domingo, 14 de junho de 2015

A invisível solidariedade europeia.




Vêm majoritariamente da Síria, Eritréia e do Sudão, os refugiados que acedem às costas italianas, mas que se destinam a outros países mais a norte por razões várias, entre elas, para muitos, a identidade linguística, porque alguns são francófonos, muitos anglófilos, e há quem fale o alemão, e encontraram as fronteiras fechadas, ficando reclusos em Itália.

A solidariedade maior para com esses homens, mulheres e crianças que fogem à guerra foi demonstrada pela Itália que os acolheu, e pelas populações com as quais contatam que não lhes recusa apoio, e a falta de solidariedade é demonstrada pela França, pela Suíça, pela Áustria e pela Alemanha, que logo fecharam suas fronteiras, vedando-lhes o acesso.

Entretanto a falta de solidariedade de que Vos falo é superiormente europeia, ou seja dentro desse grande sonho que se chama ainda Comunidade Europeia, a falta de solidariedade da Alemanha, da Áustria, da Suíça, da França, é, antes de tudo, para com a Itália, sua parceira europeia que ficou sozinha com o problema na mão, tendo estas pessoas a caminhar por suas estradas, cidades e ruas, como fantasmas perdidos, como os sem destino que são, tornaram-se invisíveis, os invisíveis mais visíveis, mais audíveis, mais palpáveis, que possam haver. Os que não se vêm, os que não se ouvem e os que não se tocam com a gravidade do problema, são os que fecharam suas fronteiras, afirmando silenciosa e invisivelmente: NÃO OS QUEREMOS AJUDAR!

Não só não querem ajudar a estes desgraçados que fogem da guerra, pretos na sua cor, cor que causa diferença entre brancos tão louros, tão bem vestidos, tão bem alimentados, com olhos tão azuis, não querem ajudar também a este antigo povo peninsular que há muito tempo dominou o mundo conhecido a ocidente, e que se vê a braços com um contingente crescente que chega às suas praias, às suas ilhas e portos.

A solidariedade europeia é invisível. É um elemento de retórica para cimeiras e outras reuniões do estilo. A prática, o dia a dia, a realidade, as unicas coisas que realmente importam, têm vazio do invisível, invisível que se reflete nesses que são ditos invisíveis, e que pervagam sem destino pelos caminhos de Itália.

Blá, blá, blá, versus acolher, numa atuação indesejada, tem sido a resposta. Papa Francisco foi a Lampedusa mostrar o caminho, e houve um certo refluxo de dignidade, mas como têm demonstrado com a Grécia, sua real solidariedade é a que surge à fórceps, motivada pelas conveniências. E que inconveniências maiores haverá com esses refugiados? Em qualquer caso essas nações souberam mostrar em vários momentos da história sua prontidão de resposta. Não me façam aqui relembrar-lhes em que momentos de sua história souberam dar respostas prontas, não ficarão a ganhar com isso. Deveriam antes, lembrando seu passado, persignarem-se e porem mão à obra com esses desgraçados que buscam uma vida melhor, e com os quais somos todos e cada um de nós responsáveis, pelo que fizemos ou deixamos fazer em seus territórios, direta ou indiretamente.

Esses que só falam, e para os quais tenho apontado meu dedo acusador, esses que não ouvem o pedido de socorro de tantos em momento de aflição, esses que não pegam na situação e dão-lhe destino e amparo, esses que não querem ver, por que não lhes convém ver, tornando invisível, não o que não querem ver, mas a si mesmos, pois, com isso, geram outra invisibilidade: A invisível solidariedade europeia!












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