quinta-feira, 17 de agosto de 2017

À gauche Carlos Drumond de Andrade.


         


                                                                   
                                                 Nos trinta anos de sua morte,
                                                 lembrando o décimo segundo dia de insuportável tristeza.


Um pai nunca deveria enterrar um filho. No seis de Agosto desse 1987, pouco mais de um ano depois  do episódio que lhes contei ontem, pedem-me para ir ao cemitério em Botafogo, ao enterro da Maria Julieta, a única filha de Drumond. Lembro-me de passar um dia por Manguinhos e ver nos muros da Fundação Osvaldo Cruz imensa faixa com o nome da Maria Julieta, simpatizava com ela, vou ao cemitério. Lá está o poeta, mais defunto que a morta, de preto, rosto congelado, cumpre as funções que eram de se esperar dele, acompanhar à campa o ser a que ele mais amou em sua vida, e o faz maquinalmente, o faz como que por um instinto social, por uma razão de existir, que existir nos obriga a muita coisa. Vive ainda uma dúzia de dias de insuportável tristeza, até que nesse décimo segundo dia não suporta mais.

Passadas três décadas desses fatos ainda os recordo com espanto, porque para mim é espantosa a ligação entre as pessoas, lembro de Minha bisavó Zizinha e sua filha mais velha, uma num dia e a outra no seguinte, como a nos dizer que esses dois seres viviam conectados, e tendo-se acabado um, o propósito do outro esvanecera.

Mas deixemo-nos de coisas tristes que a herança drumondiana deixa-nos muito o que lembrar por boas razões, não que as da morte não sejam boas, certamente serão, mas, sendo funéreas, decerto não são alegres, e alguém que amou e foi amado, alguém que desejou e soube cantar o desejo, alguém que viveu a realidade de seu tempo em plenitude, "Vosso pai evém chegando" deve ser lembrado no dia de sua morte por melhores razões que ela mesma. Lembremos de como se descrevia em face da vida:

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