sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Nós recusamos...






                                                                                                  Aviso para 1/1/2016.




Os livros um século após sua edição ganham o caráter de patrimônio da humanidade, ou se preferirem perdem os direitos de autor, que é transmissível aos herdeiros do mesmo por cem anos desde a sua publicação. Essa medida, transformada em lei na maioria dos países, vem determinando que após esse período as obras entrem em domínio público, e dessa maneira possam ser editadas e reeditadas sem outros custos que os de impressão.

Há uma obra que fez a fortuna pessoal do maior ignóbil que passou por esse planeta, que tendo tornado obrigatória sua leitura por todos e cada um dos alemães, constituindo obrigatoriamente parte dos presentes de casamentos dos jovens casais desse país, até aos jovens que entravam na idade de fazer parte da juventude nazista, durante décadas, e com o direito de autor de uma obra obrigatória, pode o seu autor, que se transformara no ditador autocrático dos alemães e a impunha, amealhar imensa fortuna com isso. Logo esse livro por isso e pela ação que teve ao impulsionar seu autor à condição de ditador e de maior carniceiro da história, não deve ganhar essa condição de domínio público, porque ela implica a obra se transformar em patrimônio da humanidade, e nós recusamos esse patrimônio, não o consideramos patrimônio nosso, mas de um momento maldito da história dos povos, memória que desejamos, não esquecer, mas abominar sempre, pela própria abominação que é em si mesma.

Esse livro maldito, racista, segregacionista, justificativa para uma raça que se queria superior,  e que, como tal, deveria subjugar todos os demais, expressão em si do próprio preconceito, objeto com a significação de uma era amaldiçoada pela sua própria existência na figura de seu autor, que atingiu os píncaros do horror com a solução final e o extermínio de milhões e milhões de inocentes. Este é o clamor da humanidade, representada pelo grupo que clama nas pessoas de seus parentes e descendentes, porque nas sua próprias não podem clamar porque foram todos mortos, e nesse clamor a absoluta impossibilidade  de aceitarmos a inclusão desse livro no patrimônio da humanidade. Eu ouço claramente esse clamor e levanto minha voz para recusar esse privilégio. Esse livro não pode de forma alguma ser nosso patrimônio, porque  não o é. Isso não significa que de modo algum devamos pretender destruir sua memória, queimar os exemplares existente ou proibir sua reedição, não, não se rasga a história, nem se lhe amputa qualquer ocorrência, a historia é o que é, foi o que foi, o que aqui está em causa é um privilégio, o de cair em domínio público algo por passar a ser patrimônio da humanidade, e a humanidade recusa esse privilégio, não quer esse patrimônio.

Por isso, nesse caso particular, nós rejeitamos-lhe essa condição, abdicamos da concessão do privilégio do todo sobre o indivíduo, passamos o entendimento, recusamos o Direito, ÚNICA EXCEÇÃO que fazemos, desejando mesmo a obra mais perversa, mesmo a mais fútil, a mais incongruente, e a maior tolice, as aceitamos todas, e só, pelas razões apostas, a essa abjeção recusamos.




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