sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

20 anos sem Tom.





Como eu sempre digo: O único Tom que importa é o Jobim.


Neste nove de Dezembro de 2014 completaram-se vinte anos que morreu o meu maestro, morreu como vivia: em Tom maior. Sim no Tom da intensidade, o Tom da beleza, o Tom da pureza, foi das pessoas que conheci já com a sua idade, ainda das mais puras, pois soube guardar uma inocência quase infantil, um certo que que dava-lhe um ar de santo. Nosso conhecimento se deu por causa da minha luta em defesa da natureza, fui procura-lo, suas preocupações eram as maiores nesse campo e, como se fosse um menino me falava da natureza, nem conseguia acreditar na intensidade, e na verdade do que dizia, era ainda mais convicto, e eu que pensei em ter de convence-lo. Foi um puro!

Doe-me muito essa ausência, por isso tardo muito em terminar o artigo, já se passaram dois anos, até que pouco e pouco construí mentalmente o artigo, deveria mudar o título de de 20 para 21, vocês vejam o quanto dói, mas fica o mesmo, é o registro de um  momento, de uma sensação, de uma orfandade. Nem a tempo do nove de Dezembro de 2015 terminei, mas foi assim que se há de fazer?   Quis fugir ao pessoal, mas foi-me impossível, perdoem-me.

Em Teresópolis,  onde eu vivi mais de uma década, um amigo comum, tinha um restaurante com o nome de uma música do Tom, o Gota d'água, " faça não", que saudade, as trutas, o vinho, o papo, o retirar as espinhas às trutas era um show à parte, que o Tom olhava com o mesmo espanto toda a vez, o toalhete das mesas com a suite às trutas (Die Forelle) de Schubert (de 1817,  depois em 19 incluída no Forellenquintet D 667 Opus 114) um toque claro da personalidade do dono, que é tio do ator Edson Celulari, conversas de aquecer o coração, e cantar-se. Uma vez estive na Plataforma para pedir que ele interviesse com um telefonema para evitar uma dragagem, mesmo bêbedo (sentia sempre intensa dor pelas coisas) anota, e no dia seguinte resolve o problema com a força de seu nome. Era alguém assim, alguém que se preocupava com as coisas. E as questionava, as enfrentava, e as cantava. Agora não mais sua alegria, seu riso irônico, sua palavra contida. Quando saiu o livro da Helena fiquei a saber de muitas outras coisas que explicavam ainda outras que não havia entendido, Tom era mais que um puro, um Santo.

Hoje passados já vinte e dois anos que não posso mais contacta-lo, vinte dois anos que seu piano calou-se, não subirá mais à Mangueira, não mais tocará no Plata, onde permanece invisível, não mais estará em todas as salas de espetáculo do planeta, não mais encantará multidões, resta-nos esse vazio de sua ausência, pois sua presença era tão intensa que parecia ia durar para sempre, aquela verdade, de tão bom que era, resta-nos dizer com força e saudade, toca meu querido amigo pros anjos, encanta-os com sua bossa eternamente nova, com sua classe, com sua maviosidade, com seus acordes abençoados, abençoa-os, e com sua elegância, diviniza-os,  pois que tu és mais divino que eles, e nesse céu em que te encontras, diferentemente desse mundo em que vivemos, só a divindade conta.

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