terça-feira, 8 de março de 2016

20 é alvissareiro.








Vinte é um número abundante, nos ensina a matemática, vinte são duas dezenas completas, maioridade  no Japão, quase maioridade plena entre nós, pois todos os direitos civis são alcançados nessa idade do vinte e um, o que nos levará a crer que nesta  marca do vinte completa-se a transição.

Do vinte que considero alvissareiro, é esse que denota o vigésimo presidente português, com o qual esperamos que se complete a transição para uma inescusável democracia permanente, maior conquista de um povo, onde pessoas normais desempenham funções normais, em condições normais, e a norma é a média de todos nós, todos que fazemos parte da comunidade humana que compõe a sociedade nacional de qualquer país, e que seja esse presidente franco, aberto, humano, próximo, não equivocado, despretensioso, desassombrado, porque não tem, nem vê, fantasmas, esses que transformam pessoas simples em pessoas depreciadas, ensombradas, assombradas, triste condição dos que se excluem ou se crêem diferentes, superiores, ou mais importantes.

Falo-vos evidentemente de Marcelo Rebelo de Sousa que já começa bem. Sua tomada de posse é uma aula de democracia, porque muitos se esquecem que demos quer dizer povo no seu entendimento mais profundo, e os que se esquecendo consideram-se os privilegiados, que se cercam de privilegiados para manter seus privilégios, e querem se distanciar de tudo que cheire a povo, querem transitar entre palácios, e que nas visitas que façam estejam guarnecidos e resguardados do contato popular, pois esse lhes pode ser contestatário e adverso, porque, afinal, eles não os representam, tem o poder de os representar, foi à conta desse poder que atingiram sua posição, é à conta desse poder que podem exercer tão alta função, representam-nos, pois são seus mandatários, mas representar no sentido de fazer as vezes de, isso não. Os mandatários, como sabemos, infelizmente, nem sempre cumprem os interesses daqueles a quem representam. O Professor Marcelo começa bem porque chama para junto de si a representação mais singela do povo, seus artistas, porque põe na agenda não só Camões, a letra, a história de um passado glorioso, mas Vasco da Gama, a ação gloriosa desse passado, que deve estar presente, deve ser patente como via de acesso ao futuro, se os portugueses desejam ter futuro.

Sem banquete de Estado, sem convites institucionais, sem gente escolhida, sem salões de Palácios, sem ambientes fechados, com informalidade, com proximidade, com ecumenismo, com povo na praça, e, ademais, música, sem muros, com gente de todos os credos, com gente de todas as cores: Alvíssaras!

Eis a diferença que pode fazer um homem culto, na acepção ampla e humanitária do termo, pode revelar e constituir mesmo toda a diferença, que a ilusão da política ensombra, porque dá apenas a dimensão da palavra, a eterna palavra tão afirmativa quanto enganosa, porque, sem o conhecimento profundo de sua significação, não é nada além de uma referência, mas que, com sua significância timbrada, é poder  gerador, criador, e, como de irrealidade andamos fartos, realizador mais que tudo. Viva a palavra que realiza, que gera, que cria!




P.S. Acabo de ouvir o discurso de posse: Impecável, tocou em todos os pontos essenciais, sem fugir às mazelas, nem às questões centrais que estão à sua frente esperando que ele nela se envolva e lhes busque dar solução. Envolveu-se corajosamente, falta agora arregaçar mangas... (9/3)

P.S. Agora foi o discurso feito ao corpo diplomático, ainda melhor, se é que pode haver melhor... Tenho que afirmar uma e outra vez: Nada como um homem culto... (10/3)


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