Que conversas terão Eusêbio, D. Sofia e o Sr. General? Conversas de toda a vida, de todo o tempo agora que reunidos estão na mesma sala do panteão. Obtidas as graças de Santa Engrácia, o que é obra, obra que nunca acaba, assim como a santidade na visão de Agostinho de Hipona há que ser renovada todos os dias, porque Eusébio terá de continuar fazendo seus gols exímios, D.Sofia a falar-nos a alma com sua forma poderosa, e o General a enfrentar as circunstancias do seu momento, momento que não pode passar, passa, e certamente passa é a glória do mundo, esse estranho fenômeno fruto de vontades incongruentes.
Não estarão cristalizados no Panteão, não, porque o tempo que passa modificará sempre a perspectiva de cada um e de todos sobre a verdade de cada um, três verdades tão diversas que dará para as conversas da eternidade e sobram, mas que para a realidade encontrarão diversas dificuldades entre aqueles que o apreciarão. Aqueles que deverão deslindar a riqueza da escrita de D. Sofia, tarefa mais leve, porque a verve continua pujante com o fogo das palavras escolhidas e na matéria ígnea da interação destas, assim como do infalível rastilho.
Os dribles e passes e gols do jogador já serão, com o passar do tempo, mais distantes, mais reclusos, com menos lembranças, quando morrerem odos que presenciaram sua magia em campo, e depois aqueles que receberam o testemunho na primeira pessoa, mais longínquo ficará o acesso porque não será um abrir de livro seu que o restituirá, ou o ver um vídeo cuja emoção do momento estará subtraída pelo conhecimento antecipado do resultado, pela realidade perdida do contexto do momento.
As ações do general, que impôs sua presença num tempo de medo por não tê-lo, por desdenhá-lo, seus discursos, seus feitos, sua presença forte, registro de uma época, terá ficado nela recluso, necessitando evocação histórica, lembrança e conhecimento de tudo o que implicava ter feito o que fez, quando o fez, como o fez, apara revelar sua bravura, sua importância.
Esperando que conversem muito com esse encontro que agora se propiciou, que se renovem as palavras, as forças, as glórias e as vontades, e que quando o tempo, esse corruptor das vontades, destruidor das glórias, ladrão de forças, e mestre em empanar as palavras, tudo grisar definitivamente, haja quem do eterno baú das maravilhas que existiram retire de cada um seus feitos gloriosos e os rememorem às gerações futuras, para que esses lembrem-se do que foram aqueles, e porque lá estão à mercê de uma obra que nunca acaba, Engrácia viva no coração de Lisboa.
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