Praça Syntagma.
Meia noite. Está errado, esse dia não tem meia noite. Meia noite é o fim de um dia, e este dia não tem fim. Poderá ser zero hora de dia seis, dia de um novo começo, quando um povo, pisado, humilhado, ultrajado, ameaçado, esmagado, soube resistir. Essa é e sempre foi a lição grega, saber resistir para além de todas as probabilidades, para além de todas as possibilidades, criando outros horizontes inesperados, como fez com a Pérsia, nas Termópilas, nas guerras Médicas, e com a Macedônia, e com a própria Atenas imperialista, etc...
Essa a Grécia que deu lições ao mundo, que deu cultura ao mundo, que deu filosofia ao mundo, e que deu seus deuses como modelos de erros e acertos, para que o mundo aprendesse com esses erros e com esses acertos, não precisando os repetir. Agora que uma deusa sua anda meio baralhada, cometendo erros, blasfêmias e lançando misérias e desorientações, cumpre a velha Hélade, repor-lhe no caminho, tarefa ingrata, hercúlea, que só um semi-deus seria capaz de realizar.
Ao ouvir a voz de um povo inteiro, sinto a força de mil deuses, esses que sabem derrubar barreiras e criar possibilidades, mesmo sabendo que o peso de sua derrota é seu pescoço, é seu futuro, é sua própria possibilidade de existir. Só que hoje os deuses são outros, tendo no altar-mor um deus pagão, um pagão deus idólatra, que se adora, a nós pletora e a si os frutos da cornucópia só voltada para seu bem estar. Tendo assumido a plenitude do poder, esse deus cifrado, equivocado, pensa que pode tudo subtrair, omnívoro, e vive das inconsistências de seu multiplicar autogerador, pensando tudo abarcar. Irá morrer de si mesmo, de sua desumanidade, de sua potencialidade, de seu multiplicar, valendo tudo, não vale nada.
Entre seu servos e seus sacerdotes o senhores do mundo, todos engolfados na miséria dos números que o deus lhes deu, pensando não soluções em suas maquinações numéricas, em suas projeções financeiras, perdendo-se nelas, porque elas não são nada, não são gente, não são bicho, não são coisas, não são matéria, não são presente, não são passado, não são futuro sequer. São medidas de promessas que só se concretizam se os povos disserem sim.
Hoje os gregos disseram não! O futuro é amanhã!
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