terça-feira, 2 de junho de 2015

Os sofridos meninos do Huambo.





No interior do país, na altura onde estão na linha de costa o Lobito e o Benguela, fica uma extensa região (província) que atende pelo mesmo nome de sua capital: Huambo, que quis ser uma Nova Lisboa. Região dos ovibundos de língua Umbundo, uma  gente bonita, alegre, coquete mesmo, com um vestir muito garrido, multicolorido, feliz, reflexo de sua forma de estar na vida.

No Huambo vivem dois e meio milhões de pessoas em aproximadamente trinta e seis mil quilômetros quadrados, que têm todas as razões para serem felizes, pela causa primeira de serem alegres e viverem numa região que tem tudo para ser farta, e dentro de um país rico, riquíssimo mesmo.


Como em todos os lugares do mundo, há meninos no Huambo, meninos e meninas, que, na suas tradições de memórias tribais perdidas na bruma do tempo,  cantam e vibram suas histórias e suas vidas nos ritos de épocas que se repetem, o que não se podia repetir é a desgraça contra essa gente inocente.  Como com exatidão cantou Paulo de Carvalho, «Os meninos do Huambo fazem alegria Com fios feitos de lágrimas passadas» (a inversão é minha), lágrimas que nunca deviam ter rolado por suas faces feitas para a alegria e talhadas na medida de sua inocência.

Sua inocência foi violada muitas vezes, algumas com mais ênfase que outras, foi a UNITA, foi o MPLA, foram os governos, GURNs e não GURNs, foi Bicese e Lusaka, foram as chacinas, mas era a Guerra, a mais estúpida das guerras, a Civil, não que isto justifique chacinas, mas entende-se a excepcionalidade do momento e a desgraça da situação, o que é inaceitável é o que se passou agora.

Porém o que neste  dezesseis de Abril viu-se outra vez no Huambo, nova chacina, desigual em tudo, como todas as chacinas, mas mais grave, porque num país sem guerra, polícias chacinarem a população civil a pretexto de nada, ou sabe-se lá em que escuridão se esconde tal pretexto. Empetecados, diz-se no Brasil para uma sujeira agarrada, aí é caso talvez para dizer «enkalupetecados» em escuridão, porque não há luz no mundo que clareie essa sombra, nem limpeza que retire essa nódoa.  Entretanto é Direito inalienável das pessoas fazerem escolhas, mesmo que estas escolhas não sejam mais que perda de tempo, ou trabalho político mascarado, que sigam uma seita, ou acampem, ou dancem, ou cantem: Ninguém tem o direito de atacá-las, muito menos de matá-las.

O que se passou no monte do Sumé traz lembranças antigas de meninos que só queriam ser felizes, e que terão de enfiar suas lágrimas outra vez, para encarrilar suas vidas e reconquistar a sua alegria.








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