vergonhas, Marias sensuais, três estrelas da Nazaré,recolhendo na força da língua, da criatividade, da universalidade do sentimento, esta canção. Marias verdadeiras da Nazaré(Tudo que você quizer elas fazem mais.) no Oeste de Portugal, clamando uma verdade maior : Que quando se tem força criativa nada nos pode deter.

P.S. Sempre haverá o tolo que registrará a ocorrência como uma aculturação das valorosas senhoras da Nazaré, guardiãs das tradições portuguesas. O único possível comentário é que é sempre melhor sermos aculturados no nosso idioma, que passar o dia a ouvir música em inglês em 'todas' as rádios de Portugal. Se ao menos fosse música brasileira...era em português.

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