terça-feira, 8 de agosto de 2017

PAZ E AMOR: HÁ 50 ANOS.




O movimento Hippie estava no auge, 100.000 viajaram a São Francisco na Califórnia com o sonho de mudar o mundo, lindo sonho, de paz e amor, como diziam e marcavam com os dedos abertos em V, o do símbolo de seu movimento, que circunscrito num círculo, marcava a época de esperança, símbolo  reproduzido em centenas de milhares de objetos, sobretudo os pendentes que teriam em colares, em seus gorros e chapéus, que eram sua marca identitária, hippies, como eram, portadores do sonho de amor e paz.

A mídia, a publicidade, os meios estabelecidos, pegaram no movimento e em seus símbolos e o caricaturaram, até o desfigurarem. Era a revolução roída em seu interior, pois que após a esse 'summer of love', como ficou conhecido o verão de há 50 anos, que trazia em força valores que iriam se disseminar, mesmo com a discrição do movimento, seus paradigmas mantiveram-se, feminismo, pacifismo, ambientalismo, e ajudaram a tornar menos rude o mundo, esse que vinha de duas guerras brutais. Eu era um garoto de calças curtas, mas tudo que via, mesmo o modo de estar das pessoas, e eu nunca tive nada de hippie, nunca poderia estar-me desleixado, mas os sabia compreender e admirar, eram o contraponto desse mundo arrumadinho, que hoje poderíamos dizer Yuppie, que tornou miserável tanto caráter, destruiu tanto sonho, descaracterizou tanta emoção, e essa era divergência boa, sempre devemos ter oposição para que não reine uma imposição, seja do que for. A diversidade é a essência das sociedades humanas, da democracia, tudo que é homogêneo e igual é estúpido, por melhor que sejam os valores que criem essa homogeneidade. O não entendimento disso, e a não aceitação da diversidade tem um nome e uma característica muito tristes, é a dita dura, é ditadura.

Quão diferente se tornou o mundo; quais valores imperam hoje? Ninguém perora mais pela paz, menos ainda aconselha o amor. Meio século volvido, entrado esse novo milênio tão insalubre, inclusive para os sonhos, creio até que ninguém mesmo mais ouse sonhar, e os valores pelos quais pugnamos são os das primaveras árabes, das respostas ao terror, nós que o detestamos, ou a pregação do mesmo por aqueles que o deseja perpetrar, são os da luta por valores que tínhamos como adquiridos, como a democracia e os do Estado Social, quão nos enganávamos, tão frágeis eles são. A ação dos grandes interesses econômicos pode derrubar como se fosse um castelo de cartas todas as nossas conquistas tão laboriosamente obtidas, que custou o sangue e o suor de milhões, a vida de milhares de trabalhadores e de milhões de combatentes em duas guerras horrendas, para que com a arte de uns quantos truques financeiros o  mundo seja jogado em crises absurdas como no caso recente do sub-prime e das dívidas soberanas. Ficamos a saber que nosso dinheiro não está seguro em lugar algum, que os bancos são menos instituições, que circos de feras. E sabemos que há um vento mal que sopra incessantemente qual bafo bafiento saído das profundezas da obscuridade que realmente nos governa, emanado dos verdadeiros poderes corruptos, invisíveis, corruptores, economicamente obscurantistas, que segue assoprando para permitir o privilégio de alguns a conta da miséria de muitíssimos.

Falar em realidades tristes, lutar por Direitos incertos, por mais justos que sejam, arriscar a vida e a saúde neste confronto, é bem mais a temática de nossos dias, que aquela de há 50 anos, quando um bando de sonhadores desejavam Paz e Amor. Apesar da perfeita noção da pouca força que terá a afirmação, pelo desgaste vitorioso que promoveram as forças do status quo contra ela, ainda abro meus dedos em V, e grito a plenos pulmões: Faça amor, não faça a guerra!  Viva o movimento Hippie! Paz e Amor!

Sem comentários:

Enviar um comentário